A GELADEIRA
A Geladeira reestreia dia 17 de janeiro no Espaço Parlapatões
O monólogo dirigido pelo premiado diretor e ator Nelson Baskerville volta em cartaz no Espaço Parlapatões até dia 1 de março. O texto escrito pelo franco argentino Copi é interpretado pelo ator Fernando Fecchio.
Um homem acorda na manhã de seu 50º aniversário e encontra uma geladeira no meio da sala. A partir dela “L” vê saltar de seu passado figuras como a mãe, a empregada, a psicanalista, seu cão e até um rato que mora em seu armário. Todos representados por um único ator nesta peça non sense do argentino Copi (pseudônimo de Raúl Damonte Botana, 1939-1987) em que a existência humana se recusa a se fixar em um único lugar e em que os papéis sociais, a sexualidade e a subjetividade aparecem em pleno trânsito.
Nelson Baskerville foi especialmente convidado pelo Centro Cultural São Paulo para dirigir a peça para estreia no Festival Mix Brasil, que vem nos últimos anos ganhando cada vez mais força trazendo a cena espetáculos que discutam temas relacionados ao segmento LGBT e de interesse amplo à sociedade. O diretor, cuja carreira vem sido reconhecida e consolidada pelo seu olhar para extremos sociais e de comportamento, ficou impactado com o texto de Copi e entendeu sua potência e urgência em tempos de tamanha intolerância gerada pela homofobia.
Desde o sucesso do documentário cênico “Luis Antonio-Gabriela” (2011), seu nome vem sendo associado a projetos de cunho biográfico e político e assim a confluência e interlocução com a obra do autor franco argentino não poderia ser maior. Copi escreveu, dirigiu e atuou em muitas de suas peças e todas são impregnadas por relatos, histórias, personagens e situações vividas por ele, sua família e amigos. Sua obra se caracteriza pelo viés surrealista, o humor e uma grande violência transgressora, além da crítica brutal à sociedade contemporânea. Seus personagens têm como traço fundamental certo exagero, típico da caricatura, sendo este um importante artifício usado por Copi para vislumbrar a realidade de forma aumentada, em todos os seus contornos.
Importante ativista do movimento LGBT, seus protagonistas são mutantes, vivem e expressam a homo(sexualidade) de forma desmesurada em todas as vertentes. Com a sua radical liberdade criadora, Copi se permite desenhar com palavras, atores e personagens e, a partir daí, promover um fundo questionamento sobre a condição humana. Em sua obra há uma ironia delirante, um humor ácido, certo cinismo feroz, mas também a inegável poesia: a esperança, a audácia, o amor, o prazer, a violência, a melancolia, enfim: a vida.
Para Nelson “A Geladeira” “É uma peça com alguns fundos falsos. A medida que você acha que atingiu alguma profundidade o autor revela outros fundos, levando o espectador aos poucos para trás e para baixo das camadas superficiais que envolvem a vida e as relações pessoais. Escrito em uma época em que poucos autores tinham coragem de tocar temas tabus, “A Geladeira” o faz de maneira sutil e nos dá e impressão de estarmos assistindo a uma comédia comportamental que trata a homossexualidade da forma que estamos mais acostumados até hoje: engraçada e cheia de clichês. Porém, concomitantemente a toda a aparente leveza, Copi nos proporciona uma reflexão profunda e arrebatadora sobre a arte e a vida”.
O ator Fernando Fecchio considera que protagonizar “A Geladeira” seja o trabalho mais desafiador de sua carreira. Ele já havia trabalhado com Baskerville em “Camino Real” e “17X Nelson – Parte I, O Inferno de Todos Nós”, da AntiKatártiKa Teatral (AKK) e o convite para este projeto, que retoma oficialmente a produção da Companhia, se mostrou “ um desafio enorme por levar aos palcos o universo avassalador de Copi, sua obra e sua tão rica biografia. Este espetáculo exige uma atuação ágil e versátil e me sinto muito instigado como intérprete graças à direção precisa, pontual e porque não dizer transgressora que Nelson Baskerville emprega para a condução desse trabalho”.
A concepção visual do espetáculo dialoga com a estética do fotógrafo David Lachapelle, com uma cenografia impregnada por cores vibrantes. A geladeira que dá título à peça está representada por um modelo vermelho, vintage, e dialoga com outros adereços que compõem uma atmosfera onírica, cômica e com certa decadência. A trilha sonora complementa a estética do espetáculo através de composições clássicas de artistas como Barry Manilow, Queen e Love Unlimited Orchestra.
