DIÁLOGOS DE SALOMÉ

Diálogos de Salomé com São João Batista estreia dia 30 de agosto no Porão do Teatro Sérgio Cardoso. Texto e direção de Sérgio Ferrara

Fotos de Vivian Fernandez

Oscar Wilde na prisão evoca Salomé e São João Batista para falar sobre o amor e a traição. Nessa montagem, Salomé é caracterizada como um TENGU (ser fantástico das profundezas da mitologia japonesa que apavora os sonhos dos mortais). Da obra de Oscar Wilde com direção e dramaturgia de Sérgio Ferrara, a peça  resgata a poesia Simbolista de Cruz e Souza e Baudelaire e os poemas chineses da Dinastia Tang de Li Bai.

O espetáculo é concebido como uma instalação cênica no Porão do Teatro Sérgio Cardoso dando continuidade à pesquisa do diretor Sérgio Ferrara sobre a Trilogia dos Malditos com a ocupação de espaços não convencionais que começou com “Genet: O Poeta Ladrão”, de Zen Salles na sala Beta do Sesc Consolação e encerrará com Pier Paolo Pasolini.

Diálogos de Salomé com São João Batista estreia dia 30 de agosto no Porão do Teatro Sérgio Cardoso com Fransérgio Araújo, Camila dos Anjos, Gustavo Haddad, Tony Lee, Pablo Ginevro e Ruben Espinoza. Completam a ficha técnica Maria Bonomi (cenário), Caetano Vilela (iluminação) e Kleber Montanheiro (figurino).

Oscar Wilde e Salomé
“Buscamos resgatar por meio da encenação do texto Salomé do autor Oscar Wilde a estética do movimento Simbolista fazendo um paralelo com a poesia Simbolista na figura de Cruz e Souza: o Cisne negro do simbolismo brasileiro”, conta o encenador Sérgio Ferrara.

Uma das peças mais conhecidas de Oscar Wilde, Salomé foi escrita no ano de 1891, quando o escritor passou uma temporada em Paris. O tema para a peça já martelava a cabeça de Wilde desde, pelo menos, sua visita a uma exposição do pintor francês Simbolista Gustave Moreau voltado para o mesmo assunto.

Inspirada em uma história presente em passagens bíblicas e escrita originariamente em francês a peça conta, em um único ato, com os requintes típicos da elaboração estética de Wilde, a história de uma festa celebrada no palácio do tetrarca Herodes Antipas. Nesta festa, Salomé se revela apaixonada pelo profeta Iokanaan (mais conhecido como São João Batista), que estava preso no palácio por ter denunciado publicamente o casamento incestuoso entre Herodes e Herodíade, a qual fora casada com o irmão do tetrarca, bem como a corrupção reinante no governo.

A tensão da peça é grande: há sinais de que algo ruim ocorrerá, os quais se manifestam todo o tempo através de falas dos personagens principais ou mesmo os secundários, como alguns guardas. Salomé, então, pede a cabeça de Iokanaan em uma bandeja de prata. Embora Herodes tente, com as mais diversas e ricas ofertas, dissuadir sua enteada e sobrinha da solicitação feita, a promessa não pode ser quebrada e a cabeça do profeta é entregue a Salomé em uma bandeja de prata. Ela, então, pega a cabeça e beija a boca de Iokanaan, alcançando seu objetivo e atingindo um êxtase doentio. Vendo a cena, Herodes se exaspera e ordena que seus soldados acabem com a vida de Salomé porque nesse momento ele sente o prenúncio que um grande crime foi cometido contra um Deus desconhecido.

A figura de Salomé foi um dos mitos maiores na produção artística do fim do século XIX e uma fonte de inspiração constante para pintores, poetas, músicos, dramaturgos, escritores daquela época. Salomé representa a divindade mais afortunada do eterno feminino e tornou-se uma figura central do Simbolismo/Decadentismo francês e para ela, convergiram os sonhos e os fantasmas dos contemporâneos.

Em Diálogos de Salomé com São João Batista, “a encenação irá se voltar para o interior das personagens, buscando, através de uma linguagem de signos, colorida e vibrante do texto simbolista, sugerir as angústias do homem. Pelo seu aspecto enigmático, místico (até religioso) não estará preocupada com a descrição do mundo e sim com a sugestão de realidades (materiais ou abstratas) que compõem esse mundo”, conta o diretor.

