CIA HIATO 10 ANOS

Cia. Hiato comemora 10 anos de trajetória com uma mostra de repertório no Teatro João Caetano

Coletivo remonta as peças O Jardim, Odisseia, Cachorro Morto, Desmontagem Escuro, Ficção, 2 Ficções e Amadores

A premiada Cia. Hiato revisita os principais espetáculos de sua carreira para celebrar seus 10 anos de trajetória em uma mostra de repertório, em cartaz no Teatro João Caetano, entre 24 de janeiro e 24 de fevereiro de 2019. O projeto reúne os espetáculos Amadores (2016), Ficção (2012), 2 Ficções (2014), O Jardim (2011), Odisseia (2018), Cachorro Morto (2008) e Escuro (desmontagem) (2009/2018), além do documentário amadores.doc e lançamento da publicação “Projeto Ficção”.

Em Amadores (2016), a companhia reúne artistas profissionais e amadores de diversas áreas (selecionados por meio de anúncios em jornal e oficinas públicas) para criar uma reflexão sobre a relação do público com a arte e como o desejo por ela revela as histórias pessoais, os anseios e as falhas de cada um ­ a desesperança, a necessidade de companhia, a falta de pertencimento.

A peça volta-se às experiências teatrais mais comuns, como o evento comemorativo, a festa, a apresentação amadora de fim de ano, e as subverte, colocando-as em um espaço de artes. O espetáculo é um relato poético, mas também um manifesto artístico. Uma galeria de retratos vivos. Um passeio por histórias e contextos que poderiam nos separar, mas que se aproximam em cena. Um evento que almeja o estabelecimento (ainda que só poético, porque tão distante da experiência real) de um palco sem divisões.

O espetáculo Ficção (2012) é composto por seis monólogos, que serão apresentados dois a dois e em uma maratona com mais de seis horas. A partir de relatos biográficos de cada um dos atores – Aline Filócomo, Fernanda Stefanski, Luciana Paes, Maria Amélia Farah, Thiago Amaral e Paula Picarelli -, são criadas instalações dramatúrgicas e cênicas acerca de questionamentos sobre a necessidade de ficção e nossa impossibilidade de abandoná-la, dissecando em cena um processo cênico e expondo os limites (ou intersecções) entre vida e criação artística.

Centrados nas relações dos atores com seus familiares, os intérpretes apresentam depoimentos ficcionais em que as ideias de “intimidade” e “documento” são indissociáveis.  Os formatos de cada uma das intervenções variam de um monólogo biográfico até uma situação cênica com a presença dos pais e irmãos dos atores em tempo real. Os experimentos são dirigidos por Leonardo Moreira a partir da criação dos atores, com a colaboração de dramaturgos selecionados por meio de um grupo de pesquisa dramatúrgica.

Já a palestra-espetáculo 2 Ficções (2014) retoma os seis experimentos biográficos apresentados na peça anterior, agora emoldurados por uma nova situação ficcional: a apresentação de um espetáculo teatral não finalizado, a criação de uma peça inviável. A Cia. Hiato se coloca diante de realidades que a ficção não pode reparar: a proximidade da morte (um devaneio sobre o futuro) e aquilo que não retorna (uma tentativa de reparar o passado).  Assim, duas ficções convivem: o que foi e o que poderia ter sido são vistos paralelamente, por meio de cenas inacabadas. A presença do diretor em cena, em uma espécie de depoimento-palestra, reforça a metalinguagem do espetáculo e evidencia essa dupla ficção.

Sucesso absoluto de público e de crítica, a premiada O Jardim (2011) cria uma reflexão sobre os diferentes tipos de memórias a partir de um estudo sobre a doença de Alzheimer e as experiências pessoais do elenco. A peça se conecta ao público por meio de uma narrativa múltipla, reinventada pela reapropriação de episódios clássicos da literatura.

Três histórias pertencentes a tempos diferentes se cruzam, se sobrepõem e se chocam para formar uma paisagem a ser contemplada pelo espectador: um jardim que une as memórias que perdemos, as memórias que não podem ser apagadas e ainda aquelas que imaginamos.

