SOLIDÃO
SOLIDÃO reestreia no Galpão do Folias dia 4 de novembro
Depois de temporada do SESC Santana, a peça emenda temporada na sede da Companhia. Espetáculo do Grupo Folias busca inspiração no realismo mágico e na história política recente para recriar uma América Latina mágica e dolorida
Dirigida por Marco Antonio Rodrigues, com dramaturgia de Sergio Roveri e elenco de 12 atores que também se revezam em números musicais, o espetáculo Solidão reestreia no dia 4 de novembro no Galpão do Folias.
Ao longo da história, poucos foram os gêneros literários capazes de estabelecer com determinada região geográfica uma ligação tão umbilical como a que se consolidou entre o realismo mágico e a América Latina da segunda metade do século passado.
Pelas mãos de autores como o colombiano Gabriel García Márquez e os argentinos Julio Cortazar e Jorge Luis Borges, o continente sul-americano pôde exibir ao mundo um cartão de visitas suficientemente espaçoso para acomodar tanto a magia e os mistérios da região quanto suas injustiças e mazelas. Foi neste contexto literário, em que os acontecimentos do cotidiano insistem em desobedecer a qualquer ordem lógica, que o grupo Folias encontrou inspiração para seu mais recente trabalho.
A partir de uma sequência de cenas que se prestam a compor uma narrativa homogênea, mas que também podem ser compreendidas em suas potências individuais, Solidão mostra as transformações sofridas pelos moradores de um pequeno vilarejo, esquecido no tempo e no espaço, após a chegada de forasteiros com suas malas cheias de progresso e também de destruição.
A peça expõe o choque entre duas culturas: a nativa, não necessariamente inocente e ingênua, e a estrangeira, curiosa e extrativista, bem como os desdobramentos deste encontro nas relações de amor, poder e fraternidade. “Solidão é a fratura artística e cênica, resultante de um estado permanentemente febril que coloca o sujeito sempre entre duas pulsões antagônicas absolutamente complementares e paradoxalmente excludentes”, afirma o diretor Marco Antonio Rodrigues, que cita como exemplo desta tese o desejo que toda a sociedade brasileira tem de acabar com a corrupção e ao mesmo tempo a prática deste esporte por todos, no dia-a-dia e nas coisas mais comezinhas.
“Para não ser tão abstrato e idealista: o desejo de amar e o impedimento de fazê-lo por medo do outro, da aventura, do desconhecido. O desejo de ter voz, de se fazer ouvir, de afirmar uma identidade emparelhado à submissão a tudo que brilha, a tudo que é estrangeiro e supostamente original”, prossegue o diretor, para quem o espetáculo não está preso a um período específico da história do continente. “Os fatos recentes ocorridos em grande parte dos países latino-americanos comprovam que a história retratada em Solidão continua a ser escrita, às vezes com tintas carregadas”.
O espetáculo traz no elenco os atores Ailton Graça, Bete Dorgam, Nani de Oliveira, Simoni Boer, Joana Mattei, Suzana Aragão, Rafaela Penteado, Lui Seixas, Pedro Lopes, Rodrigo Scarpelli, Rafael Faustino e Clarissa Moser – alguns deles se revezando em um incontável número de personagens. Todo o elenco se entrega, também, à execução de uma eclética partitura musical desenvolvida especialmente para o espetáculo pela musicista e cantora Sonia Goussinsky e pelo ator Rafael Faustino.
Ainda que a literatura, especificamente os romances clássicos do realismo mágico, se encontre na base da inspiração para o espetáculo, o que o grupo Folias pretende com Solidão é desviar um pouco o olhar das páginas literárias e apontá-lo para uma América Latina real, este continente em que a magia e o fantástico vêm sendo, nos últimos anos, atropelados por uma realidade com pouca vocação para o lirismo. Por isso mesmo, os personagens desta história se revelam eternamente reféns de conflitos políticos, rixas familiares, amores improváveis e de uma inegável incapacidade de compreender e traduzir os dias que correm.
