DRAMAS DE PRINCESAS

Espetáculo “Dramas de Princesas” de Elfriede Jelinek, ganhadora do prêmio Nobel, estreia em São Paulo em temporada gratuita

1º de setembro a 1º de outubro
Oficina Cultural Oswald de Andrade

 Fotos de Christian Piana

A ciadasatrizes estreia em São Paulo o espetáculo ‘Dramas de Princesas” de Elfriede Jelinek na Oficina Cultural Oswald Andrade com direção de Maria Tendlau. Dramas de Princesas é a segunda obra da autora a ser encenada no Brasil.

Desde sua criação em 2008, a companhia vem desenvolvendo uma pesquisa cênica sobre o lugar da mulher em nossa sociedade e no próprio teatro, em constante fricção com a história (quase que exclusivamente “falocêntrica”) da dramaturgia e das representações teatrais. Nesse percurso, abordou textos de dois dramaturgos (homens) sobre o universo feminino: Alegres comadres de Windsor de Shakespeare, e O defunto, de René de Obaldia. Nos dois casos, tratou-se de opor à visão masculina dos autores originais (impregnada nos textos) uma encenação de forte caráter crítico e performativo, que propusesse uma desconstrução das formas dadas a partir da perspectiva feminina – refletindo e repensando a oposição entre mulheres e homens já presentes nas fábulas originais. Já na obra de intervenção Epifanias urbanas, o grupo buscou explorar o feminino não a partir do campo textual, mas do imagético, encarnando estranhas figuras que erravam pela cidade atraindo olhares e questionamentos.

Seguindo nessa linha, o grupo deparou-se com a obra dramatúrgica da austríaca Elfriede Jelinek, ganhadora do Nobel e sem dúvida uma das mais importantes escritoras da atualidade. Nela, encontrou a oportunidade de explorar uma escrita fundamentalmente feminina, uma poética absolutamente original e provocadora que enfrenta de modo único e radical, calcado num trabalho de excelência linguística incomparável, a dominância masculina histórica e atual. A própria obra de Elfriede Jelinek ultrapassa os limites previamente estabelecidos por um ‘senso comum feminista’, não freando diante de reflexões heterodoxas sobre a responsabilidade ou cumplicidade da mulher em sua própria desgraça social, e frequentemente valendo-se de um sarcasmo talvez desagradável ao colocar na boca de personagens femininas alguns dos discursos mais misóginos de suas peças.

Em Dramas de princesas aautora explora simultaneamente de modo ácido e poético a situação da mulher diante dos mitos dominadores criados pela sociedade do espetáculo, trazendo para a cenauma constelação de fantasmas femininos célebres que ganham voz, discursando sobre sua contraditória posição entre fama e apagamento, poder e impotência, status e vitimização.

SOBRE A PEÇA
As peças escritas por Elfriede Jelinek, e encenadas pela ciadasatrizes, valem-se de certo lugar-comum da escrita feminista: a releitura de mitos para subverter ideias comumente aceitas sobre o feminino. O que nos interessou aqui, porém, não foi reescrever os mitos com vistas ao empoderamento, e muito menos constituir narrativas convencionais sobre vítimas e assassinos, que criticam o machismo à custa de perpetuar uma imagem empática da mulher como sofredora passiva, mas demonstrar quão profundamente seus clichês infectam cada aspecto das subjetividades mais resistentes.

Jelinek propõe uma inusitada espécie de história das relações de poder e mentalidade entre os sexos, escrita com olhar inflexível, de visão crítica nada ortodoxa, ao mesmo tempo amargamente séria e com uma irreverente autocrítica. De modo que, pelo trabalho com as palavras, minucioso e desembaraçado de regras ou convenções, a linguagem nas peças se torna entidade autônoma, deixando de ser mera expressão das personagens ou mesmo da autora, para melhor poder desconstruir impiedosamente todas elas.

E seguindo a pesquisa cênica da ciadasatrizes – isso é, a construção de um teatro de forte caráter performativo e imagético, que erija sua linguagem como discurso propriamente estético e não como mera ilustração formal de conteúdos pré-definidos – a encenação dos Dramas de princesas de Elfriede Jelinek é baseada na fricção entre as artes cênicas e as artes visuais.As cinco peças escritas por Jelinek estarão dispostas no espaço, remetendo o público a um espaço expositivo, que ao longo do espetáculo o público deverá decidir onde se posicionar para ver cada uma delas.

Na primeira peça a Branca de Neve, tendo conhecido apenas a Verdade durante toda sua vida, está em busca de alguma Verdade quando se depara com o caçador; que representará um papel bastante diferente daquele do conto de fadas; já a Bela Adormecida acorda para seu destino: que um homem, supostamente um príncipe, tendo lhe dado o beijo que quebra o feitiço, tenha automaticamente direito sobre ela. A terceira peça é Rosumanda, inspirada em peça de Helmina von Chézy mais conhecida pela música incidental de Schubert, em que se mostra a tentativa da personagem-título de retomar o trono de Chipre, seu por direito mas usurpado pelo governador Fulvio, que tenta seduzi-la; a penúltima peça é Jackie Kennedy, que não consegue a livrar da lembrança de todos mortos da família. Por fim, a peça A parede apresenta as poetas Sylvia Plath e Ingeborg Bachmann, que enfrentam uma parede invísivel mas impossível de ultrapassar.

