PASSAGEIRO

Dois dentre os maiores nomes do improviso mundial, o brasileiro César Gouvêa e o colombiano Gustavo Miranda comemoram 10 anos de parceria em Passageiro

Com estreia marcada para 3 de novembro, no Teatro Cacilda Becker a peça também marca os 15 anos da Cia. do Quintal, uma das pioneiras e a precursora da linguagem do improviso no País, conhecida por investigar o diálogo entre a arte da improvisação e a linguagem do palhaço

 Fotos de Alberto Lyra

 

Encontros capazes de mudar para sempre a vida das pessoas são o ponto de partida de Passageiro, que celebra a primeira década da parceria criativa entre o palhaço brasileiro César Gouvêa, fundador da Companhia do Quintal, e o dramaturgo e ator colombiano Gustavo Miranda, ambos precursores da linguagem do improviso nos seus respectivos países. Passageiro é um aprofundamento na pesquisa do improviso tão trabalhada por César e Gustavo. Desta vez, os atores inovam a linguagem trazendo estruturas de teatro, com personagens fixos, mas com dramaturgia improvisada.

A amizade entre esses dois mestres internacionais do improviso é justamente o foco do prólogo do espetáculo, que explica ao público como surgiu a encenação por meio de trechos de conversas telefônicas e das trocas de e-mails entre eles. O tema Encontro permeia toda a montagem. O relacionar-se, deixar-se transformar pelo outro, viver realmente as consequências de um encontro e aprofundar o olhar para o outro são as guias da dramaturgia criada em cena pelos atores.

O improviso começa a partir do encontro entre os dois primeiros dos seis personagens que foram criados por Gouvêa e Miranda ao longo dos 10 anos de parceria. As três histórias divididas em nove cenas transitam entre o belo e o sinistro para falar sobre situações capazes de transformar o destino dos personagens, que têm liberdade para assumir a relação que quiserem, falarem o que quiserem, tornando cada espetáculo único.

As nove cenas são delicadamente acompanhadas por música ao vivo, interpretadas por Andrés Giraldo (Colômbia) e Cimara Fróis.

Passageiro é o grande exemplo de como a cia do quintal ao longo dos 15 anos de trabalho investigou e vislumbrou outras possibilidades de lidar com a improvisação, sem a necessidade estética de um ambiente de competição ou baseados em jogos de improvisação propriamente ditos.O ambiente de competição é deixado de lado como no conhecido e consagrado espetáculo da cia Jogando no Quintal. Entretanto, o jogo não deixa de estar fortemente presente, conforme detalha o diretor. Ficamos aí com a essência do teatro. Que é a do jogo teatral. Um jogo de escuta, de vulnerabilidade, que propõe a transformação através dos encontros. É nisso que se baseia Passageiro. Em dois atores. Vulneráveis. E dispostos a jogar para fazer teatro. É isso que o público irá ver. Dois atores brincando de criar na hora as relações e a dramaturgia”, frisa Gouvêa.

É neste aspecto que Gouvêa e Miranda continuam pioneiros, pois desta vez o foco do improviso é o texto, as outras camadas do teatro como os personagens são fixos.

Durante esse longo processo de pesquisa, eles realizaram três espetáculos anteriores – “La Cocina”, “El Pasajero” e “Passageiros” -, todos com estéticas, enredos, e modos de improvisar diferentes, mas os personagens foram sendo construídos durante esta trajetória tornado os três espetáculos  parte da mesma pesquisa , mas em momentos diferentes .  Em “La Cocina”, por exemplo, a improvisação fez parte apenas do processo criativo, e, a partir de “El Pasajero”, essa linguagem foi incorporada ao espetáculo até chegar em Passageiro nesta forma inovadora de fazer dramaturgia.

Para que os personagens possam desenvolver relações mais complexas e diálogos mais elaborados, os atores partem de situações e locais definidos. “Nos apoiamos em uma estrutura mais definida para podermos construir relações mais profundas no palco. É isso que aproxima Passageiro de uma experiência mais ligada ao teatro. Nessa medida, a improvisação torna-se um meio para o fazer teatral e para celebrar esses encontros”, completa o artista brasileiro.

A encenação também tem forte influência das linguagens do palhaço, da dramaturgia do ator e das máscaras, que foram criadas por Elisa Rossin.

10 anos de encontros
Para que Gustavo Miranda e César Gouvêa chegassem a este espetáculo, foram necessárias muitas idas e vindas desde o dia em que eles se encontraram pela primeira vez, no Festival Internacional de Improvisação em São Paulo, em 2007. Nos cinco primeiros anos de parceria, eles moravam em países diferentes.

Durante esse longo processo de pesquisa, eles realizaram três espetáculos anteriores – “La Cocina”, “El Pasajero” e “Passageiros” -, todos com estéticas, enredos, personagens e modos de improvisar diferentes. Em “La Cocina”, por exemplo, a improvisação fez parte apenas do processo criativo, e, a partir de “El Pasajero”, essa linguagem foi incorporada ao espetáculo.