A encenação mais recente do coletivo, Odisseia (2018) mistura o universo mitológico do clássico poema épico de Homero com a história dos atores da peça. Como rapsodos antigos, os intérpretes recontam odisseias pessoais e coletivas, oscilando entre realidade e fantasia. A experiência viva de narrativas marginais à Odisseia desafia tanto as dicotomias ficção/realidade, público/privado quanto borra a polaridade ator e espectador. A partir da tão conhecida história de um homem que deixou seu lar e seu coração para lutar uma guerra e acabou por vagar por 10 anos tentando voltar para casa, a Cia Hiato convida o público a tomar o lugar do protagonista ausente, Odisseu, e navegar por diferentes ilhas.

Os sete atores desenlaçam memórias, dúvidas e sonhos a partir dos personagens e narrativas do épico grego: o abandono de Telêmaco; a rejeição de Calipso; o corpo de Circe; a violência estratégica de Atena; o fogo de Héstia; a espera de Penélope. Uma viagem a um só tempo íntima e grandiosa; o encontro entre o ridículo da nossa vida ordinária e a força mítica das histórias que ainda tentam nos explicar. Porque, depois de tudo dito e feito, podemos igualmente ser ordinários e míticos.

Trabalho de estreia da Cia. Hiato, Cachorro Morto (2008) faz colidir perspectivas à medida que mergulhamos no pensamento de um jovem portador da Síndrome de Asperger, uma forma de autismo. Ao multiplicar o protagonista pelos corpos dos cinco atores, a cena cria uma narrativa que envolve a plateia ao convidá-la para conhecer um universo singular. Mais do que entender o transtorno psiquiátrico, o espetáculo quer aproximar os espectadores de um mundo visto por um olhar e lógicas diferentes e outras relações afetivas.

Por fim, Escuro (desmontagem) (2009/2018) mostra o encontro entre vários personagens ameaçados pela chuva e prestes a compartilhar uma pequena tragédia. Um menino míope, com uma estranha capacidade de ouvir segredos, passa suas tardes mergulhando na piscina de um clube. Uma senhora recebe a costureira para aulas de natação – sem uma piscina, elas se usam pequenas tigelas cheias de água. Um homem convive com a perda da fala enquanto ensaia seu discurso e aquários vazios. Uma professora prepara sua aluna para um torneio de Natação para deficientes.

A montagem cria uma teia de histórias paralelas para refletir, por meio de estranhamentos bem-humorados, sobre a inadequação, outras formas de percepção da realidade, outras perspectivas sobre o cotidiano e outras estratégias de comunicação entre as pessoas. Todas essas figuras são unidas pela perda da linguagem e outras fragilidades. Em 2018, a Cia Hiato retoma o espetáculo – não para remontá-lo, mas para dissecar seu processo criativo – uma desmontagem – diante da plateia.

SOBRE A CIA. HIATO

A prestigiada Cia Hiato nasceu em 2007, a partir da criação do espetáculo Cachorro Morto (2008), várias vezes premiado, que projetou o nome de Leonardo Moreira como um dos novos autores de destaque da cena paulista.  Em 2009, o grupo encenou Escuro (2009), vencedor do Prêmio Shell de Teatro e do Prêmio da CPT – Cooperativa Paulista de Teatro. Sua terceira montagem foi a bem-sucedida O Jardim (2010), apresentada em várias cidades no Brasil e no Mundo, como Nova York, Washington DC, Atenas, Santiago, Bogotá, Dresden e Frankfurt, e venceu os prêmios Governador do Estado de São Paulo, Shell, APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e CPT – Cooperativa Paulista de Teatro.

Entre 2011 e 2014, a companhia se debruçou sobre o “Projeto Ficção”, que resultou na peça Ficção (2012), vencedora do Prêmio Questão de Crítica e indicada ao Prêmio Shell, e na palestra-espetáculo 2 Ficções (2014), que estreou no KunstenFestivaldesArts, em Bruxelas. Depois desses trabalhos, a Cia Hiato retorna à cena paulista com uma nova abordagem: deixa de lado o depoimento pessoal para olhar o outro, aquele que normalmente é excluído do palco ou que só aparece nele como representação ou discurso. O resultado desta incursão criativa foi o espetáculo Amadores (2016), eleito o melhor espetáculo do ano pela revista Veja São Paulo e indicado ao Prêmio APCA de melhor direção.