Nelson Baskerville
Nelson Baskerville é diretor, ator, autor e artista plástico. Atualmente fora os trabalhos como diretor convidado, coordena a AntiKatártiKa Teatral (AKK), na qual já dirigiu os espetáculos “Camino Real” e “17X Nelson -Parte I, O Inferno de Todos Nós”. Também esteve em Guimarães -Portugal, dirigindo o espetáculo “Dublin Carol” de Conor McPherson, com o grupo Teatro Oficina Local. Seus trabalhos mais recentes como diretor são: “17X Nelson – Parte II, Se Não É Eterno, Não É Amor”, “Os 7 Gatinhos” de Nelson Rodrigues, “Brincando com Fogo” de August Strindberg, espetáculo representou o Brasil no Festival STOFF (Fringe Fest 2012) em Estocolmo, “Córtex” de Franz Keppler, “Credores” de August Strindberg, “A Falecida” de Nelson Rodrigues com o Teatro do Kaos e “Auto da Independência” em comemoração dos 190 anos de independência do Brasil.
Já recebeu diversos prêmios, entre eles: com o espetáculo “Luís Antonio – Gabriela”, recebeu 5 indicações ao Prêmio Shell 2012 – vencendo o prêmio de melhor Direção, 3 indicações ao prêmio APCA 2011, vencendo na categoria Melhor Montagem, venceu também o Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro em 2012 na categoria melhor diretor, melhor conjunto (cenário, figurino, iluminação, trilha sonora). No ano de 2013 foi indicado ao Prêmio Shell nas categoria melhor diretor e iluminação pelo espetáculo “As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo.”
Como autor e adaptador, trabalhou em 2006 e 2007 no espetáculo “Quando Nietzsche Chorou” (uma adaptação do best-seller de Iriwin D. Yalom), “Dutchman” de Amiri Baraka e participou do grupo de dramaturgia “Núcleo dos Dez de Dramaturgia”, dirigido pelo dramaturgo Luiz Alberto de Abreu.
Nelson Baskerville graduou-se na EAD (Escola de Teatro da Universidade de São Paulo) em 1983, trabalhou como ator e assistente de direção de Fauzi Arap por quatro anos, quando ele se apresentou na memorável encenação do espetáculo “Uma Lição Longe Demais” de Zeno Wilde.
Como professor interino no Teatro Escola Célia Helena, em São Paulo, desde 1991, dirigiu vários espetáculos, como “Os Que Tem Hora Marcada” de Elias Canetti em 2002, “Burundanga” de Luiz Alberto de Abreu em 2003, “A Viagem de Alice” de Ricardo Monteiro em 2005, e uma adaptação do Frühlingserwachen de Frank Wederkind em 2007.
Fernando Fecchio
Natural de São Paulo, Fernando Fecchio é ator e bailarino formado pelo Teatro Escola Célia Helena e pela FMU em Educação Física, estreou no teatro em 1999 com a peça “TE AMO AMAZÔNIA”, de Paulo César Coutinho e direção de Lúcia Barroso, em 2000 formou com outros onze atores e sob a direção artística de Marcelo Lazzaratto a “Cia Elevador de Teatro Panorâmico” e a peça de estreia foi “UMA PEÇA POR OUTRA”, de Jean Tardieu na Sala Jardel Filho do CCSP. Em 2001 “A ILHA DESCONHECIDA” de José Saramago e “REI LEAR”, de William Shakespeare, com direção de Ron Daniels – ainda com a Cia Elevador trabalhou nos espetaculos “A HORA EM QUE NÃO SABÍAMOS NADA UNS DOS OUTROS”, de Peter Handke em 2002 e “AMOR DE IMPROVISO” em 2003 -alem do longa metragem “SEJA O QUE DEUS QUISER” , de Murilo Salles – em 2005 o atuou em “CAMINO REAL” de Tennessee Williams, com a Cia Antikatártika e direção de Nelson Baskerville – em 2006 “17XNELSON O INFERNO DE TODOS NÓS” , baseado na obra de Nelson Rodrigues também com Antikatártika Teatral e direção de Nelson Baskerville -“NA CAMA COM TARANTINO” da Cia De Teatro Rock, direção de Fezu Duarte e Fabio Ock . Em 2007 “O HOMEM A BESTA E A VIRTUDE” de Luigi Pirandello, direção de Marcelo Lazzaratto -“SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO” de William Shakespeare com a Cia da Revista, direção de Kleber Montanheiro. Em 2008 atuou no musical infantil “A PEQUENA SEREIA” com a Cia Do Pátio, direção de Isser Korik -2009 “UM DIA QUASE IGUAL AOS OUTROS” de Dario Fo, direção de Neyde Veneziano e no seriado “DESCOLADOS” produzido pela Mixer para a MTV. Em 2010 “PORNÔ FALCATRUA 18.633” de Irvine Welsh, direção de Gustavo Machado e “QUARTO DO NADA” de Fernando Ceylão, direção de Lucianno Maza. Em 2011 produziu e atuou na peça “SERPENTE VERDE SABOR MAÇÔ de jo Bilac com a Cia Das Trevas e direção de Lavinia Pannunzio. Em 2012 integrou o elenco de “QUEM TEM MEDO DE CURUPIRA?” texto e músicas de Zeca Baleiro e direção de Débora Dubois. Em 2013 “TROPA DE ELITE” de Gueminho Bernardes , “O BURGUÊS FIDALGO “ de Molière, “CLÁSSICOS DO CIRCO” e “TOTALMENTE PASTELÃO” de Hugo Possolo com a Cia Parlapatões e direção artística de Hugo Possolo. Ainda em 2013 estreou o espetáculo de dança infantil “UMA TRILHA PARA SUA HISTÓRIA” de Gustavo Kurlat e coreografias de Dafne Michellepis e Marina Caron. Em 2014 atuou no longa metragem “A COMÉDIA DIVINA” (Baseado no conto “A Igreja do Diabo” de Machado de Assis) e direção de Toni Venturi.
