UM PASSEIO NO BOSQUE
Um Passeio no Bosque, do norte-americano Lee Blessing, reestreia dia 1º de fevereiro na SP Escola de Teatro
Dirigido por Marcelo Lazzaratto, espetáculo traz no elenco Gustavo Merighi e Beto Bellini, que participou de uma bem-sucedida montagem do mesmo texto em 2000
Na atual época de intolerância e violência vivida no Brasil, o espetáculo Um Passeio no Bosque, do autor norte-americano Lee Blessing, propõe a ideia de “desarmamento” entre os homens. O espetáculo, que estreou no Espaço da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico em 2019, ganha uma nova temporada na SP Escola de Teatro, entre 1º e 17 de fevereiro.
O elenco é composto pelos atores Gustavo Merighi e Beto Bellini, que participou de uma montagem da mesma peça no começo dos anos 2000. Na época Beto fazia o papel do personagem mais jovem e Emílio Di Biasi (vencedor do Prêmio Shell naquele ano) fazia o papel do mais velho. Nesta montagem Bellini tem a oportunidade de fazer o papel com o qual contracenava em 2000.
Escrita em 1988, a peça revela o encontro entre dois diplomatas representantes de potências adversas em um bosque na Suíça, uma terra de neutralidade e perfeição cívica. Um deles é um russo com larga experiência diplomática e cético em relação ao próprio trabalho; o outro, um jovem americano idealista, com firme crença no poder da diplomacia e em sua habilidade pessoal.
O mais velho dos diplomatas está mais propenso a uma relação sem formalidades e usa os mais variados recursos para vencer os obstáculos em seu caminho. Já o jovem e menos experiente prefere o argumento direto e objetivo e um conhecimento menos íntimo e mais protocolar com o companheiro. As grandes questões da política internacional – a guerra ou a paz – são tratadas permanentemente pelos dois diplomatas, frustrando a ambos, pois o poder prefere utilizar-se delas em seu próprio benefício e segundo as conveniências do momento.
“Gosto do modo como Blessing escreve que te deixa preso às palavras. É um texto da década de 1980, que discute a questão da Guerra Fria, do desarmamento nuclear. É impressionante como essa circunstância básica se mostra tão atual. É claro que não temos mais a Guerra Fria, mas, devido à polarização tão crônica que estamos vivendo sem o menor esforço a peça dialoga com o contemporâneo”, comenta o diretor Marcelo Lazzaratto.
A encenação é pautada no jogo entre os dois intérpretes. “É um jogo de atores. “Trabalhamos para fazer com que eles elaborem o texto lindamente para que consigam dizê-lo com bastante sutileza e clareza e com os contornos específicos de cada personagem. Um deles é um russo mais velho, que está muito tempo nessa lida, e o outro é um jovem idealista americano. Um já tem o entendimento de que as coisas não são exatamente possíveis de ser transformadas, e que a paz é uma constante tentativa e não um êxito a ser alcançado; enquanto o jovem ainda acredita que isso é possível”, comenta o encenador Marcelo Lazzaratto.
O diretor aposta na simplicidade cênica para trazer ao público a complexidade da relação entre os diplomatas. “É uma peça muito simples no sentido da visualidade, mas essa simplicidade está ali para conter ou expor a complexidade do jogo, das relações e do quanto essa relação binária coloca quase em xeque mate a humanidade. Então, mais do que tentar reproduzir um bosque da Suíça, vou me apropriar de todo o espaço cênico para dar a poética da coisa. A dinâmica entre os atores vai se dando dentro da concretude daquela arquitetura. Isso oferece um dado de realidade que fortalece o jogo dos atores. E o imaginário fica por conta das palavras que nos remetem à Suíça, ao bosque, à Rússia, aos Estados Unidos e ao Brasil”, acrescenta.
Sobre Lee Blessing – autor
O premiado autor Lee Blessing nasceu em 1949, em Minneapolis, nos Estados Unidos e se formou na Universidade de Minnesota. Ele ficou conhecido mundialmente pela premiada peça “Um Passeio no Bosque”, que ganhou montagens em vários países. Entre os principais prêmios de sua carreira estão American College Theater Festival Award, American Theater Critics Association Award, Humanitas Prize Award, Guggenheim Fellowship e National Endowment for the Arts Grant, além de indicações para o Pulitzer e o Tony Award.
Outras peças escritas por Blessing são “Patient A”, “The Scotttish Play”, “Fortinbras”, “The Road that Leads Here”, “For the Loyal”, “Courting Harry” e “When We Go Upon the Sea”.
Sobre Marcelo Lazzaratto – diretor
Ator e diretor, formado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA- USP). Professor doutor em Interpretação Teatral da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2000, cria a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico e assume a função de diretor artístico.
Recentemente, dirigiu os espetáculos “Fronteira”, de Carla Kinzo, com Tathiana Botth e Thaís Rossi; e “Comédias Furiosas”, com Daniel Dottori, Gláucia Libertini, Leonardo Cortez e Maurício de Barros; e reestreou como diretor a peça “Romeu e Julieta 80”, com Renato Borgui, Miriam Mehler e Carolina Fabri. Realiza, entre outros, os espetáculos: “A Ilha Desconhecida”, adaptação da obra de José Saramago, “Loucura”; “A Hora em que Não Sabíamos Nada uns dos Outros”, de Peter Handke; “Amor de Improviso”; “Peça de Elevador”, de Cássio Pires; “Ponto Zero”, a partir da obra de Salinger, Kerouac e Godard; e “Eu Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Chegasse”, de Jean-Luc Lagarce, “Do Jeito Que Você Gosta”, de William Shakespeare, “Ifigênia”, de Cássio Pires, “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchecov e “Sala dos Professores”, de Leonardo Cortez.
Fora da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, o diretor também tem um vasto repertório de espetáculos, como “A Tempestade”, de William Shakespeare, “Ricardo III”, de William Shakespeare, “Cartas Libanesas”, texto de José Eduardo Vendramini, o infantil “O Dragão de Fogo, Maldito Benefício”, de Leonardo Cortez, entre outras. Marcelo pesquisa e desenvolve o sistema improvisacional e pressuposto estético Campo de Visão há 25 anos, tendo publicado o livro “Campo de Visão: exercício e linguagem cênica”, em 2011.
SINOPSE
Num jogo emocionante e engraçado, um diplomata russo e outro americano encontram-se em um bosque na Suíça para discutir um tratado de desarmamento nuclear, em quatro cenas nas quatro estações do ano; verão, outono, inverno e primavera, nesta ordem. O russo um velho e desencantado profissional que insiste em acordar uma amizade antes de qualquer acordo profissional. O americano acredita piamente que pode salvar o mundo com seu plano e, por tanto, recusa a amizade, valorizando o profissionalismo. Eles não conseguem salvar o mundo mas quase se tornam amigos. O encontro é um fracasso muito bem-sucedido…
FICHA TÉCNICA
Texto: Lee Blessing
Direção e iluminação: Marcelo Lazzarato
Assistência de direção: Thaís Rossi
Elenco: Beto Bellini e Gustavo Merighi
Produção Executiva: Ricardo Pettine
SERVIÇO
Um Passeio no Bosque, de Lee Blessing
SP Escola de Teatro – Sala Hilda Hilst (8º Andar) – Praça Roosevelt, 210, República
Temporada: 1º a 17 de fevereiro
Às sextas e às segundas, às 21h; e aos sábados e domingos, às 19h
Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada)
Classificação etária: 14 anos
Duração: 90 minutos
Informações: (11) 3775-8600