Em comemoração a seus 10 anos de trajetória, o coletivo se debruçou no clássico poema de Homero e associou-o a experiências pessoais de seu núcleo criativo para criar o espetáculo Odisseia (2018). O espetáculo foi indicado ao Prêmio Shell, na categoria “Inovação” e foi eleito o melhor espetáculo do ano, segundo a Folha de S. Paulo.

SERVIÇO
Cia Hiato – 10 anos – Mostra de repertório
Teatro Municipal da Vila Mariana João Caetano – Rua Borges Lagoa, 650, Vila Clementino
De 24 de janeiro a 24 de fevereiro
Informações: (11) 5573-3774 / 5549-1744

Amadores (2016)
Temporada: 24 a 27 de janeiro, na quinta-feira, às 20h; na sexta e no sábado, às 16h e às 20h; e no domingo, às 19h. No dia 27, há projeção grátis do vídeo documentário “amadores.doc” às 16h
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)
Duração: 150 minutos

Ficha Técnica
Criação coletiva da Cia. Hiato. Elenco: Aline Filócomo, Aura Cunha, Chicão Paraizo, Dalva Cardoso, Dom Lino, Fabi de Farias, Fernanda Stefanski, Giovanni Barontini, Leonardo Moreira, Loupan, Luciana Paes, Márcia Nishitani, Maria Amélia Farah, Marisa Bentivegna, Maurício Oliveira, Miguel Caldas, Nairim Bernardo, Nsona Kiaku Arão Isidoro Jorge, Oswaldo Righi, Paula Picarelli, Roberto Alves, Ronaldo de Morais, Rose Sforcin, Thiago Amaral e Yumi Ogino.

Ficção (2012)
Temporada: 31 de janeiro a 3 de fevereiro, de quinta a sábado, às 20h (2 monólogos); e no domingo, das 16h às 22h30 (maratona). No dia 3 de fevereiro, às 15h.
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)
Duração: 2 monólogos: 150 minutos | Maratona: 390 minutos

Ficha Técnica
Direção e dramaturgia: Leonardo Moreira (cada ator é também autor de seu solo). Elenco: Aline Filócomo, Fernanda Stefanski, Luciana Paes, Mariah Amélia Farah, Thiago Amaral e Paula Picarelli. Produção e Colaboração Criativa: Aura Cunha. Colaboradores: Dilson do Amaral e Milena Filócomo. Direção de Arte (Cenário e Desenho de Luz): Marisa Bentivegna. Assistência de Cenografia: Ayelén Gastaldi e Julia Saldanha. Figurinos: João Pimenta. Trilha Sonora Original (Ficção): Kuki Stolarski. Núcleo de Dramaturgia: André Felipe, Diogo Spinelli, Mariana Delfini, Michelle Ferreira, Rafael Gomes e Thompson Loiola. Fotos: Otávio Dantas e Ligia Jardim. Vídeos: Ricardo Sêco. Assistente de Produção: Yumi Ogino. Produção Geral: Elephante Produções Artísticas.

Palestra-espetáculo 2 Ficções (2014)
Apresentação: 3 de fevereiro, domingo, às 15h
Ingressos: grátis
Duração: 60 minutos

Ficha Técnica
Direção e dramaturgia geral: Leonardo Moreira, com fragmentos de “A Gaivota”, de A. Tchekhov, e “Reparação”, de I. McEwan. Atores-criadores: Aline Filócomo, Fernanda Stefanski, Mariah Amélia Farah, Thiago Amoral e Paula Picarelli. Direção de Produção & Assistente de direção: Aura Cunha. Cenografia, Espaço Cênico e Desenho de luz: Marisa Bentivegna. Música Original: Marcelo Pellegrini. Figurinos: João Pimenta. Assistente de produção: Yumi Ogino. Contrarregragem: Cezar Renzi. Fotos e vídeos: Otávio Dantas. Operação de Som: Dug Monteiro. Produção Musical: Studio Surdina. Co-Produção: KunstenFestivaldesArts.

