A ÚLTIMA DANÇA

Natalia Gonsales volta em cartaz com monólogo inspirado em diário de escritora e filósofa francesa

 19 de setembro a 14 de novembro
Segundas-feiras às 21h

Espetáculo solo A Última Dança é inspirado no diário de Simone Weil “Expérience de la vie d’usine” (“Vivendo a vida da fábrica”) e nas pesquisas publicadas por Eclea Bosi (“Simone Weil – A condição operária e outros estudos sobre a opressão”)

Fotos de Carla Trevizani

Simone Adolphine Weil (1909 – 1943) foi uma escritora e filósofa francesa, que se tornou operária para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Natalia Gonsales leva ao teatro os escritos desta francesa, que narram sua vida na fábrica e resistência às guerras e à força. A encenação foi toda construída a partir de seus relatos e cartas. A Última Dança reestreia no Viga Espaço Cênico dia 19 de setembro para temporada até 14 de novembro.

O dramaturgo, diretor, coordenador do Núcleo de Dramaturgia do SESI, César Baptista é o responsável pela dramaturgia e adaptação do diário de Simone para o teatro.  Em cena a atriz e algumas máquinas de linha de produção – que fazem parte do cenário assinado pelo cenógrafo, ator e diretor Flávio Tolezani.

A trilha é composta por ruídos das correias e barulhos de macetadas. Outras manifestações sonoras do ambiente fabril são transformadas em músicas compostas pelo premiado compositor Daniel Maia. A luz desenhada por Igor Sane é responsável pela atmosfera dura e fria de uma fábrica e pela mudança de temperatura ambiente que os operários eram/são submetidos (“o frio vivido pelos operários era capaz de paralisar os movimentos, enquanto que o calor era opressivo” – Simone Weil).

“Como é possível essa mulher com mãos pequenas demais para o corpo ter se transformado em operária? Através dessa vivência, Simone deixou uma espécie de diário relatando o seu dia a dia numa fábrica: a fome, o calor do forno, as labaredas, o barulho terrível da caldeiraria, os acidentes, as doenças, as ordens, o medo, o ritmo crescente do trabalho, o esgotamento, o envelhecimento, a infelicidade, o emburramento. Segundo Simone, a ordem imposta pela força exige que seja preciso calar e obedecer fazendo com que o pensamento se dobre sobre si. As greves, os pensamentos retraídos, o cansaço, a tragédia grega no cotidiano do povo, o esmagamento da minoria, as relações de força na história que geram a opressão até os dias de hoje são temas que ela pensou, escreveu de maneira audaz e que são abordados nessa encenação”, comenta Natalia Gonsales.

Um pouco sobre Simone Weil
Nascida em 1909 em Paris, filha de médicos judeus, Simone Weil aluga um pequeno cômodo perto de uma fábrica aos vinte e poucos anos. Despede-se de seus pais, amigos e do ensino da filosofia para trabalhar nas linhas de produção com o objetivo de analisar a condição operária e a opressão social. Para ela, não é possível entender a realidade dos trabalhadores sem viver junto a eles. Formada em filosofia pela Sorbonne, foi a primeira mulher catedrática da França. Era a discípula predileta do filósofo Alain, formada em completo agnosticismo, apaixonada pelo tema da condição humana no mundo do trabalho.

Lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos, e na Resistência Francesa, em Londres; por ser bastante conhecida, foi impedida de retornar à França como pretendia; acometida de tuberculose, não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis pelos tickets de racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar aos 34 anos de idade.

A ÚLTIMA DANÇA por Por Natália Gonsales
Dedico este espetáculo ao meu irmão Marco Antonio Gonsales. Um homem de coragem, capaz de seguir caminhos diferentes da grande massa, capaz de “GRITAR” e de aguentar o barulho provocado, capaz de catar os cacos de vidro que estouram para colar novamente.

E na arte? Quando optamos por ela, não estamos seguindo um caminho diferente? Acredito que a resposta deveria ser sim, porém nem sempre é. O homem, o artista deveria ter o sentimento da apropriação: “Nada mais forte para o homem que a necessidade de se apropriar pelo pensamento. Uma cozinheira diz: minha cozinha.” Palavras de Simone Weil. E um ator? Não deveria se apropriar do espaço, ou seja, do teatro? Porém, muitas vezes somos vistos apenas como uma unidade de força de trabalho, sem voz e que esta ali apenas para executar: “Cale-se. Você é apenas uma atriz.”

Porém, nessa minha pequena trajetória artística, me senti muitas vezes calada, onde o pensamento morre, o corpo se curva ao poder, ao dinheiro e principalmente ao sistema. Acredito que somos educados a esperar, receber ordens, calar, executar. Aguentar tudo em silêncio. Mas se escolhemos viver não podemos ter medo do grito. Nesse caso, o que diferencia um artista de um operário que não sabe o que produz, logo não tem o sentimento de ter produzido algo? E os outros? Que não necessariamente são artistas ou operários/trabalhadores, mas que se curvam aos valores impostos pela sociedade capazes de levar ao aprisionamento e a cegueira.

E assim, o calar me conduziu ao grito. Um grito parecido com o grito do meu irmão. E desse encontro, fui presenteada por ele com os relatos da Filósofa Simone Weil. Relatos dela nas fábricas, quando essa mulher abdicou de uma vida farta para viver entre os operários. E através da experiência ela vivenciou uma realidade dura e aceitou as marcas da escravidão.

Ficha Técnica
Concepção e Atuação: Natalia Gonsales. Encenação: Natalia Gonsales, César Baptista, Fernanda Bueno e Janaína Suaudeau. Provocadores: César Baptista e Janaína Suaudeau. Criação Dramatúrgica: César Baptista. Direção de Movimento e Coreografia: Fernanda Bueno. Composição Sonora: Daniel Maia. Iluminação: Igor Sane. Cenário: Flávio Tolezani. Figurino: Natália Gonsales. Designer Gráfico: Murilo Thaveira. Fotografia: Flávio Tolezani. Produção Executiva: Anna Zêpa. Direção de Produção: Natalia Gonsales

Serviço:
Reestreia 19 de setembro.
Duração: 60 minutos.
Classificação: 12 anos
Local: Viga Espaço Cênico – Sala Viga.
Rua Capote Valente, 1323. São Paulo / SP
Capacidade: 80 lugares.
Informações: (11) 3801-1843
Temporada: 19 de setembro a 28 de novembro.
Segundas-feiras, às 21h
Ingresso: R$ 30
Horário de funcionamento da bilheteria: duas horas antes do espetáculo, com possibilidade de reserva por telefone a partir das 14h, para chegada até 15 min. antes do início da sessão. Gênero: drama. Até 14 de novembro.