AMADORES

Novo espetáculo da Cia Hiato está em cartaz no Sesc Consolação. Atores profissionais e artistas amadores se encontram em cena em ‘Amadores’, que fica em cartaz até dia 29 de maio

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Fotos de Ligia Jardim e Yumi Ogino

Como podemos trazer para o reino da representação indivíduos e corpos que muitas vezes são excluídos dessa possibilidade? Como podemos usar o acontecimento teatral e seus recursos – suas convenções, códigos, locais, gêneros e profissionais – a fim de readequar sua moldura, ou seja, aumentar o perímetro do que pode ou não ser colocado num palco? E ainda: como podemos repensar o palco como um meio democrático, ao alcance de todos aqueles atraídos pela efemeridade da cena?

Novo espetáculo da Cia Hiato, Amadores fica em cartaz no Sesc Consolação até dia 29 de maio.

Amadores é um espetáculo teatral resultante da atual pesquisa da Cia. Hiato. Atores profissionais e artistas amadores de diversas áreas (selecionados através de anúncios em jornal ou oficinas públicas) se encontram em cena. O que começou como uma entrevista, em que cada um deles exibiu suas especialidades e seus “objetos de arte” chega ao palco como um compartilhamento de experiências pessoais que questionam nossa relação com a arte e como nosso desejo por ela pode revelar nossa história, nossos desejos e nossas falhas ­ a desesperança, o anseio pelo outro, a falta de pertencimento.

O espetáculo é um relato poético, mas também um manifesto artístico. Uma galeria de retratos vivos. Um passeio por histórias e contextos que poderiam nos separar, mas que se aproximam em cena. Um evento que almeja o estabelecimento (ainda que só poético, porque tão distante da experiência real) de um palco sem divisões.

Depois do “Projeto Ficção”, em que o depoimento biográfico é um meio de questionar própria teatralidade, a Cia Hiato retorna à cena paulista com uma nova abordagem: deixa de lado o depoimento pessoal para olhar o outro, aquele que normalmente é excluído do palco ou que só aparece nele como representação ou discurso.

No palco, estes indivíduos são portadores de um discurso pessoal que os revela também socialmente: seja pela marginalização por questões raciais, de gênero ou sexualidade; seja por uma exclusão de classe (e, logo, geográfica, na cidade de São Paulo) ou por contextos culturais diversos. O trabalho, porém, não corre o risco de ser interpretado apenas sob um prisma social. Antes, o que se vê em cena é uma espécie de diálogo cênico que remove (ou, pelo menos, confronta) as distinções entre artistas e artesãos, profissionais e amadores, cena e política.

Não se trata apenas de colocar em cena pessoas cuja relação com a experiência artística é secundária ou cuja qualidade técnica é limitada, mas sim dar voz àqueles que são marginalizados da artes (como público ou como profissionais). É também a possibilidade de colocar em cena pessoas para quem o palco é o seu trabalho e aqueles a quem o palco nunca foi “permitido”.

SINOPSE
Um anúncio de jornal convida pessoas que se definam como “amadores” para uma seleção de elenco. No mesmo palco, artistas amadores e profissionais se encontram. A nova criação da Cia Hiato – o espetáculo AMADORES – volta-se às experiências teatrais mais comuns (o evento comemorativo, a festa, a apresentação amadora de fim de ano, o exercício) e as subverte, colocando-as num espaço de artes, para refletir sobre nossa relação com a arte e como o nosso desejo por ela revela nossas histórias pessoais, superações e falhas.

SOBRE A CIA. HIATO
Em 2016, a Cia. Hiato comemora oito anos desde a estreia de seu primeiro espetáculo, “Cachorro Morto”. Nesses anos, o projeto artístico da Cia. foi compartilhado com o público através da criação de cinco espetáculos, que associam memória e invenção, alicerçados em dois pilares fundamentais.

O primeiro deles, a investigação de novas dramaturgias, que vão desde a escrita linear que é a multiplicada e fracionada constantemente (Cachorro Morto),  passando por um mapa textual cujas lacunas são expostas a partir de diferentes perspectivas (Escuro – Prêmio Shell de Melhor Autor, Cenário e Figurino; Prêmio CPT de Melhor Dramaturgia e Projeto Visual) ou por uma estrutura fractal, simultânea e fragmentada que simula os procedimentos mnemônicos (O Jardim – Prêmio Governador do Estado, Prêmio APCA de Melhor Direção, Prêmio Shell de Melhor Autor e  Cenário) até o depoimento autoral que questiona procedimentos de representação e autoria (Ficção – 3 indicações ao Prêmio Shell, Prêmio Questão de Crítica de Melhor Ator; e 2 Ficções – coprodução com o KunstenFestivaldesArts/ Bruxelas).

O segundo pilar é a autoria de seus atores, impressa na transformação de biografias em ficções, alinhavando referências literárias a memórias – entre o discurso artístico e o depoimento pessoal, entre o indivíduo e o coletivo, entre o público e o privado.

Após uma série de apresentações em importantes palcos e festivais internacionais – Alemanha, Áustria, Bélgica, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Holanda, Grécia e Romênia – o coletivo retorna a São Paulo para dar um passo em direção oposta aos recentes trabalhos da Cia. Hiato.

Abandonamos a pessoalidade, a metalinguagem e a biografia para pensar o outro, aquele que normalmente é excluído do palco ou que só aparece nele como representação ou discurso.

Ficha técnica – Amadores
Uma criação da Cia. Hiato
Aline Filócomo
Aura Cunha
Fernanda Stefanski
Leonardo Moreira
Luciana Paes
Maria Amélia Farah
Marisa Bentivegna
Paula Picarelli
Thiago Amaral
Yumi Ogino

Elenco
Aline Filócomo
Chicão Paraizo
Dalva Cardoso
Dom Lino
Fabi de Farias
Fernanda Stefanski
Giovanni Barontini
Márcia Nishitani
Maria Amélia Farah
Maurício Oliveira
Nairim Bernardo
Nsona Kiaku Arão Isidoro Jorge
Oswaldo Righi
Paula Picarelli
Roberto Alves
Ronaldo de Morais
Rose Sforcin
Thiago Amaral

Serviço – Amadores
De 29 de abril a 29 de maio.
120 minutos.
16 anos.
Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação – Rua Dr Vila Nova, 245
280 lugares.
Tel: (11) 3234-3000.
Quinta a sábado às 21h, domingos e feriado às 18h
R$ 40.
Até dia 29 de maio.

www.ciahiato.com.br
www.sescsp.org.br