O Fazedor de Teatro nos Teatros Alfredo Mesquita, Cacilda Becker e Arthur Azevedo

O Fazedor de Teatro tem novas apresentações gratuitas nos Teatros Alfredo Mesquita, Cacilda Becker e Arthur Azevedo a partir de março de 2024

Com encenação de Marcio Aurélio, a peça da Cia Razões Inversas rendeu indicações ao ator Paulo Marcello aos prêmios Shell e APCA

O fazedor de Teatro, Cia Razões Inversas
Crédito: João Caldas Fº

Montada originalmente em 2022, em comemoração aos 30 anos de trajetória da Cia. Razões Inversas, a peça O Fazedor de Teatro ganha novas apresentações no Teatro Arthur Azevedo (28 de março a 7 de abril). Pelo trabalho, o ator Paulo Marcello recebeu indicações aos prêmios Shell e APCA.

A peça é dirigida por Marcio Aurelio, tem tradução de Samir Signeu e traz no elenco Paulo Marcello, Lilian Alves / Indy Tavares, Eduardo Santos e Gabriela Marques, além dos atores-convidados Eugênio La Salvia e Ana Souto, que já integraram a companhia anteriormente.

Escrito pelo austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), em 1984, O Fazedor de Teatro tem no próprio teatro o paradigma do absurdo da existência humana. Um teatro – leia-se a vida – que falha não só perante as condições exteriores de um mundo adverso, mas também perante os fantasmas, a prepotência e as fraquezas dos protagonistas e da própria sociedade. Assim, temos o teatro como o microcosmo da sociedade. 

Na trama, Bruscon está em viagem com a peça A Roda da História, que ele escreveu, dirigiu e protagoniza. A trupe, formada pela esposa e os dois filhos desse “grande” ator do teatro nacional alemão, chega a um pequeno vilarejo da Áustria, chamado Utzbach, para se apresentar em um salão de baile de uma estalagem decadente. 

O calor, a sujeira, a falta de recursos, além do cheiro insuportável de chiqueiro e da fábrica de chouriço, completam a cena de desolação frente ao pequeno vilarejo com seus 280 habitantes embrutecidos. Para piorar a situação, os artistas precisam da autorização do chefe dos bombeiros para que a luz de emergência fique apagada durante cinco minutos, condição essencial para a perfeita realização do espetáculo. 

“Bruscon é um cara super egóico, que fala de si o tempo todo. Mas ele é totalmente apaixonado pelo teatro. Enquanto ele imagina esse mundo maravilhoso da arte, está diante da realidade de um lugar horrível, onde ninguém liga para o que ele faz. E, ao mesmo tempo que tem esse ego gigante, vai revelando toda a sua fragilidade, o medo de entrar em cena, a sua insegurança – daí essa necessidade de autoafirmação o tempo todo”, comenta Paulo Marcello, que comemora 40 anos de palco neste trabalho, sobre seu personagem.

Para o intérprete, o texto cria uma reflexão importante sobre a arte que cabe perfeitamente ao contexto brasileiro. “Thomas Bernhard nasceu na Áustria, mas odiava o país. Ele dizia que esse era um lugar atrasado, de pessoas ignorantes e nazistas, de xenofobia e desprezo pela arte – tanto que quando ele era vivo proibiu que seus textos fossem encenados lá. E, de certa forma, vivemos no Brasil um momento um pouco parecido, de desvalorização da arte”, acrescenta. 

A Cia. Razões Inversas flertava com a montagem desse texto há bastante tempo, conta o diretor Marcio Aurelio. “Conheci o texto com o Abujamra e fiquei encantado. Estávamos só esperando o momento mais propício para montá-lo e isso calhou muito bem com os 30 anos da companhia. O espaço do Sesc Pompeia também foi muito apropriado para receber a montagem, porque ele é todo feito em paredes de tijolo. E queremos retratar uma cidade sem acabamento nesse lugar, como um reflexo para a sociedade, que também não tem acabamentos”, conta.

Além dos 30 anos da Razões Inversas, O Fazedor de Teatro comemorou os 40 anos de teatro de Paulo Marcello, co-fundador do grupo, montado por alunos formados pela primeira turma da graduação em Teatro da Unicamp.

Sobre Thomas Bernhard

Thomas Bernhard (1931-1989), novelista, poeta e dramaturgo austríaco, é considerado um dos autores mais relevantes da literatura de língua alemã da metade do século XX. Ele nasceu em Heerlen, na Holanda; filho de mãe solteira, que após ficar grávida tinha saído da Áustria para trabalhar como diarista na Holanda.

Bernhard volta para Viena ainda em 1931, onde é criado pelos avôs maternos. Na infância viveu os horrores da Segunda Guerra e na juventude estudou canto, violino e estética musical. Iconoclasta, Thomas Bernhard prima por criticar a Áustria; assim como mostrar os absurdos de uma sociedade reacionária e calcificada. Sempre lutou contra doenças pulmonares e morreu de pleurisia. 

