BALADA DOS ENCLAUSURADOS

Projeto Balada dos Enclausurados, composto por solos de Erica Montanheiro e Eric Lenate, estreia em 2 de agosto no Teatro do Núcleo Experimental

Espetáculos Inventário, inspirado na artista francesa Camille Claudel (escrito e interpretado por Erica Montanheiro e dirigido por Eric Lenate), e Testemunho Líquido, com inspiração no bailarino russo Vaslav Nijinski (escrito e interpretado por Eric Lenate e dirigido por Erica Montanheiro), criam reflexões sobre a loucura, a morte, a memória, o abandono e o encarceramento. Antes dos espetáculos, o público é recebido por uma instalação cênica imersiva, criada por Kleber Montanheiro (em parceria com Lenate e Erica), que o conduz até o espaço cênico  

Fotos de Leekyung Kim

 

Figuras de destaque na cena teatral paulistana, Erica Montanheiro e Eric Lenate perceberam que suas dramaturgias nestes dois monólogos dialogavam e em 2017 se reuniram para idealizar o projeto Balada dos Enclausurados, composto pelos solos Inventário e Testemunho Líquido, nos quais os dois artistas se alternam na direção, atuação e na dramaturgia.

Os espetáculos estreiam simultaneamente para o público no dia 02 de agosto, no Teatro do Núcleo Experimental, e serão apresentados em sequência, às sextas, sábados e segundas, às 19h e às 21h, e aos domingos, às 18h e às 20h.

Os dois solos, embora escritos por dois artistas com trajetórias e estilos bem diferentes, tocam em questões similares como loucura, morte, abandono, encarceramento, interdição, memória de si, memória do outro, legado artístico, amor, além de terem sido inspirados em dois grandes artistas (Camille e Nijinski), que inclusive ficaram internados na mesma época histórica.

O projeto Balada dos Enclausurados foi contemplado pela 7ª Edição do Prêmio Zé Renato de Apoio à Produção e Desenvolvimento da Atividade Teatral para a Cidade de São Paulo.

Sobre o Inventário

Escrito e interpretado por Erica Montanheiro e dirigido por Eric Lenate, Inventário é inspirado na vida e na obra da artista plástica francesa Camille Claudel (1864-1943), que passou 30 anos encarcerada em uma instituição psiquiátrica. Antes de ser internada, ela viveu durante muitos anos à sombra de dois homens, seu irmão escritor Paul Claudel e seu amante escultor Auguste Rodin, de quem ela foi aprendiz e assistente.

Camille encontrou dificuldade e contradições na relação com os pais, no trabalho com Rodin e na relação com o irmão Paul. Foi diagnosticada com um delírio paranóide e alienada da sociedade logo depois da morte de seu pai. Abandonada e rotulada como desajustada, ela destruiu a maior parte da própria obra artística. Uma parte de suas memórias foi transformada em livro a partir das cartas escritas por ela, nas quais a artista apresenta sua incompreensão em relação ao próprio destino.

O interesse de Erica Montanheiro pela figura de Camille Claudel aconteceu durante uma residência artística realizada pela atriz no programa Centre Des Récollets, na França, entre os anos de 2008 e 2009. O impulso que moveu a criação foi o abandono das mulheres que não se enquadram na sociedade e se recusam a se submeter. O texto começou a ser escrito em 2013, quando a autora participou do Núcleo de Dramaturgia A Palavra e a Cena, orientado por Alexandre Dal Farra e Cássio Pires.

Em cena, o público encontra uma mulher presa em um lugar sufocante que fala consigo mesma. Ela se prepara para deixar aquele lugar. Durante esta preparação aos poucos se dá conta de que já deixou o mundo físico, que agora é um espectro que pertence ao mundo dos mortos. Diante desta constatação, acessa suas memórias, buscando compreender seu destino e que legado deixará para o mundo dos vivos. Quando ela assume a morte, revive, rejuvenesce. É como se Camille começasse encarcerada e terminasse livre. Como se, por meio de seu inventário,  Camille se libertasse – uma metáfora também para todas as mulheres em processo de libertação.

