CRIATURA, UMA AUTÓPSIA

Solo de Bruna Longo, Criatura, Uma Autópsia entrelaça clássico ‘Frankenstein, ou O Prometeu Moderno’ e a vida de Mary Shelley

Escrito a partir do romance e de documentos sobre a vida da escritora inglesa, espetáculo estreia no dia 9 de agosto na Oficina Cultural Oswald de Andrade

Uma imagem contendo interior, escuro, olhando

Descrição gerada automaticamente

Fotos de Danilo Apoena

A atriz e dramaturga Bruna Longo estreia seu solo Criatura, Uma Autópsia em uma curta temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade, entre 9 e 31 de agosto. O espetáculo fricciona o clássico da literatura “Frankenstein, ou O Prometeu Moderno”, da inglesa Mary Shelley (1797-1851), com a vida da própria autora.

A primeira ideia para montar esse trabalho surgiu em 2017, quando Bruna decidiu inicialmente adaptar o clássico para o palco a partir do ponto de vista da criatura. Em fevereiro de 2018, a atriz e a colaboradora artística Larissa Matheus começaram a ensaiar e a buscar pontos de fricção entre o romance e a vida de Shelley.

Naquele mesmo ano, enquanto tratava com a Universidade de Oxford, na Inglaterra, para conhecer os documentos originais de Mary Shelley e sua família, Bruna foi convidada pela Bodleian Libraries e pelo curador Stephen Hebron para ter acesso aos diários, cartas e manuscritos originais da escritora, o que geralmente é concedido apenas a pesquisadores. Na viagem, ela também visitou todos os lugares relevantes à vida da autora em Londres e Bournemouth, onde está o túmulo da família. Além disso, teve acesso a outros documentos na British Library.

A versão final da dramaturgia, escrita na volta ao Brasil, não se propõe a criar uma biografia de Mary Shelley e tampouco da criatura de seu romance. É como uma autópsia de um romance e de personagem revelando as entranhas, artérias, musculatura de dores pessoais e universais. O “marcador” para a dramaturgia é a morte, tema bastante presente na vida da escritora britânica desde o seu nascimento – a mãe dela, por exemplo, morreu dez dias depois de ter dado à luz a ela. Cada morte da vida de Mary é como um pedaço desse grande cadáver que é reanimado no espetáculo.

As duas narrativas – da vida e da obra – surgem paralelas por meio de partituras físicas. No primeiro ato, Mary e Victor dividem o mesmo corpo – da coleta de materiais no cemitério à feitura da criatura –, como um paralelo às inspirações que deram gatilho aos temas da obra. No segundo, a criatura e o romance nascem, e acompanhamos Mary-Criatura explorando as sensações desse pós-parto violento e o mundo ao redor.

A personagem Criatura não procura manter-se fiel ao romance do que tange sua descrição física, e também não tem qualquer referência à clássica imagem do mostro verde com parafusos no pescoço. A principal inspiração foi o fenômeno conhecido como “criança feral”, crianças abandonadas pelos pais ao nascer que são criadas por animais ou sozinhas, sem qualquer referência cultural ou comportamental humanas.

Sobre Mary Shelley

Mary Wollstonecraft Godwin (Shelley) nasceu em Londres, na Inglaterra, em 30 de agosto de 1797. Mary Wollstonecraft, sua mãe, é considerada uma das precursoras do feminismo, tendo escrito livros como “Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher”, ainda hoje estudado em universidades do mundo todo. William Godwin, seu pai, foi um famoso filósofo político e autor de “Inquérito acerca da justiça política”. Ambas são figuras polêmicas e cujo estilo de vida causava assombro à sociedade inglesa.

Wollstonecraft, antes de conhecer Godwin, havia tido um romance com o americano Gilbert Imlay e uma filha ilegítima, Fanny. Ela e Godwin viviam em casas separadas e casaram-se apenas quando ela descobriu estar grávida. Infelizmente, Wollstonecraft veio a falecer 10 dias após dar à luz a Mary, em decorrência de febre puerperal.

William Godwin casou novamente, dessa vez com Mary Jane Claimont, viúvas com dois filhos: Charles e Claire, e criou Fanny como se fosse sua própria filha. Mary Wollstonecraft Godwin foi criada em uma casa abundante de discussões intelectuais e frequentada por pensadores e escritores, admiradores de seus pais. Leitora ávida desde a infância, costumava frequentar o túmulo de sua mãe cemitério adjacente ã Igreja de Saint Pancras, onde passava tardes estudando a vasta biblioteca que possuíam.