Copi
Copi é o pseudônimo sob o qual foi assinada a obra de Raul Damonte Botana, nascido em Buenos Aires, em 1939, e morto em Paris em 1987. Nos anos 70, integrou com Arrabal e Jodorowiski o grupo Pânico. Toda sua obra é marcada por humor e grande violência transgressora, além de uma crítica brutal da sociedade contemporânea com forte valor político e protagonizadas por personagens mutantes, que vivem e expressam a homo(sexualidade) de forma desmesurada em todas as vertentes.
Sua produção pode ser considerada vasta, para quem viveu apenas quarenta e oito anos (morreu em 1987, vítima da Aids). Mesmo considerando-se que começou a produzir muito cedo, por volta dos vinte e dois anos (como desenhista de comics), o legado de Copi testemunha como era intenso o seu exercício criativo, e reflete sua personalidade inquieta, incansável, irônica, questionadora, crítica e, até, por vezes, sarcástica e mordaz.
A obra de Copi nasce do desenho, sua atividade primeira. Toda a sua ficção (tanto narrativa, quanto teatral) situa-se, de certo modo, num umbral entre desenho e relato. Seus personagens parecem sair de quadros para compor histórias formadas pela justaposição de cenas desenhadas, velozes e sempre em continuidade.
Ativista do movimento LGBT, Copi morreu enquanto ensaiava a peça “Uma visita inoportuna”, uma obra em que o protagonista morre vítima da AIDS no hospital. Seu reconhecimento póstumo se deu principalmente por suas peças de teatro, contos e novelas.
AntiKatártiKa Teatral (AKK)
Formada no início de 2004 pelo diretor Nelson Baskerville junto aos atores Flavia Lorenzi (hoje diretora de teatro da Cie Fleur Bruta Flor, radicada em Paris), Anna Cecilia Junqueira (atualmente também produtora) e Felipe Schermann, a Antikatártika Teatral (AKK) tem como meta o teatro de pesquisa, a transversalidade de linguagens (dança, teatro, artes plásticas, vídeos entre outras), e a busca por um teatro que dialogue com o nosso tempo. A Companhia produziu os espetáculos “17X Nelson -Parte I, O Inferno de Todos Nós”, de Nelson Rodrigues (Teatro Fábrica 2005) e “Camino Real”, de Tennessee Williams (Teatro Tuca -2007). No final de 2007 a AKK em sua formação original interrompeu suas atividades e Nelson transferiu a continuidade da pesquisa para outras companhias teatrais paulistanas.
Desde 2013, Nelson percebeu a necessidade de retomar seu espaço de pesquisa permanente, local capaz de dar vazão às urgências artísticas, que possibilite verticalização de questões e a interlocução com outros artistas parceiros, assim se dá a retomada da AntiKatártiKa Teatral (AKK) , este espaço tão autoral. “A Geladeira” é o projeto que marca a retomada pública da companhia.
A companhia atualmente é constituída pelas atrizes Erika Puga e Thaís Medeiros, o ator Fernando Fecchio, a figurinista Marichilene Artisevskis, a cenógrafa e designer gráfica Amanda Viera e o produtor executivo Fernando De Marchi.
Ficha Técnica
Autor: Copi. Direção: Nelson Baskerville. Assistente de direção: Thais Medeiros. Assistente de movimento: Erika Puga. Elenco: Fernando Fecchio. Preparação corporal: Tutto Gomes. Figurino: Marichilene Artisevskis. Cenário: Amanda Viera e Nelson Baskerville. Aderecista: Amanda Vieira. Boneca adereço: Marcela Donato. Visagismo: Emi Sato . Iluminação: Wagner Freire. Trilha Sonora: Daniel Maia e Nelson Baskerville. Assistente Técnico: Felipe Jóia. Fotos: Sossô Parma e Raul Zito. Apoio teórico: Renata Pimentel. Produção: Fernando de Marchi -De Marchi Produções. Criação: AntiKatártiKa Teatral (AKK). Duração: 50 minutos
Serviço
Espaço Parlapatões. Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 158 – Consolação, SP (11) 3258-4449. Temporada: De 17 de janeiro a 1 de março. Sábados às 22h00 e Domingos às 21h00. Ingresso: R$ 40,00. Duração: 50 minutos . Classificação Indicativa: 14 anos. Horário de Funcionamento da bilheteria:
terça a quinta
das 16h às 21h.
Sexta e Sábado
das 16h à meia-noite.
Domingo das 16h às 20h
Tel.: (11) 3258 4449. Vendas online: Ingresso Rápido www.ingressorapido.com.br