“O que Erica escreveu possui a força de um cântico ancestral. Como aqueles de uma época em que as mulheres se reuniam em volta de fogueiras no meio da madrugada, dentro de uma floresta ou no alto de uma montanha, para evocar o verdadeiro, primevo e essencial sentido das coisas. É um cântico que ressoa com notas agudas e graves, abala, desestrutura. Ela conseguiu domar as palavras – essa matéria amorfa – e, como Camille, esculpiu um discurso com uma estrutura que ousa, desafia e inspira. E juntos, discurso e estrutura, produzem solavancos em nossos sentimentos e em nosso intelecto. (…) A Obra que Erica Montanheiro propõe é um manifesto autoral que vem não só para se inscrever com importância e relevância em nosso cenário artístico, mas também para ecoar muito forte no belo, incontrolável e incontornável coro que luta pelo verdadeiro e inalienável lugar da mulher na sociedade e que nunca deveria ter sido outro que não este: o da igualdade total perante a vida e a liberdade total para decidir sobre seu destino e legado”, escreve o diretor Eric Lenate sobre a peça.

Sobre Testemunho Líquido

Já Testemunho Líquido, escrito e interpretado por Eric Lenate e dirigido por Erica Montanheiro, é inspirado na vida e na obra do lendário bailarino e coreógrafo russo Vaslav Nijinski (1889-1950), considerado pai da dança contemporânea, que também passou os últimos 30 anos de sua vida interditado em sanatórios. Em 1919, poucos anos depois de revolucionar a história da dança ao apresentar ao mundo as coreografias “L’Après midi d’un faune” (Prelúdio à tarde de um fauno) e “Le sacré du printemps” (A sagração da primavera), o dançarino começou sua peregrinação por instituições psiquiátricas.

Desde cedo, o bailarino apresentava indícios de uma doença psiquiátrica, mas os surtos se agravaram durante aquele inverno, quando ele acompanhava a temporada das suas obras-primas em Saint-Moritz, na Suíça, ao lado da esposa Romola e de sua filha mais velha, Kyra. A separação da companheira e a demissão da companhia Ballets Russes agravaram ainda mais os surtos de agressividade e os desequilíbrios internos. Ele foi diagnosticado e internado em 1919, aos 30 anos, com uma “confusão mental de natureza esquizofrênica”. O responsável pelo diagnóstico foi o famoso professor Eugen Bleuler, diretor do hospital psiquiátrico universitário Burghölzli, em Zurique, que, inclusive, aconselhou Romola a se separar do marido, de modo que ele não tivesse mais obrigações familiares.

A peça de Eric Lenate começou a ser escrita em 2009, durante um período de fragilidade emocional enfrentado pelo artista, logo após seu rompimento abrupto com o CPT – Centro de Pesquisa Teatral, o Grupo de Teatro Macunaíma e o encenador Antunes Filho, com quem trabalhava desde 2005. O texto sobreviveu a essa fase turbulenta na vida do autor e ganhou muitas outras versões até 2017, quando Lenate começou a trabalhar com Erica. A parceira iniciou uma provocação dramatúrgica, levantando questões em relação à estrutura e sugerindo a fricção do texto com a figura do bailarino, trabalho que resultou nesta versão definitiva.

A trama acontece durante a madrugada, quando um ser, que parece estar em tratamento psiquiátrico, tem um acesso de fúria e descontrole e precisa ser acalmado por médicos e agulhas. Depois de domado, é deixado sob os cuidados e olhares de um médico e uma enfermeira. Seu corpo permanece atado, por segurança, mas sua voz é liberada. Aos poucos, ele recobra sua fala e conversa com alguém que não está ali. E o que presenciamos, a partir de então, é sua tentativa de entender o que está acontecendo consigo e a sua volta.

“É um ator escrevendo com as mesmas potências de estados e contornos daquele que um dia foi o ‘deus da dança’, Nijinski. É um diretor escrevendo porque arquiteta cada cena, entregando-a pronta para ser encenada. Assim como em suas direções, Eric Lenate deixou seu texto ser afetado por uma ‘poética da morte’. O texto é repleto de humor ácido, que expõe as contradições daquela figura diante da sua condição de semi-morto. O jogo com a sonoridade e com as palavras trazem o aspecto vertiginoso do texto. A violência e a delicadeza das imagens apresentadas pelo autor convivem em estranha harmonia. E é um artista vivendo e transformando dor em arte, sublimando a morte para contar histórias, expondo suas luzes e sombras, criando abismos e se jogando neles. (…) As supostas sombras dessa figura enclausurada mostram seu humor no jogo com as palavras. O enclausuramento do ‘louco Nijinski’ (que o é sem nunca ter sido?), conduz seu corpo à libertação através da dança. A loucura contida nessa figura é a mais perfeita lucidez. E nem por isso deixa de ser triste. E amoroso. Não tenho dúvidas que brincar com as palavras vai ser a nova obsessão do autor, além dos seus já múltiplos talentos como diretor, ator e cenógrafo”, escreve a diretora Erica Montanheiro sobre a peça.

