Lela & Cia

Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, apresentam

Lela & Cia. – Nova Temporada Online, da britânica Cordelia Lynn, estreia versão audiovisual dia 2 de julho de 2021

Com direção de Alvise Camozzi, espetáculo apresenta mulher que tenta desesperadamente contar uma história, mas sempre é interrompida por vozes masculinas. Elenco traz Malu Bierrenbach e Conrado Caputo

Fotos de Leekyung Kim

“A vida tem uma maneira engraçada de te dar sorte. Agora eu sei o bastante para pensar em termos de boa sorte ou má sorte, ou fazer exatamente o oposto e não pensar em termos de sorte mas sim, das coisas que te acontecem” (trecho da peça de Cordelia Lynn)

Todos possuem voz e história, mas se conhecem apenas aquelas que não foram silenciadas. Inspirado em fatos reais, Lela & Cia., da dramaturga britânica Cordelia Lynn, estreou em 2019 com uma temporada de grande sucesso. Agora, o espetáculo ganha versão audiovisual que faz temporada de 2 a 25 de julho, retirada de ingressos gratuitos pelo Sympla

Com direção de Alvise Camozzi, tradução de Malu Bierrenbach (que também está no elenco ao lado de Conrado Caputo), a trama traz uma personagem que quer desesperadamente quer contar sua história. O monólogo de Lela – ironicamente interrompido por vozes masculinas – manifesta os conflitos de um mundo estilhaçado pela violência. Há aqui uma narrativa ocupada, e que sofre continuamente com as tentativas de ser silenciada.

Sobrevivendo a uma das grandes questões da dramaturgia – “por que esse texto e por que agora?” – Lela & Cia. é um grito, em primeiro plano, sobre o que é ser mulher; mas também é a comprovação de que, mais do que falar, é preciso ser ouvida – e fazer surgir, assim, um testemunho, que dá coerência à própria história e que tem por consequência o alívio ou o luto (possivelmente ambos).

Adaptar-se é a palavra-chave

“Sair do palco e ir para as telas… Os artistas logo entenderam que teriam que agir assim neste biênio pandêmico. Não foi fácil, porém seria a única forma de continuarmos nos expressando artisticamente. A linguagem, os tempos, a percepção, a resposta. Tudo muda. Nossa peça online não é cinema e tampouco teatro. 


É melhor? Pior? Digo que foi o possível fazer neste momento de pandemia. 

Adaptar-se é a palavra-chave. Na arte a novidade sempre é bem-vinda pois estimula descobertas, que podemos abraçar ou descartá-las mais adiante. Mas não vejo a hora de voltarmos para nossos velhos teatros/espaços cênicos onde a aglomeração com a plateia, viva e vibrante, é o que faz o teatro ser este meio único”, diz Malu Bierrenbach, também idealizadora do projeto. 


“Adaptar um espetáculo teatral para vídeo é sempre complexo, pois a peculiaridade do teatro é justamente ser ao vivo e só existe no tempo presente do seu ser agido (da sua realização), frente, em volta, no meio, juntamente ao público, que por sua vez, simultaneamente assiste. A participação ao vivo do público é outra condição necessária. A com-presença simultânea entre a apresentação (ou também representação) e o público é outro fator fundamental para permitir que a obra possa ser compreendida como teatro, e não como outra linguagem artística. 

Para realizar um vídeo de um espetáculo o primeiro problema que surge é justamente aquele de aceitar essa condição de ruptura: a obra perde seu ‘status’ teatral para se tornar outra linguagem em vídeo.

Penso que a riqueza das possibilidades que a experiência do teatro proporciona seja tão complexa e multiforme, que uma vez aplicada às outras linguagens pode plasmar obras híbridas e surpreendentes. Minha opinião é que não podemos falar de teatro em frente a um vídeo, mas de outra experiência sensível que podemos nomear diversamente. 

O registro tenta devolver as atmosferas e as dinâmicas do espetáculo ao vivo. Nos vídeos que precisamos produzir para participar dos festivais de teatro, por exemplo, tentamos aproveitar os recursos que o meio audiovisual pode fornecer para evidenciar os aspectos que consideramos mais impactantes visualmente. As câmeras são aproximadas para evidenciar a atuação particularmente física por parte dos atores, por exemplo; usamos mais planos se a dinâmica cênica é complexa. 

São muitas as possibilidades audiovisuais para devolver as sugestões do que poderia ser o trabalho realizado vivo, apesar da sua ruptura fundamental, o que estamos assistindo no vídeo nunca será teatro, o vídeo portanto terá uma função ‘ilustrativa’, ou evocativa. 

No caso de Lela & Cia., a questão principal é que nenhuma dessas possibilidades pode devolver o princípio fundamental no qual se sustenta o conceito de encenação, pois o espaço no qual o espetáculo acontece é um espaço sonoro, improdutivo na tela. A polifonia de vozes masculinas que silenciam Lela, sua história, sua versão, sua confissão, pertencem ao espaço. Uma dúzia de caixas de som, aparentes, em cima de pedestais, formam uma instalação cenográfica e sonora. Nem sempre sabemos quando as caixas de som são acionadas pelo ator, quando se acionam sozinhas, se os sons que o público ouve saem todos daquelas caixas ou vêm de outras escondidas, do jeito tal que talvez os sons que ouvimos na plateia, às vezes são ao vivo, outras vezes gravados, outras vezes poderiam ser fruto da nossa imaginação, essa incerteza pode acontecer somente se o público está no espaço da encenação. 