Um dos admiradores de Godwin a visitar a família foi Percy Bysshe Shelley, um poeta famoso então apenas por ter sido expulso da Universidade de Oxford. Os encontros escondidos com Shelley, a quem levava ao túmulo de Wollstonecraft, desencadeariam os eventos que levariam Mary a fugir de casa e eventualmente escrever seu primeiro romance.

O romance Frankenstein, ou O Prometeu Moderno, publicado em 1818, é considerado a primeira obra de ficção científica e um dos livros mais famosos já escritos. A criatura, a quem erroneamente chamamos pelo nome de seu criador, está fixada em nosso imaginário graças à interpretação de Boris Karloff no famoso filme lançado em 1931. Usamos Frankenstein como expressão para tudo aquilo que é criado a partir de partes desconexas ou sem harmonia, e quando falamos em manipulação da vida pelo homem “tentando fazer papel de deus”. É curioso observar que a maioria das pessoas jamais leu o romance e muitos se surpreendem quando descobrem que foi escrito por uma menina de 18 anos.

Além dessa obra-prima, Shelley escreveu romances como “Mathilda” (1819), “Valperga: ou, a Vida e as Aventuras de Castruccio, o Príncipe de Lucca” (1823), “O Último Homem” (1826), “The Fortunes of Perkin Warbeck” (1830), “Lodore” (1835) e “Falkner” (1837), além de contos e poemas

Sobre Bruna Longo – atriz e dramaturga

Atriz e dramaturga, Bruna Longo é mestre em Movement Studies pela Royal Central School of Speech and Drama – University of London, Reino Unido, 2010. Entre seus trabalhos mais recentes como atriz estão: Os 3 Mundos, com direção de Nelson Baskerville, no Teatro Popular do SESI (2018); Um Dez Cem Mil Inimigos do Povo, de Cassio Pires sobre texto de Henrik Ibsen. Direção: Kleber Montanheiro (2016); Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Hollanda. Direção: Kleber Montanheiro (2014/15); Crônicas de Cavaleiros e Dragões, de Paulo Rogério Lopes. Direção: Kleber Montanheiro. Teatro Popular do SESI (2013); Kabarett, direção: Kleber Montanheiro (2012/14); Cabeça de Papelão, de Ana Roxo sobre conto de João do Rio. Direção: Kleber Montanheiro. Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Teatro de Taubaté em 2013 (2012/16); Cada Qual no Seu Barril, dramaturgia corporal de Bruna Longo e Daniela Flor. Direção: de Kleber Montanheiro. Indicada como melhor atriz ao prêmio FEMSA de Teatro Infantil e Jovem em 2012 (2011/2018); Carnavalha, de Bruna Longo. Direção: Kleber Montanheiro (2011); The Marriage of Medea. Direção: Eugenio Barba. Holstebro, Dinamarca (2008); Landrus & Cassia, escrito e dirigido por Brian O’Connor. Virginia, EUA (2007); Shentai – The Circus Must Go On. Direção: Martha Mendenhall. Virginia, EUA (2007); Ur-Hamlet. Direção: Eugenio Barba. Ravenna, Itália – Helsingør, Dinamarca – Holstebro, Dinamarca – Wroclaw, Polônia (2006/09). É também preparadora corporal e diretora de movimento, tendo trabalhado em projetos na Europa, Brasil e Estados Unidos.

SINOPSE 

Criatura, Uma Autópsia, espetáculo solo de Bruna Longo, é uma fricção entre o romance Frankenstein, Ou O Prometeu Moderno e a vida de sua autora, Mary Wollstonecraft Godwin (Shelley).

FICHA TÉCNICA
Concepção: Bruna Longo
Assistentes: Giovanna Borges e Letícia Esposito
Dramaturgia: Bruna Longo
Cenário: Bruna Longo e Kleber Montanheiro
Cinotécnica: Evas Carreteiro e Nani Brisque
Figurinos: Kleber Montanheiro
Objetos: Bruna Longo com colaboração de Larissa Matheus
Desenho de luz: Rodrigo Silbat
Operação de Som: Giovanna Borges / Leticia Esposito
Operação de Luz: Rodrigo Silbat / Giovanna Borges
Trilha Sonora: Bruna Longo
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Fotos: Danilo Apoena

Colaboradores artísticos: Larissa Matheus (provocações de dramaturgia), Lino Colantoni (edição de trilha), Mateus Monteiro (interpretação textual), Victor Grizzo (direção de arte) e Anna Toledo (canto).

SERVIÇO 

Criatura, uma Autópsia, de Bruna Longo

Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363, Bom Retiro

Temporada: 9 a 31 de agosto

Às sextas, às 20h, e aos sábados, às 18h

Ingressos: Grátis, distribuídos uma hora antes de cada sessão

Classificação: 14 anos

Duração: 70 minutos