Sobre a Experiência Imersiva 

Balada dos Enclausurados recebe a plateia com uma Experiência Imersiva, criada pelo multi-artista Kleber Montanheiro, em parceria com Erica e Lenate. Trata-se de uma exposição-instalação imersiva que funciona como uma espécie de caminho vertiginoso, que pretende confundir a noção espacial do espectador. Quando o público entra no espaço cênico é convidado por sutis sinais sonoros ou luminosos a fazer um percurso a pé, que o conduz a diferentes ambientes sanatoriais, como uma imersão em uma estrutura alegórica de tratamento psiquiátrico. Ao cumprir este percurso, o público chega finalmente aos ambientes cênicos onde acontecerão cada monólogo, respectivamente.

ERICA MONTANHEIRO – dramaturgia, atuação, direção e cenografia

Bacharel em Letras, pela USP, e formada em teatro na École Philippe Gaulier, França, Erica realizou pesquisa sobre Melodrama e Estágio no Théâtre du Soleil, em 2008/09. É atriz e integrante da Cia. Os Fofos Encenam desde 2004: faz parte dos espetáculos A Mulher do Trem, Ferro em Brasa, Assombrações do Recife Velho,Terra de Santo, Baú da Arethuzza e O deus da cidade. Criou e atuou nos espetáculos Solilóquios, de Amarildo Félix, direção Johana Albuquerque (SESI); Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Hollanda, direção Kleber Montanheiro (CCBB-SP); e os infantis O rei e a coroa enfeitiçada, direção Cynthia e Débora Falabella; e Procurando firme, de Neyde Veneziano, entre outros.

Foi orientadora em diversos programas teatrais como Teatro Vocacional. Foi assistente de direção no espetáculo jovem Os meninos e as Pedras, direção Juliana Monteiro. Vencedora do Prêmio FEMSA de Teatro Infantil e Jovem 2008 na categoria melhor atriz coadjuvante por Sonho de uma noite de verão, direção Kleber Montanheiro e indicada ao Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem 2014 na categoria melhor atriz coadjuvante por O rei e a coroa enfeitiçada. Recentemente, integrou o Núcleo de Dramaturgia do SESI-British Council, coordenado por Marici Salomão. Como atriz, integrou o elenco de Histeria, com direção de Jô Soares, pelo qual recebeu o prêmio Aplauso Brasil 2017 de melhor atriz coadjuvante. Ainda sob a direção de Jô, atuou em O libertino, em 2011  e em 2018 em A Noite de 16 de janeiro.

Dirigiu o espetáculo Vocês que me habitam, de autoria própria em parceria com Gustavo Colombini. Em 2018 dirigiu Dois a duas, escrito por Maria Fernanda Barros Batalha, pelo qual acaba de receber o prêmio APCA de teatro na categoria melhor espetáculo para público jovem.

ERIC LENATE – dramaturgia, atuação, direção e cenografia

Profissionalizou-se em 2004 pelo SATED. Em 2005, ingressou no CPT – Centro de Pesquisa Teatral do SESC, sob a direção de Antunes Filho. Em quatro anos de CPT, foi integrante do Núcleo de Cenografia e atuou nas montagens: O Canto de Gregório, A Pedra do Reino e Senhora dos Afogados. Em 2006, sob a orientação de Antunes, passou a desenvolver seu trabalho como diretor. Sua estreia profissional se deu com O Céu 5 minutos antes da tempestade, de Silvia Gomez, nomeado para o Prêmio Qualidade Brasil de melhor espetáculo – drama. Em 2009, dirigiu Celebração, de Harold Pinter. Dirigiu e realizou a arquitetura cênica dos seguintes trabalhos: Um Verão Familiar, Rabbit, (indicado ao Prêmio CPT de Teatro 2012 nas categorias melhor espetáculo apresentado em sala convencional e melhor direção), Vestido De Noiva, de Nelson Rodrigues (Prêmio Aplauso Brasil 2013 de arquitetura cênica). Em 2012, foi indicado ao Prêmio Shell na categoria especial “pela força performativa de seus experimentos”.