Dramaticamente o antagonista de Lela é “o homem”, uma figura masculina genérica que representa todas as figuras masculinas específicas que humilharam a protagonista ao longo da vida toda: o pai, o cunhado, o marido, os amigos do marido, os clientes dela, uma vez obrigada pelo marido a se prostituir. O antagonista é um corpo ‘polifônico’ no espaço. Mas não é só um corpo em cena, é também o espaço sonoro no qual acontece o espetáculo, é o espaço, masculino, que silencia Lela. O ator em cena é a extensão física de uma ideia, um conceito de violência tão endêmico que nos parece surreal, impalpável, inexplicável, intangível. O espectador está no mesmo espaço de Lela, portanto não é somente através dos ouvidos que sente os sons do homem, mas é através do corpo todo durante a performance.  

A experiência que um vídeo pode devolver sempre será ‘mono-sensorial’ e bidimensional. Estamos em frente à tela, não dentro dela. Não é por acaso que todas as experiências imersivas das novas tecnologias tentam encurtar esse hiato que somente a experiência ao vivo devolve: o estar dentro do espaço da experiência sensível. 

O problema, portanto, é que no vídeo não tem o espaço. É um problema grave para o nosso trabalho, do momento que é o espaço que comunica ao espectador o sentido do trabalho artístico. Precisamos encontrar uma solução e colocar o problema na encenação. Repensar a encenação para outra linguagem expressiva. Esse é o motivo principal que nos leva a trabalhar em cima de uma encenação já realizada, para o novo meio. Essa nova gravação do espetáculo se torna conceitualmente necessária para inventar outras estratégias estéticas para compensar a impossibilidade de passar o elemento fundamental de sua encenação

Lela estará num ambiente vazio, mas não neutro. Abandonado talvez. Marcas de quadros nas paredes, uma sujeira do tempo no chão, poeira… Um apartamento que agora não é mais habitado. Lela estará sentada no fundo da sala, em frente a uma tela enorme, em volta da Lela, as caixas de sons cuidadosamente em um círculo mágico que a prende. 

Quando ouvimos a voz do homem, inicialmente, não o veremos. As incursões visuais do homem, serão parciais, fragmentos de rostos, de mãos, na montagem do vídeo, como a indicar uma possível fantasia da narrativa. Num ato violento de silenciamento psicológico. O espetáculo original será presente, mas não será exatamente o mesmo, pois o mesmo espetáculo existe somente ao vivo”.

Alvise Camozzi, diretor de Lela & Cia.

SINOPSE

Todos possuem voz e história, mas se conhecem apenas aquelas que não foram silenciadas. Lela & Cia é um grito, em primeiro plano, sobre o que é ser mulher, mas também é a comprovação de que, mais do que falar, é preciso ser ouvida – e faz surgir assim um testemunho que dá coerência à própria história e que tem por consequência o alívio ou o luto (possivelmente ambos).

FICHA TÉCNICA:
De Cordelia Lynn – “Baseado em fatos reais”.
“Concebido e elaborado com Desara Bosnja e 1989 Productions”.

Tradução: Malu Bierrenbach

Direção: Alvise Camozzi 

Idealização: Malu Bierrenbach 

Elenco: Malu Bierrenbach e Conrado Caputo 

Cenário: Camila Schmidt 

Direção Musical: Dan Maia 

Iluminação: Mirella Brandi
Direção de Fotografia: Marcelo Felipe Sampaio

Câmera e Edição: Marcelo Felipe Sampaio
Registro do Espetáculo em 2019: Leekyung Kim

Direção de Cena: Vanda Dantas
Captação de Áudio: Vanda Dantas
Fotos: Leekyung Kim
Imagem do Material Gráfico: Cris Bierrenbach

Arte Gráfica: Felipe Apolo 

Consultoria de Produção: Daniel Pinheiro, Ju Paié e Karol Garrett

Assessoria de Transmissão Online: Cesar Kawamura e Flávio Flocke

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Assessoria de Mídias Sociais: Felipe Apolo e Tobias Caiado
Assistente de Produção: Nina Marcci

Coordenação de Produção: Vanda Dantas

Direção de Produção: Alexandre Brazil 

Gestão de Produção: Cachorro Morto e Escritório das Artes

SERVIÇO

Lela & Cia. – Nova Temporada Online

De 02/07 a 25/07

Segunda a Sábado, às 19h

Domingo com sessão dupla às 16h e 19h.

Observação: Não haverá apresentações entre os dias 11/07 a 15/07.


Classificação: 14 anos.
Reserve seu ingresso gratuito
na plataforma da SYMPLA
www.sympla.com.br

Parte deste projeto foi realizado com recursos da Lei Emergencial Aldir Blanc para a Cidade de São Paulo.