Agora, em “Passageiro”, o foco é o desenvolvimento dos diálogos e monólogos. Dessa maneira, os encontros não estão mais a serviço de uma história que será contada; cada passagem é uma história em si, que concentra toda dramaticidade, densidade, poesia, beleza e amor.

Sinopse
Três histórias que se cruzam em nove cenas improvisadas acompanhadas por música ao vivo. Encontros recheados de humor que também transitam entre o belo e o sinistro da vida. Cenas que falam das passagens que podem mudar o rumos de nossas vidas. A cada apresentação, cada um desses seis personagens (que foram construídos ao longo desses 10 anos de encontro entre Gouveia e Miranda) tem a liberdade de terem a relação que quiserem ter. De falar o que quiserem falar. De criar sempre um espetáculo novo. Que nunca aconteceu e que nunca irá se repetir.

GUSTAVO MIRANDA
Mestre em Artes Representativas e magister em Dramaturgia e Direção pela Universidad de Antioquia, na Colômbia, o ator e dramaturgo Gustavo Miranda é referência na técnica Impro em seu país de origem e já escreveu mais de dez peças. Lá, fundou a companhia Acción Impro, que, ao longo de seus 16 anos de carreira, participou de importantes festivais na Argentina, México, Espanha, Equador, Chile e Brasil. O artista também já ministrou workshops de improvisação e teatro em todos esses países.

Atualmente, Miranda é treinador e ator da Cia. Barbixas no espetáculo “Improvável” e integra o elenco da peça “Portátil”, do Porta dos Fundos. Também já participou de alguns vídeos para o canal que este coletivo mantém no YouTube. Ainda no Brasil, dirigiu as montagens “Let’s Duet – Homenagem a Malitchevsky” e “Pedaços” e a pesquisa “Histórias da Fractávia”. Na Colômbia, dirigiu e escreveu “Hambre”.

CÉSAR GOUVÊA
Ator, diretor, improvisador, palhaço e professor, César Gouvêa é fundador da Cia. do Quintal e criador/diretor do espetáculo “Jogando no Quintal”, que está em circulação há 15 anos. Foi professor no Diplomado Internacional de Improvisação com ênfase em Clowns, da Universidad El Bosque de Bogotá, na Colômbia, e ganhou o Mundial de Match de Improvisação, realizado na mesma cidade, em 2008.

Gouvêa integrou durante 9 anos o elenco dos Doutores da Alegria e participou do documentário sobre o grupo. Já ministrou cursos na Espanha, Peru e Uruguai e atualmente é professor e coordenador da Escola do Quintal, na sede de sua trupe. Além disso, atua nas séries “3%”, da Netflix, e “Zoo da Zu”, do canal Discovery Kids.

CIA. DO QUINTAL
Com 15 anos de estrada, a Companhia do Quintal é uma das poucas no mundo a pesquisar o diálogo entre a arte da improvisação e a linguagem do Palhaço. A trupe, que surgiu do espetáculo “Jogando no Quintal”, visto por mais de 500 mil espectadores, tem outras oito peças em seu repertório, entre elas “A Rainha Procura” (que recebeu os prêmios FEMSA e APCA em 2014 e foi eleita pelo Guia Folha como o melhor espetáculo daquele ano), “QFC – Batalhas Improvisadas”, “O Maestrino”, “Histórias Descubiertas” e “O Mágico de Nós”. No Brasil, o grupo é pioneiro no teatro de improviso e o principal representante do país nessa linguagem em festivais na América Latina e Europa.

SINOPSE
Com dramaturgia improvisada, “Passageiro” fala sobre encontros – sobretudo entre o palhaço brasileiro César Gouvêa e o dramaturgo colombiano Gustavo Miranda, que mantêm uma parceria criativa há 10 anos. A peça começa com um prólogo sobre o relacionamento entre os artistas, com trechos de conversas telefônicas e trocas de e-mails. Em seguida, nove cenas improvisadas apresentam histórias de três pares de personagens criados por Gouvêa e Miranda ao longo desse tempo. Acompanhados por música ao vivo, esses encontros transitam entre o belo e o sinistro da vida e tratam de episódios capazes de mudar o destino de qualquer pessoa. A cada sessão, os personagens têm a liberdade para ter a relação que quiserem em cena.

FICHA TÉCNICA
Concepção , Direção e atuação : César Gouvêa (Brasil) e Gustavo Miranda (Colômbia)
Música ao vivo : Andrés Giraldo (Colômbia) e Cimara Fróis
Personagem Contrarregra: Leandro Costa
Iluminação: Rafael de Sá
Figurino: Daniel Infantini
Confecção de narizes e treinamento de máscara: Elisa Rossin
Produção Executiva: Beto Souza
Projeto gráfico: Pedro Truzsko
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção e realização: Cia. Do Quintal
Fotos: Alberto Lyra

SERVIÇO
“Passageiro”, de César Gouvêa e Gustavo Miranda.
Onde – Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295 – Vila Romana – São Paulo
Temporada: de 3 novembro a 26 de novembro.
Às sextas e sábados às 21h e domingos às 19h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Duração: 70 minutos
Classificação: 12 anos
Lotação: 198 lugares