No Brasil, no campo editorial, temos a publicação de alguns de seus romances e narrativas, como Arvores Abatidas (1991), O sobrinho de Wittgenstein (1992) e Perturbação (1999), pela editora Rocco e, pela Companhia das Letras, as obras Extinção (2000), O náufrago (2006), Origem (2006) – volume que contém seus cinco romances autobiográficos, a saber: A causa, O porão, A respiração, O frio e Uma criança –, O imitador de vozes (2009), Meus Prêmios (2011) e Mestres Antigos (2021). 

Há, ainda, a publicação das peças O Fazedor de Teatro (2017), pela Perspectiva, e Praça dos Heróis (2020), pela Temporal; além de O presidente, num caderno brochura, do Instituto Goethe, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Sua obra é marcada pela prática da estética do choque, plena do niilismo, misantropia e misoginia dos seus personagens. Uma máquina da linguagem irônica. 

Uma disposição testamentária do próprio Bernhard, falecido em 1989, proibia que suas peças fossem encenadas e publicadas na Áustria – à exceção daquelas que já estavam em curso. Essa proibição foi revertida em 1998, por iniciativa da fundação particular Thomas Bernhard, presidida por Peter Fabjan, seu meio-irmão.

Sobre a Cia. Razões Inversas

A Cia. Razões Inversas foi criada em 1990 pelo diretor Marcio Aurelio e a primeira turma de formandos do curso de Artes Cênicas da Unicamp. Nestes mais de 30 anos, construiu uma trajetória voltada para o constante processo de pesquisa, para a formação de seus intérpretes, artistas criadores, na busca do diálogo com o público contemporâneo e da excelência do fazer teatral.

A companhia criou 23 espetáculos partindo de textos consagrados da dramaturgia internacional, textos inéditos de autores nacionais e criações coletivas a partir de longos processos de pesquisa e criação.

Entre esses muitos trabalhos estão “A Bilha Quebrada” (1994 e 2011), de Heinrich von Kleist; “A Arte da Comédia” (1999), de Eduardo de Fillipo; “Agreste” (2004), de Newton Moreno; “Anatomia Frozen” (2009), uma adaptação da obra da inglesa Bryony Lavory; “Senhorita Else”, uma adaptação do romance de Arthur Schnitzler; e “Filoctetes” (2015), de Heiner Müller.

Ficha Técnica

Texto: Thomas Bernhard 

Tradução: Samir Signeu 

Encenação: Marcio Aurelio 

Elenco: 

Paulo Marcello 

Ana Souto (Atriz convidada) 

Eugênio La Salvia (Ator convidado) 

Lilian Alves / Indy Tavares 

Eduardo Santos 

Gabriela Marques 

Diretora Assistente: Lígia Pereira 

Cenários: Marcio Aurelio e Marcelo Andrade 

Figurinos: Marcio Aurelio e Carol Badra 

Visagismo: Olívia Tartufari 

Trilha Sonora: Marcio Aurelio 

Projeto de Luz: Aline Santini 

Operador de Luz:  Silviane Ticher

Operador de Som: André Luiz Lemes 

Preparação Corporal: Luciana Hoppe 

Fotos: João Caldas Jr. 

Design Gráfico: Alexandre Caetano 

Divulgação: Pombo Correio 

Produção Executiva: Cristiane Klein e Júnior Cecon – Dionísio Produção 

Produtores/Colaboradores Dionísio Produção: Lívia Império, Wesley Mendes, Flávia Santos, Thomas Calux e Raissa Castilho 

Produção: Paulo Marcello – Razões Inversas Marketing Cultural 

Assistente de Produção: Luciana Hoppe 

Sinopse:
Bruscon, ator do teatro nacional alemão, depois de sua aposentadoria, faz turnês pelo interior da Áustria e da Alemanha. Bruscon aglutina e carrega consigo todas as funções relativas ao fazer teatral: foi ele quem escreveu e dirigiu a peça. Além disso, Bruscon se preocupa com as funções administrativas e financeiras da companhia, que é de ordem familiar: os componentes do grupo são sua esposa, sua filha e seu filho. A peça começa quando a companhia chega à hospedaria onde fará sua apresentação numa pequena cidade do interior da Áustria.

Este projeto foi contemplado pela 17ª Edição do Prêmio Zé Renato – Secretaria Municipal de Cultural

Serviço
O Fazedor de Teatro, da Cia. Razões Inversas

Ingressos: Grátis, distribuídos uma hora antes de cada apresentação

Classificação: 14 anos

Duração: 100 minutos

Teatro Alfredo Mesquita – Av. Santos Dumont, 1770, Santana 

Quando: 6 a 10 de março, de quarta a sábado, às 21h, e no domingo, às 19h

Acessibilidade: sala acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295, Lapa

Quando: 14 a 17 de março, de quinta a sábado, às 21h, e no domingo, às 19h
Acessibilidade: sala acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

Teatro Arthur Azevedo – Avenida Paes de Barros, 955, Alto da Mooca Quando: 28 de março a 7 de abril, de quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 19h

Acessibilidade: sala acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida