O CANTO DOS HOMENS DA TERRA

Livro O Canto dos Homens da Terra do ator, diretor e dramaturgo Carlos Canhameiro será lançado dia 22 de julho pela editora Mireveja

Com distribuição gratuita, edição tem ilustrações inéditas de Cacá Meirelles. Livro completa o díptico do autor, que começou em “O Canto das Mulheres do Asfalto. No lançamento haverá uma leitura dramática do texto em forma de podcast e uma live com o autor e convidados.

Foto em preto e branco de flor

Descrição gerada automaticamente

Quatro anos depois de escrever O Canto das Mulheres do Asfalto, em 2014, peça que foi encenada pelas mãos da diretora Georgette Fadel com uma bem-sucedida carreira de apresentações e boas críticas, Carlos resolve falar do masculino. O autor, que já estudava o feminismo e seus desdobramento há anos, tem a percepção da urgência em pesquisar o masculino ao se deparar com uma frase de Virginie Despentes, em Teoria King Kong: “de que autonomia os homens tem tanto medo que continuam a se calar, a não inventar nada? A não produzir nenhum discurso novo, crítico, inventivo sobre sua própria condição? Para quando é a emancipação masculina?”. A partir dai começa a escrita da dramaturgia de O canto dos Homens da Terra.

“Em 2018 eu comecei a perceber que não estava falando do masculino, estava há um bom tempo debruçado no feminino, nas feministas, a luta feminista de vários ângulos, desde o feminismo radical até o transfeminismo. Não é o meu lugar de fala, mas artisticamente sempre me interessou abordar e pesquisar este assunto. Aí eu entendi que precisava falar do masculino. A frase do livro de Virginie me pegou e pensei: é verdade, a gente não fala, ficamos pensando sobre o mundo, mas sobre a nossa construção gênero/sexo a gente não elabora. Foi assim que vislumbrei o Canto dos Homens da Terra.”, conta Carlos.

Inicialmente, quando o autor escreveu O Canto das Mulheres do Asfalto, não tinha em mente que seria a primeira parte de um díptico, Carlos a escreveu de um modo muito rápido, a partir de uma cena que construiu junto com o dramaturgo João das Neves, três anos antes. “Eu só retomei porque estava imbuído de pesquisas e sensações de que o homem era, e acho que ainda é, o grande vilão, para trabalhar uma coisa bem maniqueísta. E eu tinha o Heiner Müller em mente, porque em Hamlet Machine tem a fala de Hamlet – deveriam costurar as mulheres, assim poderíamos nos matar à vontade. E eu penso: não, isso não é uma decisão dos homens. São as mulheres que precisam chegar a essa conclusão, se elas querem ou não parir. Então eu escrevi uma peça na qual as mulheres desistiam de parir. A peça é autônoma, não tinha vontade de escrever uma continuidade, é uma dramaturgia que não deixa brecha para seguir o assunto. Mas falar da masculinidade foi uma necessidade que veio depois e me fez criar essa peça que lanço agora, sobre os dois últimos homens da terra, que são dois coveiros. Então instaurou-se o díptico, no qual as peças não se completam, mas existe uma fricção entre as duas”.

Do ensaio para a impressão do livro.

O Canto dos Homens da Terra já estava sendo ensaiada para estrear dia 5 de junho no Centro Cultural São Paulo, com o mesmo elenco que fez O Canto das Mulheres do Asfalto (Cris Rocha, Paula Carrara, Michele Navarro, Paula Serra, André Capuano e Weber Fonseca), e direção do próprio dramaturgo. Com a pandemia tudo foi adiado e o lançamento da dramaturgia se tornou uma necessidade para que a obra pudesse nascer. “Eu gosto de ver o texto ganhar outros olhares, tenho apego nenhum, podem dirigir, usar pedaços. Em O Canto das Mulheres do Asfalto imprimimos 2 mil livros e distribuímos para as pessoas no final das apresentações. Já teve gente que pediu para montar no Rio, em Osasco, em Portugal, gente que estuda cenas na faculdade. O melhor que pode acontecer com uma dramaturgia é as pessoas quererem encená-la”, comenta o autor. Além das cotas para órgãos públicos, serão enviados livros para entidades e bibliotecas ligadas ao fomento à leitura, ao teatro e à literatura.

Da falta de pontuação.

O livro não tem ponto algum, o texto é escrito de forma corrida, e a única alteração visual que existe na narrativa é o uso de letras maiúsculas e minúsculas. Já tem um tempo que essa é a escolha de Carlos Canhameiro ao escrever suas obras. Ele vê essa forma como uma possibilidade de ampliar as possibilidades de entendimento das frases, especialmente para quem vai encená-las no teatro. Bastante influenciado por Heiner Müller, que não usa pontuação em algumas de suas obras emblemáticas, Carlos deixa as frases sem pontuação para que a dúvida de seu sentido seja um impulsionador na busca de sentido. “No começo causa uma rejeição, tanto como literatura como dramaturgia para teatro, mas depois fui percebendo que tem muita abertura na forma de construção de sentido da frase, não chega a ser uma escrita dadaísta, sem sentido, mas, se você não coloca ponto final, exclamação, dependendo da forma de construção da frase, algumas você fica na dúvida, outras você tem certeza do que se trata, mesmo sem a pontuação. Para fazer uma cena eu sempre me divirto com as interpretações que vem dos atores e atrizes. Não só quando eu estou dirigindo, em O Conto Mulheres do Asfalto, dirigido pela Georgette Fadel, eu não participei do processo e era surpreendente ouvir uma pergunta em uma frase que quando eu escrevi tinha certeza que era uma afirmação, por exemplo.”, completa o dramaturgo.

Sobre Carlos Canhameiro

Carlos Canhameiro é diretor, dramaturgo e ator. Trabalha há mais de 15 anos em São Paulo onde criou dezenas de peças com diferentes artistas e coletivos teatrais. É integrante fundador da Cia. LCT e da Cia De Feitos, além de artista parceiro da Cia. Teatro de Riscos e Cia. 4 pra Nada. Tem doutorado em artes pela Unicamp (universidade onde também fez mestrado e graduação em artes cênicas). É pai do Lucas e da Nina e acredita que a maneira como lidamos com as crianças diz muito (ou tudo) do presente onde estamos inseridos.

Sobre a editora Mireveja

A Mireveja é uma editora jovem com uma equipe experiente, que já passou nas últimas duas décadas por jornais, revistas e grandes editoras. Foi criada em 2019 pelo jornalista João Correia Filho, autor de quatro guias literários e ganhador do Prêmio Jabuti 2012, na categoria turismo, com Lisboa em Pessoa. A Mireveja tem se dedicado a projetos diferenciados que envolvem literatura, dramaturgia e fotografia, buscando publicar livros que dialoguem com os tempos atuais.

Ficha Técnica do podcast:

Realização
Governo do Estado de São Paulo
Secretaria de Cultura, por meio do ProAC – Programa de Ação Cultural
Edital 20/2019 – Produção e publicação de obras teatrais

Este projeto foi contemplado pela 9ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura

Ficha Técnica

Direção e dramaturgia
Carlos Canhameiro

Elenco
André Capuano
Weber Fonseca
Cris Rocha
Michele Navarro
Paula Carrara
Paula Serra

Trilha sonora original
Rui Barossi