“Entre todos os temas que o espetáculo aborda, e eles são inúmeros, eu diria que o mais marcante deles é a impossibilidade – em todas as suas formas”, diz o dramaturgo Sérgio Roveri, que assina o texto do espetáculo. “A impossibilidade de um convívio harmonioso, a impossibilidade de desenhar uma outra história para si próprio, a impossibilidade de transformar o sonho em matéria-prima real para a vida. Mas isso, a meu ver, não é sinônimo de infelicidade ou tristeza, é apenas a constatação de que o ser humano é um projeto que segue inacabado”.
No espetáculo, a figura de um narrador, o cigano Chema, papel do ator Ailton Graça, irá conduzir praticamente todas as histórias – que serão vividas no tempo exato em que estiverem sendo narradas, com uma engrenagem cênica que pode transitar, intencionalmente, do sublime ao caos, do poético ao revolucionário, do divino ao comezinho. Porque Solidão não é um espetáculo obediente às regras do realismo: seus personagens são dotados de artifícios para driblar a morte e vencer o tempo, para depois, por que não, sucumbir à prosaica picada de um mosquito – já que os trópicos são o único personagem presente em todas as cenas – como um maestro regendo a história com suas ondas de calor, suas tempestades bíblicas, suas doenças persistentes e seu passado de desigualdade que não se conforma em ser apenas isso, um passado.
A ideia central de Solidão é explorar situações extremas de nascimento e morte, com personagens condenados a erigir a história numa cena para destruí-la na cena seguinte. Como se todo o continente sul-americano não passasse de um gigantesco Sísifo, condenado a carregar uma pedra colossal até o topo de sua famosa cordilheira, os Andes, apenas para observá-la rolar montanha abaixo no fim do dia. Solidão é um duelo eterno, um embate entre o homem e a natureza, entre o homem e o seu próximo e, o mais sangrento deles, entre o homem contra si mesmo.
SINOPSE
A chegada de um cigano imortal, que abre caminho para a vinda de uma onda de forasteiros, vai provocar mudanças irreversíveis na vida dos moradores de um vilarejo perdido no tempo e no espaço, onde todos os acontecimentos, até mesmo a morte, obedecem a uma lógica muito particular
Ficha Técnica
Direção: Marco Antonio Rodrigues
Dramaturgia: Sérgio Roveri
Elenco: Ailton Graça, Bete Dorgam, Clarissa Moser, Joana Mattei, Lui Seixas, Nani de Oliveira, Pedro Lopes, Rafael Faustino, Rafaela Penteado, Rodrigo Scarpelli, Simoni Boer, Suzana Aragão.
Dramaturgista: Gustavo Assano
Desenho de Luz: Tulio Pezzoni
Composição e Direção Musical: Sonia Goussinsky e Rafael Faustino
Canção Os Reis do Agronegócio: música de Chico César, letra de Carlos Rennó
Movimento Cênico: Joana Mattei
Cenografia e Figurino: Sylvia Moreira
Design Gráfico: Humberto Vieira
Fotografia: Lenise Pinheiro
Assistente de Cenário e Figurino: Sofia Fidalgo
Pintura Artística de Telões: Fernando Monteiro de Barros
Criação de máscaras: Carlos Francisco
Adereços: Luis Carlos Rossi
Costureiro: Otávio Matias
Cenotécnicos: Carlos Ceiro, João Donda
Operador de Som: Adriano Almeida
Contra-Regragem: Marcelo Machado e Giovanna Kelly
Direção de Produção: Ricardo Grasson
Produtor Executivo: Tomás Souza
Produção Geral: Gelatina Cultural
Administração do Projeto: Folias – Dagoberto Feliz e Paloma Rocha
Coordenação de projetos e leis : Patricia Palhares
Coordenação Administrativa: Olivia Maciel e Felipe Costa
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Estagiários: Carlos Marcato, Isabela Fikaris, Fhelipe Chrisostomo, Táiná Viana
Realização: Folias – Projeto Contemplado pela 27ª Edição da Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo e SESC São Paulo.
Serviço
Galpão do Folias: Rua Ana Cintra, 213
Restreia 04 de novembro, sexta–feira às 21h
Temporada: sexta e sábado às 21h e domingos às 18h
Ingressos: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia)
Telefone: 3361-2223
Censura: 14 anos
Gênero: latino
Capacidade: 90 lugares
Até 18 de dezembro