“Oscar Wilde é a simples supremacia do cotidiano sobre os dogmas cristãos. Contra a fé e a crença em um mundo espiritual de ideias eternas e etéreas, Wilde rompeu com o modo platônico de pensar que vem se perpetuando através da cristandade por séculos. Ao contrário do que a sociedade da época estabelecia, tinha a crença de que a estética aflorava internamente no homem, onde o bom, o belo e o agradável são determinados pelo indivíduo e não em interesses diversos baseados na economia e religião. Preocupado com a possibilidade do ser humano tornar-se prisioneiro do mundo objetivo, encontra na imaginação a utilidade e beleza da mentira sem confundi-la com aquilo que é real”, completa.

O Teatro Simbolista, por Sérgio Ferrara
O teatro simbolista tem, como base, a união da poesia e da música. O teatro de Maeterlinck, por exemplo, oferece dramas líricos, em que se enfatiza o isolamento, a solidão e a nostalgia. O que importa, acima de tudo, é a valorização dos símbolos. No palco, as peças não devem apresentar uma temática realista, mas seu objetivo será, através da poesia, da música e da dança, criar um clima onírico, que expresse “estados de alma.”A iluminação irá ressaltar o ambiente onírico, através dos claros e escuros, ou seja, a criação de uma atmosfera lunar. Além de libertar o espaço de suas limitações, dando-lhe mais profundidade. Daí,ocasos, crepúsculos, noites de luar… As cenas são introspectivas, voltadas para uma “visão interior”. Figurinos terão cores, baseadas nos símbolos: o azul, por exemplo, significa o infinito; o branco, a paz; o vermelho, o sangue, a guerra e assim por diante.  Enfim, esse tipo de teatro deve levar o espectador a se sentir numa atmosfera de sonho, que irá estimular a sua fantasia e ampliar as suas habilidades imaginativas.

O Simbolismo é um movimento que aprofunda e radicaliza os ideais românticos, estendendo suas raízes à Literatura, aos palcos teatrais, às artes plásticas. Ele nasceu na França, no final do século XIX, em contraposição ao Realismo e ao Naturalismo. No intenso contato com a cultura, a mentalidade, as artes e a religiosidade orientais, os artistas desta época mergulham nestes valores distintos do pensamento ocidental, mais racional, e espelham em suas criações esta outra visão de mundo.

Os simbolistas percorrem, assim, caminhos mais ousados e irracionais, recorrendo ao uso extremo dos símbolos e do misticismo, empreendendo rumo ao inconsciente uma jornada além dos limites extremos da razão, um mergulho nos recantos mais ocultos do inconsciente.

Para tanto, o simbolismo redescobre e redimensiona a subjetividade, o sentimento, a imaginação, a espiritualidade; busca desvendar o subconsciente e o inconsciente nas relações misteriosas e transcendentes do sujeito humano consigo próprio e com o mundo.

FICHA TÉCNICA
Da obra de Oscar Wilde
Dramaturgia e direção: Sergio Ferrara
Elenco:
Fransérgio Araújo – Oscar Wilde
Camila dos Anjos: Salomé
Gustavo Haddad – João Batista
Tony Lee – A Lua / Rainha Herodíade
Pablo Ginevro – Lord Alfred Douglas / Jovem sírio.
Ruben Espinoza – Mestre de Kenjutsu e Shindoryu
Cenário: Maria Bonomi
Concepção de luz: Caetano Vilela
Iluminador adjunto: Icaro Zanzini
Figurino: Kleber Montanheiro
Assistente de direção: Ana Lys
Contra regra: Emerson Nigro
Fotos: Vivian Fernandez
Assistente de produção: Luciana Affonso
Assessoria de imprensa: Douglas Picchetti e Helô Cintra (Pombo Correio)
Direção de Produção: Elder Fraga
Realização: Fraga & Ferrara Produções
Site: www.fragaeferrara.com.br

SERVIÇO
De 30 de agosto até 27 de outubro
Terças, quartas e quintas, às 20h
16 anos
50 minutos
Local: Porão do Teatro Sérgio Cardoso
50 lugares
Endereço: R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01326-010
R$ 50

