Dias Felizes
Grupo Garagem 21 faz nova temporada de sua versão feminista de Dias Felizes, de Samuel Beckett, no Teatro do Núcleo Experimental em setembro
Espetáculo dirigido por Cesar Ribeiro e estrelado por Lavínia Pannunzio e Edgar Castro, coloca em pauta a violência do patriarcado e as imposições relacionadas à construção do feminino
Com encenação inspirada no teatro do polonês Tadeusz Kantor e em histórias em quadrinhos e desenhos animados, a versão do grupo Garagem 21 para a peça Dias Felizes, de Samuel Beckett, volta em cartaz em São Paulo, desta vez no Teatro do Núcleo Experimental, de 13 de setembro a 7 de outubro, com apresentações às sextas, aos sábados, e às segundas, às 20h, e aos domingos, às 19h.
O espetáculo conta com apoio da Lei Paulo Gustavo do Estado de São Paulo. A direção é de Cesar Ribeiro e a atuação, de Edgar Castro e Lavínia Pannunzio, indicada ao APCA de melhor atriz pela montagem.
A peça traz a história de Winnie, uma mulher de 50 anos que dialoga de modo otimista sobre um passado glorioso e a esperança de dias melhores. Nessa condição precária, em um cenário desértico, ela se agarra às palavras e a seus últimos pertences para enfrentar a passagem do tempo e comandar seu universo de esperanças contraditórias com a realidade em que está inserida.
Na montagem, a violência do patriarcado, assim como as imposições relacionadas à construção do feminino, tornam-se o centro das discussões. Segundo o diretor, a voz que se ouve na peça é de Winnie, que o tempo inteiro retorna à expectativa de felicidade enquanto narra possibilidades de afeto perdidas no passado e a aridez do estado presente. Além da imobilidade ao estar enterrada, a memória é falha, o sol é constante e seu marido, interpretado por Edgar Castro, permanece indiferente, ao fundo da cena, absorto na leitura de manchetes de velhos jornais.
“Ao mesmo tempo, como um quebra-cabeça, o texto vai remontando uma relação afetiva que começa com a ‘conquista’ seguida por imediato silêncio entre o casal, resultado de um marido presente fisicamente, mas sem nenhum grau de escuta e que apenas grunhe palavras incompreensíveis e, às vezes, algumas frases soltas ou pequenas respostas”, explica Ribeiro.
A montagem utiliza obras como Eichmann em Jerusalém, em que Hannah Arendt propõe que o mal, ao atingir grupos sociais, é político e ocorre onde encontra espaço institucional, gerando a naturalização da violência como processo histórico e sociopolítico. Dessa forma, “Dias Felizes” aborda a desumanização, que condiciona grandes parcelas da população a uma cidadania de segunda classe.
“O isolamento, a escassez de recursos, a natureza hostil e a oposição entre os desejos de luta pela vida e desistência diante das adversidades configuram a obra como uma representação do abandono pelo Estado, pela coletividade e por qualquer suposta divindade organizadora. Mas como garantir a vida de milhões de pessoas vulneráveis socialmente sob uma realidade excludente?”, questiona Cesar Ribeiro.
A proposta de montagem segue a investigação dos sistemas de violência característica do grupo Garagem 21. Em Esperando Godot é investigada a violência estrutural e em O Arquiteto e o Imperador da Assíria o foco está na violência cultural.
Sobre o grupo Garagem 21
O grupo Garagem 21 surgiu em 2009, na cidade de São Paulo. Desde o princípio, centra suas pesquisas na investigação da ideia de poder e suas extensões no corpo social. Do ponto de vista estético, procura um híbrido do teatro com outras linguagens, como quadrinhos, videogames, desenhos animados e dança contemporânea, em busca de uma forma de fazer teatro relacionada à transformação social propiciada pelas novas tecnologias e capaz de fomentar um público contemporâneo e alheio ao teatro, além da continuidade do público usual.
Neste período, encenou as seguintes peças: O Arquiteto e o Imperador da Assíria (2021), Esperando Godot (2016), Cigarro Frio em Noites Mornas (2012), Fodorovska (2010), Somente os Uísques São Felizes (2009) e Sessenta Minutos para o Fim (2009) – “Dias Felizes” foi selecionada no Prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro 2022, na Lei Paulo Gustavo do estado de São Paulo, no edital da Caixa Cultural e com indicação de Lavínia Pannunzio ao Prêmio APCA de Melhor Atriz; O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando Arrabal, foi selecionada no Prêmio Zé Renato de produção do segundo semestre de 2019, no Prêmio Zé Renato de circulação do primeiro semestre de 2022 e no ProAC de circulação de 2022; e “Esperando Godot”, também de Beckett, foi selecionada no ProAC de Circulação de 2017 e indicado ao Prêmio Shell de Figurino do mesmo ano (Telumi Hellen).
Apresentou-se também em diversos festivais, como: Festival Nacional de Teatro de Ribeirão Preto (SP), Festival de Teatro de Curitiba (PR), Funalfa – Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora (MG), Floripa Teatro (SC), Festival de Teatro de Lages (SC), Festival de Teatro de Campo Mourão (PR), Festival de Teatro de Catanduva (SP), FestCamp (Campo Grande/MS), Festival Nacional de Teatro Pontos de Cultura (Floriano/PI), Mostra Jacareiense de Artes Cênicas (Jacareí/SP), Festival de Teatro da Unicentro (Guarapuava/PR), Festivale – Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba (São José dos Campos/SP) e Festival Nacional de Comédia (Alegre/ES). Apresentou-se ainda na primeira e na segunda edição da Festa do Teatro e na edição 2010 da Virada Cultural.
FICHA TÉCNICA
Texto: Samuel Beckett
Direção e trilha sonora: Cesar Ribeiro
Atuação: Lavínia Pannunzio e Edgar Castro
Cenografia: J. C. Serroni
Desenho de luz: Domingos Quintiliano
Figurinos: Telumi Hellen
Visagismo: Louise Helène
Direção de produção: Marisa Medeiros
Coordenação geral de produção: Edinho Rodrigues
Fotos: Bob Sousa
Assessoria: Pombo Correio
Realização: Grupo Garagem 21, Brancalyone Produções, Mecenato Moderno e Lei Paulo Gustavo do estado de São Paulo
Sinopse
A peça traz a história de Winnie, uma mulher de 50 anos que dialoga de modo otimista sobre um passado glorioso e a esperança de dias melhores. Nessa condição precária, em um cenário desértico, ela se agarra às palavras e a seus últimos pertences para enfrentar a passagem do tempo e comandar seu universo de esperanças contraditórias com a realidade em que está inserida.
Serviço
Dias Felizes, com Grupo Garagem 21
Temporada: 13 de setembro a 7 de outubro
Às sextas, aos sábados e às segundas, às 20h, e aos domingos, às 19h
Teatro do Núcleo Experimental – Rua Barra Funda, 637 – São Paulo – SP
Ingressos: R$40 (inteira) e R$20 (meia-entrada)
Venda online em https://www.sympla.com.br/
Bilheteria física (sem taxa de conveniência): Teatro do Núcleo Experimental
Horário de funcionamento: em dias de espetáculos, a bilheteria abre 1h antes do início da apresentação.
Duração: 120 min. (incluindo um intervalo de 15 minutos)
Classificação: 12 anos.
Gênero: Tragicomédia.
Informações: compras pela internet (com taxa de conveniência)