O Jardim (2011)
Temporada: de 7 a 10 de fevereiro, de quinta a sábado, às 20h; e no domingo, às 19h
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)
Duração: 90 minutos

Ficha Técnica
Dramaturgia e Direção: Leonardo Moreira. Elenco: Aline Filócomo, Fernanda Stefanski, Luciana Paes, Maria Amélia Farah, Paula Picarelli, Thiago Amaral e Edison Simão (ator convidado). Coordenadora de Produção/Gestão: Aura Cunha. Assistência de Direção: Amanda Lyra. Cenário e Desenho de Luz: Marisa Bentivegna. Assistente de Cenografia: Ayelén Gastaldi e Cezar Renzi. Música Original: Marcelo Pellegrini. Figurinos: Theodoro Cochrane. Objetos Cênicos: Victor Merseguel. Efeitos Especiais: Pepe Scrofft. Fotos e vídeos: Otávio Dantas. Criação Gráfica: Cassiano Tosta – DGRAUS. Produção executiva: Yumi Ogino.

Odisseia (2018)
Temporada: de 15 a 17 de fevereiro, na sexta, às 19h; e no sábado e noo domingo, às 18h.
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)
Duração: 270 minutos

Ficha Técnica
Livremente inspirado em “A Odisseia”, de Homero. Direção: Leonardo Moreira. Escrito por: Aline Filócomo, Aura Cunha, Fernanda Stefanski, Leonardo Moreira, Luciana Paes, Maria Amélia Farah, Paula Picarelli e Thiago Amaral. Elenco: Aline Filócomo, Aura Cunha, Fernanda Stefanski, Luciana Paes, Maria Amélia Farah, Paula Picarelli e Thiago Amaral. Assistência de Direção e Codireção: Aura Cunha e Luciana Paes. Dramaturgismo: Mariana Delfini. Iluminação e Cenografia: Marisa Bentivegna. Direção Audiovisual e Arte Gráfica: Laerte Késsimos. Trilha Sonora: Miguel Caldas. Figurinos: Chris Aizner. Objeto de Cena (Argos), Operação de Vídeo e Assistência de Palco: Cezar Renzi. Voz em off (Penélope – grego): Angeliki Papoulia. Voz em off (Odisseu – espanhol): Sebastian de la Cuesta. Fotos: Elina Giounanli e Ligia Jardim. Registro em Vídeo: Ricardo Sêco. Direção de Produção: Aura Cunha. Produção Executiva: Yumi Ogino. Produção Internacional: Ligne Directe, Judith Martin e Marie Tommasini. Coprodução: Sesc São Paulo; Onassis Cultural Centre – Atenas/Grécia; Mousonturm – Frankfurt/Alemanha; Grand Theatre – Groningen/Holanda; ProAC – Governo do Estado de São Paulo; Fomento ao Teatro – Prefeitura Municipal de São Paulo. Idealização: Cia. Hiato e Elephante Produções Artísticas.

Cachorro Morto (2008)
Temporada: de 22 a 24 de fevereiro, na sexta e no sábado, às 20h; e no domingo, às 19h.
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)
Duração: 60 minutos

Ficha Técnica
Livremente inspirado em “The Curious Incident of the Dog in the Night-time”, “Nascido num Dia Azul”, de Daniel Tammet e “A Música dos Números Primos”, de Marcus du Sautoy. Direção e Dramaturgia: Leonardo Moreira. Elenco: Aline Filócomo, Fernanda Stefanski, Luciana Paes, Mariah Amélia Farah, Thiago Amaral e Joaquim Lino. Concepção de Cenário: Leonardo Moreira. Iluminação: Marisa Bentivegna. Figurinos: Willy. Trilha Sonora: Gustavo Borrmann. Coordenação de produção/Gestão: Aura Cunha.

Escuro (desmontagem) – (2009/2018)
Temporada: de 22 a 24 de fevereiro, na sexta e no sábado, às 18h; e no domingo, às 17h.
Ingressos: grátis, distribuídos uma hora antes de cada sessão
Duração: 60 minutos

Ficha Técnica
Uma criação da Cia Hiato em parceira com a Cia. Simples de Teatro. Direção e Dramaturgia: Leonardo Moreira. Elenco: Aline Filócomo, André Blumenschein, Amanda Lyra, Daniela Duarte, Fernanda Stefanski, Flávia Melman, Luciana Paes, Mariah Amélia Farah, Otávio Dantas, Thiago Amaral. Cenário: Marisa Bentivegna e Leonardo Moreira. Assistente de Cenografia: Ayélen Gastaldi. Iluminação: Marisa Bentivegna. Figurinos: Theodoro Cochrane. Libras (Língua Brasileira de Sinais): Sônia Oliveira. Coordenação de projeto/ Gestão: Aura Cunha.