Diálogos de Salomé com São João Batista

estreia dia 30 de agosto no Porão do Teatro Sérgio Cardoso

Texto e direção de Sérgio Ferrara

Fotos de Vivian Fernandez

 

Oscar Wilde na prisão evoca Salomé e São João Batista para falar sobre o amor e a traição. Nessa montagem, Salomé é caracterizada como um TENGU (ser fantástico das profundezas da mitologia japonesa que apavora os sonhos dos mortais). Da obra de Oscar Wilde com direção e dramaturgia de Sérgio Ferrara, a peça  resgata a poesia Simbolista de Cruz e Souza e Baudelaire e os poemas chineses da Dinastia Tang de Li Bai.

O espetáculo é concebido como uma instalação cênica no Porão do Teatro Sérgio Cardoso dando continuidade à pesquisa do diretor Sérgio Ferrara sobre a Trilogia dos Malditos com a ocupação de espaços não convencionais que começou com “Genet: O Poeta Ladrão”, de Zen Salles na sala Beta do Sesc Consolação e encerrará com Pier Paolo Pasolini.

Diálogos de Salomé com São João Batista estreia dia 30 de agosto no Porão do Teatro Sérgio Cardoso com Fransérgio Araújo, Camila dos Anjos, Gustavo Haddad, Tony Lee, Pablo Ginevro e Ruben Espinoza. Completam a ficha técnica Maria Bonomi (cenário), Caetano Vilela (iluminação) e Kleber Montanheiro (figurino).

Oscar Wilde e Salomé

“Buscamos resgatar por meio da encenação do texto Salomé do autor Oscar Wilde a estética do movimento Simbolista fazendo um paralelo com a poesia Simbolista na figura de Cruz e Souza: o Cisne negro do simbolismo brasileiro”, conta o encenador Sérgio Ferrara.

Uma das peças mais conhecidas de Oscar Wilde, Salomé foi escrita no ano de 1891, quando o escritor passou uma temporada em Paris. O tema para a peça já martelava a cabeça de Wilde desde, pelo menos, sua visita a uma exposição do pintor francês Simbolista Gustave Moreau voltado para o mesmo assunto.

Inspirada em uma história presente em passagens bíblicas e escrita originariamente em francês a peça conta, em um único ato, com os requintes típicos da elaboração estética de Wilde, a história de uma festa celebrada no palácio do tetrarca Herodes Antipas. Nesta festa, Salomé se revela apaixonada pelo profeta Iokanaan (mais conhecido como São João Batista), que estava preso no palácio por ter denunciado publicamente o casamento incestuoso entre Herodes e Herodíade, a qual fora casada com o irmão do tetrarca, bem como a corrupção reinante no governo.

A tensão da peça é grande: há sinais de que algo ruim ocorrerá, os quais se manifestam todo o tempo através de falas dos personagens principais ou mesmo os secundários, como alguns guardas. Salomé, então, pede a cabeça de Iokanaan em uma bandeja de prata. Embora Herodes tente, com as mais diversas e ricas ofertas, dissuadir sua enteada e sobrinha da solicitação feita, a promessa não pode ser quebrada e a cabeça do profeta é entregue a Salomé em uma bandeja de prata. Ela, então, pega a cabeça e beija a boca de Iokanaan, alcançando seu objetivo e atingindo um êxtase doentio. Vendo a cena, Herodes se exaspera e ordena que seus soldados acabem com a vida de Salomé porque nesse momento ele sente o prenúncio que um grande crime foi cometido contra um Deus desconhecido.

A figura de Salomé foi um dos mitos maiores na produção artística do fim do século XIX e uma fonte de inspiração constante para pintores, poetas, músicos, dramaturgos, escritores daquela época. Salomé representa a divindade mais afortunada do eterno feminino e tornou-se uma figura central do Simbolismo/Decadentismo francês e para ela, convergiram os sonhos e os fantasmas dos contemporâneos.

Em Diálogos de Salomé com São João Batista, “a encenação irá se voltar para o interior das personagens, buscando, através de uma linguagem de signos, colorida e vibrante do texto simbolista, sugerir as angústias do homem. Pelo seu aspecto enigmático, místico (até religioso) não estará preocupada com a descrição do mundo e sim com a sugestão de realidades (materiais ou abstratas) que compõem esse mundo”, conta o diretor.

