HÁ DIAS QUE NÃO MORRO
Academia de Palhaços & ultraVioleta_s fazem nova temporada de Há Dias Que Não Morro no Galpão do Folias em novembro
Peça é a segunda parte da Trilogia da Morte, iniciada pelo premiado Adeus, Palhaços Mortos. Espetáculo foi concebido e dirigido por Aline Olmos, José Roberto Jardim, Laíza Dantas e Paula Hemsi a partir do texto de Paloma Franca Amorim
Depois do bem-sucedido Adeus, Palhaços Mortos (prêmios Shell de melhor cenário e Aplauso Brasil de melhores espetáculo de grupo e direção), a companhia Academia de Palhaços dá início a uma nova fase de pesquisa e passa a se chamar ultraVioleta_s. Para marcar essa transição, o grupo estreou o espetáculo Há Dias Que Não Morro, que, depois de uma passagem pelo Sesc Pompeia, reestreia no Galpão do Folias no dia 2 de novembro.
A peça teve uma pré-estreia em maio na Turquia e é a segunda parte da Trilogia da Morte, que teve início em 2016 com a estreia de Adeus, Palhaços Mortos. Agora a busca estética pela linguagem desenvolvida anteriormente se aprofunda e se mescla à criação de um texto original de Paloma Franca Amorim e a uma direção coletiva de Aline Olmos, José Roberto Jardim, Laíza Dantas e Paula Hemsi.
Inspirada na discussão sobre segurança e liberdade e na fricção dessa balança em foco na política atual, a encenação busca ampliar o debate sobre os aprisionamentos contemporâneos e corpos em paranoia. Em cena, estão três atrizes em um cubo-jardim feito para agradar. Elas acordam para seus dias sempre ensolarados, escutam sempre os mesmos pássaros, alegram-se com a mesma nuvem. As intérpretes viram figuras-bonecas exteriormente idênticas. O público acompanha dia após dia o decorrer dessas figuras. Suas falas partiturizadas e seus corpos estáticos passam por uma dimerização de tônus que deslocam seus estados diários.
A visualidade é toda pautada por cores vibrantes e formas graciosas, exacerbando um universo confortável das aparências, uma caixa instagramável, uma representação de armadilha moderna para aprisionamentos contemporâneos. Esse cubo-jardim é um desdobramento do premiado cenário de Adeus, Palhaços Mortos. Já a trilha sonora se instaura como um mantra e cai como uma âncora em alto-mar.
Hoje vivemos a ficção da realidade e essa obra exacerba a ficção. Numa época em que palavras são jogadas ao léu como se fossem desprovidas de peso e consequência, essa obra satura frases corriqueiras em repetições constantes para provocar movimento. Estamos enredados em um sistema inerte e cíclico e a dramaturgia em repetição intensifica essa sensação atual, distanciando o espectador para que ele se projete naquele cubo-jardim e criando nele uma espécie de olhar premonitório. O texto é mutilado ao longo de seu curso e ressignificado com suas próprias palavras em novos contextos.
Antes de entrar na sala de espetáculos, o espectador se depara com uma intervenção do lado de fora do Espaço Cênico. Na parede, um arco-íris luminoso, composto por luzes em movimento, envolve a porta de entrada e sua fachada. Deitado no chão, em frente à porta, está a figura de um palhaço com seu rosto coberto por uma máscara. No chão, um piso brilhante reflete e enquadra a situação, cria uma outra dimensão do espaço, transformando-o em um loop de si mesmo. Quando a porta se abre, o público deve passar por cima do palhaço para adentrar a sala de espetáculo.
Essa obra-prólogo foi criada para desequilibrar o espectador antes do espetáculo. Uma espécie de introdução constituída pela surpresa diante de uma configuração absurda: um arco-íris, um ambiente feliz e o corpo real de um palhaço estendido no chão que problematiza a entrada do teatro. A intervenção configura-se como um convite para o mundo mágico e absurdo que o espetáculo explorará.
Sobre o texto por Paloma Franca Amorim
“Fui convocada ao longo de nossos ensaios, certamente pelo próprio decorrer da linguagem de Há Dias que Não Morro, a armar um cubo mágico em seu estado inicial, misturado, confuso, desafio primeiro para as forças da memória e da agilidade de quem ousar montá-lo e assim descobrir a experiência formada pela combinação aleatória (ou não?) de movimentos.
Como autora particularmente gosto de jogos preparados tanto do ponto de vista da prosa literária quanto da dramaturgia. A palavra como peça-chave, nesse tipo de formalização, tende a operar sobretudo nos mecanismos da repetição, uma medida que proporciona ao leitor/espectador reconhecimento das ações, de modo a causar-lhe um enlace, tornando-o parte da trama, uma espécie de olhar premonitório.
Uma vez cúmplice, pode ser novamente enredado, como se eu lhe puxasse o tapete de adivinho, e reconfigurasse o significado daquilo que já conhece.
Eu me explico melhor pela analogia do cubo mágico: quantas vezes o quadradinho azul terá que dar voltas no cubo para encontrar seus pares e finalizar o jogo? Quantos espantos encerrará se em meio a todas as vezes que ele se repete sob o olhar do jogador, numa delas, for possível por mágica ou teatralidade tornar-se vermelho?”
