Um Porre de Shakespeare

Núcleo Experimental de Teatro estreia Um Porre de Shakespeare, a versão brasileira do espetáculo que faz grande sucesso em Chicago e Nova York

Em toda sessão da peça, um dos atores ou atrizes ingere cinco doses de uma bebida alcoólica e deve encenar seu papel em estado de embriaguez, com o restante do elenco sóbrio. A direção é assinada por Zé Henrique de Paula

Crédito: Adriano Dória

Já imaginou assistir a uma peça em que uma das pessoas do elenco está realmente embriagada? Esta é justamente a proposta de Um Porre de Shakespeare, versão brasileira produzida pelo Núcleo Experimental para o espetáculo Drunk Shakespeare, que estreou em Londres e fez enorme sucesso tanto na capital inglesa quanto em diversas cidades norte-americanas.

O espetáculo tem sua temporada de estreia no Teatro do Núcleo Experimental, na Barra Funda, onde fica em cartaz até o dia 22 de julho. O elenco conta com Bruna Guerin, Fabiana Tolentino, Luciana Ramanzini, Cleomácio Inácio, Dennis Pinheiro, Gabriel Lodi e Rodrigo Caetano.

Zé Henrique de Paula, que dirige e assina cenografia da montagem brasileira, conta que assistiu ao espetáculo em Nova York em 2023 junto com a produtora Renata Alvim. “Nos divertimos muito e então decidimos trazer a peça ao Brasil, em uma coprodução entre a Rega Início e o Núcleo Experimental”, diz. 

Na trama, a Sociedade Literária do Velho Bardo Bêbado é formada por seis atores e atrizes que se encontram todas as noites para celebrar o bom e velho “Will” e a sua tragédia mais famosa, a escocesa, aquela que ninguém ousa pronunciar o nome. Infelizmente (ou felizmente) uma das pessoas do elenco toma cinco doses de uma bebida forte antes de começar a peça. Então, cabe aos outros manter a história nos trilhos.

Essa espécie de sociedade literária encena a tragédia Macbeth, que narra a inescrupulosa e sangrenta ascensão do general de mesmo nome ao trono da Escócia. E o que intriga o diretor Zé Henrique de Paula é justamente o motivo pelo qual a montagem original ter escolhido essa peça entre as mais de 30 obras escritas por William Shakespeare (1564-1616).

“Depois de muito trabalho de mesa e de muita análise do texto, acabamos percebendo que é a própria questão do sobrenatural, do oculto e do mistério que provavelmente justifica essa escolha. Obviamente esse texto é muito atual pelo seu aspecto político, mas acabamos transformando essa sociedade literária numa espécie de sociedade ocultista, e é aí que entra a história da bebida”, revela o encenador.

Na prática, somente um dos atores – escolhido por um sorteio – toma as cinco doses da bebida em cena. E dois espectadores assumem o papel de rei e rainha – eles se sentam em lugares especiais e têm um papel surpresa e super especial na montagem.

“Essa bebida ela vai funcionar como uma espécie de invocação, um ritual de invocação do espírito Shakespeareano, da alma Shakespeareana, e última análise do próprio Shakespeare, esteja ele onde estiver, para que ele. Derrame as suas bênçãos para aquela apresentação que vai acontecer ali naquela noite. A bebida funciona como uma chave ritualística, como um símbolo de um ritual, e esse ator ou essa atriz que vai beber vai funcionar como um canal, como uma ponte para que todos acessem ali o espírito Shakespeareano. Obviamente tudo isso é uma grande brincadeira”, explica Zé Henrique de Paula.

“A peça não é uma sessão espírita, não é um ritual ocultista ou sobrenatural, mas fazemos essa brincadeira para que esse seja o elemento detonador da própria brincadeira da peça. Como vamos chegar ao fim se uma pessoa não está completamente de posse das suas faculdades mentais, da sua capacidade física? E tudo é muito imponderável, porque não sabemos o que vai acontecer, já a bebida bate de um jeito a cada dia. Por isso, existe um elemento de improvisação, de jogo, de prontidão. Tem até uma frase de Shakespeare que diz: ‘Estar pronto é tudo!’. E, neste caso, acho que ela nunca foi tão verdadeira”, acrescenta. 

E um aspecto bem interessante que diferencia a versão brasileira das demais é o fato de que o elenco é composto por sete atores e atrizes, e, em toda apresentação, a pessoa que bebeu na sessão anterior não está em cena, pois está se recuperando em casa. Por isso, cada ator está preparado para interpretar dois papéis diferentes. 

“Esse revezamento faz com que nunca haja um elenco igual ao outro nos mesmos papéis. E essa matemática toda faz com que, na temporada inteira, nunca haja uma escalação em que os atores façam os mesmos papéis na mesma combinação de elenco. Ou seja, as 32 sessões desta temporada terão uma combinação diferente da outra tanto pela escalação do elenco quanto pela pessoa que bebe na sessão. O jogo é a peça. Fazemos uma homenagem ao teatro, ao maior dramaturgo de todos os tempos e ao ofício do ator, que está sendo colocado em risco e em xeque todas as noites”, explica.

Ficha Técnica

Elenco: Bruna Guerin, Fabiana Tolentino, Luciana Ramanzini, Cleomácio Inácio, Dennis Pinheiro, Gabriel Lodi e Rodrigo Caetano.

Adaptação e Direção: Zé Henrique de Paula

Iluminação: Fran Barros

Cenografia: Zé Henrique de Paula 

Figurinos: Ùga Agú

Assistente de cenografia: Dani Bezerra

Assistente de figurinos: Cauã Stevaux

Cenotécnico: Jhonatta Moura

Fotos: Adriano Dória

Design gráfico: Laerte Késsimos

Redes sociais: 1812 Comunicação 

Assessoria de imprensa: Pombo Correio

Produção: Renata Alvim e Zé Henrique de Paula

Produção executiva: Luanda Scandura

Assistente de produção: Victor Lima

Realização: Rega Início e Núcleo Experimental