O projeto DRAMAS DE PRINCESAS, da ciadasatrizes,  foi contemplado pela 27. Edição do programa de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo .

SINOPSE
O que significa para mulheres aprisionadas em clichês de contos de fadas buscar alguma verdade ou algum poder? Em cinco peças curtas, a ganhadora do Nobel Elfriede Jelinek apresenta figuras fantasmagóricas de princesas, de Branca de Neve a Jacqueline Kennedy, entrando em embate com a Morte – que geralmente vem na forma de homem – e com a própria dificuldade de simplesmente Ser na nossa sociedade.

Sobre ciadasatrizes
A ciadasatrizes é um núcleo de pesquisa cênica que tem como objetivo principal a criação de obras que pensem o tempo presente a partir de perspectivas predominantemente (mas não exclusivamente) femininas, sempre apoiado em estudos e discussões sobre diversas poéticas da cena contemporânea e seus hibridismos característicos.

Surgiu da dissolução da Caos Cia De Teatro, grupo formado no curso de Artes Cênicas da Unicamp de 2003, que tem em seu currículo os espetáculos: “Qioguem?!” dirigido por Alice K., estreado em São Paulo em agosto de 2006, em temporada no TUSP e no Centro Cultural São Paulo, participando de festivais de teatro pelo Brasil obteve dezessete prêmios nas categorias melhor espetáculo, direção, conjunto de atores, ator, cenário, figurino, iluminação e concepção sonora); “Decameron” dirigido por Roberto Mallet, estreou em São Paulo em setembro de 2006 no Centro Cultural São Paulo, participou de festivais de teatro pelo Brasil e obteve doze prêmios nas categorias melhor espetáculo, direção, conjunto de atores, ator, cenário, figurino e iluminação; “Rasto Atrás” dirigido por Marcio Tadeu que fez breve temporada no Teatro Castro Mendes em Campinas em 2006 ; “Perdoa-me por me Traíres” dirigido por Marcelo Lazzaratto; “As Rãs“ dirigido por Isa Kopelman, que participou do projeto Encenações do Sesi em 2005; “Caravana Viramundo” dirigido por Gracia Navarro e Luiz Monteiro, que participou do Fringe de Curitiba em 2005.

Em 2009, como parte do projeto 100 do núcleo HANA, projeto contemplado pela XII edição do Fomento para a cidade de São Paulo, estreou no Teatro Sergio Cardoso o espetáculo “As Alegres Comadres: Entre, Coma, Sinta-se em casa”, livremente inspirado na obra de William Shakespeare, com direção de Thiago Antunes.

Em 2011 foi contemplado pelo prêmio Klauss Vianna da Funarte em parceria com o Núcleo Mirada para a realização do projeto “Epifanias Urbanas” com a provocação de Morena Nascimento, Michele Navarro, Fernando Villar e Carlos Canhameiro.

No mesmo ano foi contemplada também pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo para a criação do espetáculo Teatral “O Defunto”, clássico texto de René de Obaldia com direção de Carlos Canhameiro e trilha sonora original de Arrigo Barnabé. Ambas as peças vêm se apresentando desde então principalmente em cidades do interior do estado de São Paulo.

Em 2015 foi contemplada pela XVII edição do Fomento para a cidade de São Paulo para circular Epifanias Urbanas, O Defunto, realizar um seminário sobre feminismo, dramaturgia contemporânea e teatro performativo, e como finalização do projeto produzir o novo espetáculo Dramas de princesas, texto inédito no Brasil da autora austríaca Elfriede Jelinek

Ficha Técnica:
Concepção:ciadasatrizes
Direção : Maria Tendlau
Texto : Elfriede Jelinek
Elenco : Artur Kon, Carla Massa, Daniela Alves, Paula Carrara, Mariana Otero, Mariana Zink, Renan Marcondes,Tetembua Dandara
Tradução : Alexandre Krug
Dramaturgismo : Artur Kon
Pensamento visual e design gráfico : Renan Marcondes
Pensamento Corporal : Isabel Tica Lemos
Criação e Direção Musical : Rui Barossi
Assist. de Direção Musical : Pedro Canales
Iluminação :  Daniel Gonzalez
Cenotecnia : Zang&Zagatti
Aux. técnico e efeitos especiais : Matias Arce
Fotos : Christian Piana
Produção:Tetembua Dandara e Thais Rossi
Site: www.ciadasatrizes.com

Serviço
LOCAL: Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro)
DATA: de 1 de Setembro a 1 de Outubro – quinta a sábado – 20h
Sessões extras: 14, 21 e 28 de Setembro – quartas-feiras – 20h
Capacidade: 25 lugares
Duração: 100 minutos
Gratuito – distribuição de ingressos 1 hora antes do início do espetáculo
Classificação: maiores de 16 anos