Sobre a ultraVioleta_s
Com o espetáculo Há Dias Que Não Morro, a companhia que anteriormente se chamava Academia de Palhaços muda seu nome para ultraVioleta_s e dá início a mais uma fase de seu trabalho. Para entender essa necessidade de transformação tão vital para as integrantes, nada melhor que um retrospecto para ver de onde a companhia veio e para onde ela vai.
O grupo surge em 2007, dentro das Artes Cênicas da Unicamp, e até 2014 se debruça sobre o universo do palhaço de picadeiro brasileiro e do circo-teatro, estudando e incorporando à sua visão de encenação e ao seu corpo de intérpretes o tônus do ator popular, seu timing e sua relação direta com o público. Esse período se deu como formação pedagógica para os artistas, desde o momento de encarar em cena os quiproquós dos textos da tradição circense até produzir um sonho e dar-lhe vida: O Maravilhoso Teatro Ambulante da Academia de Palhaços. O projeto trata-se de cinco peças da tradição popular montadas sobre uma kombi-palco que levava esse repertório pelas periferias de São Paulo. Um processo de dois anos intensos que, um mês depois da estreia, é interrompido por um incêndio na kombi (com seus equipamentos, figurinos e cenários virando cinzas).
Sensacionalismos à parte, esse evento é um divisor de águas na história do coletivo. Uma pergunta surge para a cia: Quem queremos ser a partir de agora? E é então que o novo período vai se formando. Olhando para o passado e burilando o presente, o coletivo vai entendendo suas visões estéticas e desejos criativos de realização. Em 2015, os atores vão morar no Circo de Teatro Tubinho e lá experienciam a vida circense no palco, nas vendas e nas funções de organização. Eis que, em 2016, a kombi-palco é construída novamente, numa espécie de teimosia artística que denominamos Missão Fênix. Nela, as cinco peças voltaram à vida e duas novas foram criadas. “Adeus, Palhaços Mortos” surge do encontro dos atores com o diretor José Roberto Jardim, uma simbiose potente que se utilizou desse pedal do renascimento de um coletivo para aprofundar suas pesquisas em dramaturgia, encenação, interpretação e nos dispositivos tecnológicos a favor da cena.
Essa obra dá início à internacionalização do trabalho da companhia, que participou de festivais em Taiwan (WSD 2017) e na Turquia (Antalya ITF e Black Sea ITF). Depois de desfrutar de uma longa temporada de circulação desse espetáculo, em 2019 estreia a continuidade dessa trilogia, chamada “Há Dias Que Não Morro”, dirigida por Aline Olmos, José Roberto Jardim, Laíza Dantas e Paula Hemsi. Uma obra com texto original de Paloma Franca Amorim e dramaturgismo coletivo. Com o furor positivo deixado no Antalya International Theatre Festival, esse espetáculo foi convidado a realizar sua pré-estreia para o público turco em maio. A estreia no Brasil será realizada no Sesc Pompeia em outubro e continuará sua temporada no Galpão do Folias em novembro.
SINOPSE
Três mulheres. Um jardim artificial. Uma rotina sem acidentes ou perigos. Porém algumas coisas ao seu redor as fazem perceber que esse mundo ideal tem também seus limites. Por que as flores não crescem? Por que os dias são tão curtos? O que há para além do jardim?
FICHA TÉCNICA
Idealização: Academia de Palhaços & ultraVioleta_s
Direção e Concepção: Aline Olmos, José Roberto Jardim, Laíza Dantas e Paula Hemsi
Texto: Paloma Franca Amorim
Dramaturgia: Aline Olmos, Laíza Dantas, José Roberto Jardim, Paula Hemsi e Paloma Franca Amorim
Encenação: José Roberto Jardim
Elenco: Aline Olmos, Laíza Dantas e Paula Hemsi
Assistente de direção: Luna Venarusso
Cenografia: Bijari
Direção Musical e Trilha Sonora Original: Rafael Thomazini e Vinicius Scorza
Iluminação: Paula Hemsi
Figurino: Carolina Hovaguimiam
Modelista: Juliano Lopes
Visagismo: Leopoldo Pacheco
Cenotecnia: Leo Ceolin
Preparação Corporal: Maristela Estrela
Design de sistema de operação sincronizado: Laíza Dantas
Operação de Luz, Vídeo e Som: Murilo Gil e Vinicius Scorza
Técnico de Som: Murilo Gil
Técnica de Luz: Paula Hemsi
Técnica de Vídeo: Laíza Dantas
Técnica de Palco: Aline Olmos
Produção Executiva: Tetembua Dandara
Direção de Produção: ultraVioleta_s
Fotos: Paula Hemsi e Victor Iemini
INTERVENÇÃO
Concepção: ultraVioleta_s e Coletivo Bijari
Assessoria Criativa: Fernando Velázquez
SERVIÇO
Há Dias Que Não Morro, de Academia de Palhaços & ultraVioleta_s
Galpão do Folias – Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília
Temporada: 2 de novembro a 2 de dezembro
Sábados e segundas, às 21h, e aos domingos, às 19h
Informações: (11) 3361-2223
Ingressos: grátis, distribuídos uma hora antes de cada sessão.
Classificação: 12 anos
Duração: 50 minutos
Capacidade: 50 lugares