O DEUS DA CIDADE

Foto de Luciano Alves

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Cia. Os Fofos Encenam estreiam O deus da cidade com dramaturgia inédita de Cássio Pires e direção de Fernando Neves

Em “O deus da cidade” gêneros tradicionais como circo-teatro, o teatro de revista e o espetáculo de variedades inspiram a criação de uma série de cenas independentes, que se aproximam por procurarem refletir sobre grandes impasses do nosso tempo. Com direção musical de Fernando Esteves, iluminação de Eduardo Reyes, figurinos de Carol Badra e Leopoldo Pachedo e cenografia de Marcelo Andrade e Zé Valdir, a peça traz no elenco os atores Carlos Ataide, Cris Rocha, Eduardo Reyes, Erica Montanheiro, Katia Daher, Marcelo Andrade, Rafaela Penteado, Simone Evaristo, Silvia Poggetti e Zé Valdir. A peça estreia dia 18 de março às 21h no

Espaço dos Fofos
Este novo projeto da cia. Os Fofos Encenam propõe a verticalização da estética circense por meio da inclusão de uma temática de maior cunho social, utilizando como primeira inspiração o material artístico do dramaturgo alemão Bertolt Brecht e do Teatro de Revista, para depois criar uma dramaturgia inédita, junto com o dramaturgo Cássio Pires. “Brecht serviu bem à primeira etapa de trabalho. Quando a companhia se aproximou dele, foi para buscar certos mecanismos de linguagem que permitem lidar com contradições sociais. Depois desse momento, começamos a fazer tentativas a partir de nossas perspectivas, de nossas perguntas sobre o mundo em seu atual estágio de desenvolvimento. Então, nesse sentido, Brecht foi um ponto de partida, não exatamente um ponto de chegada”, comenta o dramaturgo.

Em 2012 / 2013, por meio da Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, Os Fofos realizaram o projeto Baú da Arethuzza que se propôs a investigar o desenvolvimento da teatralidade existente sob as lonas de circo na primeira metade do século XX, período que consolidou o circo-teatro como gênero teatral. O projeto realizou a montagem de 5 peças do acervo do Circo Teatro Arethuzza. Recebeu a indicação do Prêmio Shell de Teatro na categoria Inovação e ganhou o Prêmio APCA na categoria especial.

Se no Baú o interesse era estético (pesquisar a evolução da teatralidade circense), neste novo projeto Os Fofos visam a elaboração dos discursos que interessam ao grupo. Refletir sobre o lugar que o teatro ocupa na configuração cultural e sociopolítica da atualidade e articular o discurso, sem deixar de promover o diálogo com o público. “A dramaturgia que surge daí tem um pouco a cara de um balaio, de uma junção de um tanto de questões que foram surgindo e se transformando em cena. É revisteira no sentido de fazer uma revisão de grandes temas do nosso tempo, de falar sobre uma série de coisas ao mesmo tempo. Tem a ver com circo-teatro por procurar reinventar tipos, por operar em uma perspectiva textual que é não-psicológica. Acima de tudo, o texto tem a ver com o enfrentamento de questões políticas que não podem ser postas de lado. Por outro lado, o texto não gera uma mensagem. Ele partilha um monte de perguntas, sem se preocupar com colocar uma delas no centro”, completa Cássio Pires.

Essa necessidade surge a partir dos desafios encontrados pelos Fofos: a manutenção do grupo e a própria existência enquanto companhia de teatro e espaço cultural (no início de 2014 o Espaço dos Fofos, assim como diversos coletivos teatrais da cidade de São Paulo, sofreram as consequências da especulação imobiliária e por pouco não fechou as portas).

Sobre Os Fofos Encenam
Com 14 anos de existência, Os Fofos Encenam seguem uma dinâmica de trabalho que intercala as duas linhas de pesquisa, circo-teatro e teatralidades contemporâneas, conduzidas por Fernando Neves e Newton Moreno, respectivamente
Desde 2002 a cia. Os Fofos Encenam empreende investigação acerca da estética do circo-teatro. Coordenada por Fernando Neves, descendente de artistas circenses, Os Fofos encenaram sob sua direção o vaudeville “A Mulher do Trem” (2003) e o drama trágico “Ferro em Brasa” (2006), estabelecendo assim uma das linhas de pesquisa existentes na cia..