“Oscar Wilde é a simples supremacia do cotidiano sobre os dogmas cristãos. Contra a fé e a crença em um mundo espiritual de ideias eternas e etéreas, Wilde rompeu com o modo platônico de pensar que vem se perpetuando através da cristandade por séculos. Ao contrário do que a sociedade da época estabelecia, tinha a crença de que a estética aflorava internamente no homem, onde o bom, o belo e o agradável são determinados pelo indivíduo e não em interesses diversos baseados na economia e religião. Preocupado com a possibilidade do ser humano tornar-se prisioneiro do mundo objetivo, encontra na imaginação a utilidade e beleza da mentira sem confundi-la com aquilo que é real”, completa.

O Teatro Simbolista, por Sérgio Ferrara

 

O teatro simbolista tem, como base, a união da poesia e da música. O teatro de Maeterlinck, por exemplo, oferece dramas líricos, em que se enfatiza o isolamento, a solidão e a nostalgia. O que importa, acima de tudo, é a valorização dos símbolos. No palco, as peças não devem apresentar uma temática realista, mas seu objetivo será, através da poesia, da música e da dança, criar um clima onírico, que expresse “estados de alma.”A iluminação irá ressaltar o ambiente onírico, através dos claros e escuros, ou seja, a criação de uma atmosfera lunar. Além de libertar o espaço de suas limitações, dando-lhe mais profundidade. Daí,ocasos, crepúsculos, noites de luar… As cenas são introspectivas, voltadas para uma “visão interior”. Figurinos terão cores, baseadas nos símbolos: o azul, por exemplo, significa o infinito; o branco, a paz; o vermelho, o sangue, a guerra e assim por diante.  Enfim, esse tipo de teatro deve levar o espectador a se sentir numa atmosfera de sonho, que irá estimular a sua fantasia e ampliar as suas habilidades imaginativas.

 

O Simbolismo é um movimento que aprofunda e radicaliza os ideais românticos, estendendo suas raízes à Literatura, aos palcos teatrais, às artes plásticas. Ele nasceu na França, no final do século XIX, em contraposição ao Realismo e ao Naturalismo. No intenso contato com a cultura, a mentalidade, as artes e a religiosidade orientais, os artistas desta época mergulham nestes valores distintos do pensamento ocidental, mais racional, e espelham em suas criações esta outra visão de mundo.

 

Os simbolistas percorrem, assim, caminhos mais ousados e irracionais, recorrendo ao uso extremo dos símbolos e do misticismo, empreendendo rumo ao inconsciente uma jornada além dos limites extremos da razão, um mergulho nos recantos mais ocultos do inconsciente.

 

Para tanto, o simbolismo redescobre e redimensiona a subjetividade, o sentimento, a imaginação, a espiritualidade; busca desvendar o subconsciente e o inconsciente nas relações misteriosas e transcendentes do sujeito humano consigo próprio e com o mundo.

 

FICHA TÉCNICA

Da obra de Oscar Wilde

Dramaturgia e direção: Sergio Ferrara

Elenco:

Fransérgio Araújo – Oscar Wilde

Camila dos Anjos: Salomé

Gustavo Haddad – João Batista

Tony Lee – A Lua / Rainha Herodíade

Pablo Ginevro – Lord Alfred Douglas / Jovem sírio.

Ruben Espinoza – Mestre de Kenjutsu e Shindoryu

Cenário: Maria Bonomi

Concepção de luz: Caetano Vilela

Iluminador adjunto: Icaro Zanzini

Figurino: Kleber Montanheiro

Assistente de direção: Ana Lys

Contra regra: Emerson Nigro

Fotos: Vivian Fernandez

Assistente de produção: Luciana Affonso

Assessoria de imprensa: Douglas Picchetti e Helô Cintra (Pombo Correio)

Direção de Produção: Elder Fraga

Realização: Fraga & Ferrara Produções

Site: www.fragaeferrara.com.br

SERVIÇO

De 30 de agosto até 27 de outubro

Terças, quartas e quintas, às 20h

16 anos

50 minutos

Local: Porão do Teatro Sérgio Cardoso

50 lugares

Endereço: R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01326-010

R$ 50