A pesquisa encabeçada pelo diretor Newton Moreno revela o estudo das raízes da sociedade brasileira na temática dos espetáculos “Assombrações do Recife Velho”, “Memória da Cana” e “Terra de Santo”.

Na pesquisa dirigida por Fernando Neves, o trabalho com uma linguagem específica era o ponto de partida, reconhecendo o caráter sociocultural dessa escolha na redescoberta do ator popular brasileiro. O que rege a pesquisa proposta pelo diretor é o reencontro com um modo de atuar característico de um teatro que fazia muito sucesso nas primeiras décadas do século XX, focado no ator e suas habilidades.

Depois das montagens de “A Mulher do Trem” (2003) e “Ferro em Brasa” (2006), os estudos do grupo sobre a linguagem do circo e o processo de criação do artista circense se aprofundaram em 2007, por meio do projeto O Ninho, contemplado pela 12ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro.

Em um segundo momento, já em 2009, o projeto Do Ninho aos Vôos, também fomentado, permitiu à cia. um novo experimento.
Recentemente, o grupo executou o projeto de fomento nomeado Baú da Arethuzza, em que o foco foi investigar o modus operandi dos artistas circenses e a evolução da teatralidade circense de 1900 a 1950 (dramaturgia, cenografia e interpretação). Aulas de circo, aulas de dança de salão e cinco montagens de textos do Circo Teatro Arethuzza foram algumas das ações contempladas pelo projeto. As montagens de uma pantomima (“Antes do enterro do anão”), uma burleta (“Vancê não viu minha fia?”), dois melodramas (“A ré misteriosa” e “A canção de Bernadete”) e uma chanchada (“Dar corda pra se enforcar”) revelaram a complexidade do circo-teatro enquanto gênero teatral.

Experimentar o modus operandi dos artistas circenses era um dos principais focos na realização do Baú: treinamento de circo, montar as peças em apenas duas semanas, alternar mensalmente os gêneros teatrais contidos na estética Circo-Teatro. Estas montagens apresentaram-se como um procedimento de verticalização na pesquisa deste gênero para os atores dos Fofos: os recursos adquiridos e a ampliação do repertório de cada ator transformou o Baú da Arethuzza em um divisor de águas no trabalho do grupo.

A redescoberta e a revitalização do circo-teatro são acontecimentos de caráter político-cultural. Porém, isso não basta. Considerando o poder de comunicação que fundamenta as formas populares, os Fofos estão mobilizados na elaboração de um discurso crítico que promova transformações nos artistas e no público.

Sinopse
“O deus da cidade” é composto por quadros que pretendem expor algumas das contradições dos tempos atuais. Na peça, cenas fabulares, líricas e musicais acentuam o caráter de personagens que reagem ao mundo de acordo com seus próprios valores, quaisquer que sejam eles.

Ficha Técnica
Dramaturgia: Cássio Pires Gênero: comédia. Direção: Fernando Neves. Direção musical e pianista: Fernando Esteves. Elenco: Carlos Ataide, Cris Rocha, Eduardo Reyes, Erica Montanheiro, Katia Daher, Marcelo Andrade, Rafaela Penteado, Simone Evaristo, Silvia Poggetti e Zé Valdir. Cenografia: Marcelo Andrade e Zé Valdir. Iluminação: Eduardo Reyes. Figurino: Carol Badra e Leopoldo Pacheco. Fotografia: Ligia Jardim. Direção de produção: Eduardo Reyes. Produção: Os Fofos Encenam – Cooperativa Paulista de Teatro. Realização: Programa Municipal de Fomento ao Teatro – Prefeitura de São Paulo – Secretaria de Cultura

Serviço
O deus da cidade. Estreia: 18 de março de 2016 | 21h
Espaço dos Fofos – Rua Adoniran Barbosa, 151, Bela Vista – SP – CEP: 01318-020. Fone: (11) 3101.6640. Temporada: 18 de março a 29 de maio. Sessões: sextas, sábados: 21h. Domingo: 19h. Indicação etária: não recomendado para menores de 16 anos. Duração: 80 minutos. Capacidade: 54 lugares. Ingressos: R$ 20,00 / R$ 10,00. Cartões: aceita todos os cartões. Meia entrada: para estudantes, professores da rede pública, maiores de 60 anos e classe teatral. Acessibilidade. Classificação etária: 16 anos