Em 2014 estreou Sit Down Drama, de Michelle Ferreira (indicado ao Prêmio Shell de melhor direção). Em 2015 funda a Sociedade Líquida, projeto-provocação responsável pelos trabalhos: Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard; Mantenha fora do alcance do bebê, de Silvia Gomez; Fim de Partida, de Samuel Beckett, pelo qual foi indicado ao prêmio APCA de melhor ator em 2016; O teste de Turing, de Paulo Santoro, e Refluxo, de Angela Ribeiro, que esteve em cartaz no primeiro semestre de 2017 no Mezanino do Centro Cultural FIESP, pelo qual Lenate recebeu o prêmio Shell de melhor cenário e foi indicado ao mesmo prêmio na categoria melhor direção, em São Paulo. Love, Love, Love, de Mike Bartlett, estreado em janeiro de 2017, no Rio de Janeiro, e em março de 2018, em São Paulo, em parceria com o Grupo 3 de Teatro, é um de seus mais recentes trabalhos. Por este trabalho, Lenate foi indicado ao prêmio APTR 2017 de melhor direção e também foi indicado ao prêmio Shell 2017 de melhor direção, ambos no Rio de Janeiro. Este trabalho ainda foi indicado em 2018 ao prêmio APCA de melhor espetáculo.

FICHA TÉCNICA

INVENTÁRIO                                                                                        

Texto e atuação: Erica Montanheiro

Direção: Eric Lenate

Assistência de direção: Mateus Monteiro

TESTEMUNHO LÍQUIDO

Texto e atuação: Eric Lenate

Direção: Erica Montanheiro

Assistência de direção: Larissa Matheus

FICHA TÉCNICA DO BALADA DOS ENCLAUSURADOS

Balada Dos Enclausurados é uma idealização de Erica Montanheiro e Eric Lenate

Direção de Produção: Leonardo Devitto

Arquitetura Cênica e Experiência Imersiva: Erica Montanheiro, Kleber Montanheiro e Eric Lenate

Trilha Sonora Original, Sonoplastia e Engenharia de Som: L.P. Daniel

Figurino e Visagismo: Carol Badra e Leopoldo Pacheco

Iluminação: Aline Santini

Direção Audiovisual: Laerte Késsimos

Canções Originais [Inventário] E Assistência De Direção Musical

Luisa Gouvêa

Preparação Músico-Vocal [Inventário]: Cida Moreira

Artista Plástica Responsável Pela Criação Das Esculturas E Aderecista [Inventário]: Ligia Yamaguti

Ator Convidado [Testemunho Líquido]: Guilherme Conrado

Elenco De Apoio [Testemunho Líquido]: Larissa Matheus e Celso José

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

Designer Gráfico: Laerte Késsimos

Mídias Sociais: Lolita & La Grange Produções Artísticas

Registro de Fotos e Vídeo: Leekyung Kim

Operador de Luz e Vídeo: Clara Caramez

Operador de Som: Rodrigo Florentino

Contrarregras e Cenotécnicos: Larissa Matheus e Celso José

Assistente de Produção: Antonio Vanfill

Realização: Lolita & La Grange Produções Artísticas

Em parceria com: Sociedade Líquida

SERVIÇO

BALADA DOS ENCLAUSURADOS

Teatro do Núcleo Experimental – Rua Barra Funda, 637, Barra Funda

Temporada: de 02 de agosto a 02 de setembro

Sextas, sábados, e segundas, às 19h e às 21h.*

Domingos, às 18h e às 20h. *

Ingressos (para cada peça): R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)

Programa completo: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)

Capacidade: 40 lugares

Informações: (11) 3259-0898

 

* Durante a temporada, o público pode assistir os dois espetáculos no mesmo dia, em sequência, ou em dias diferentes.

 

INVENTÁRIO

Apresentações:  às sextas e aos sábados, às 19h; aos domingos, às 20h; e às segundas, às 21h
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos
Gênero: Drama

Sinopse: Um ser que um dia foi Camille Claudel está presa em um lugar sufocante e fala consigo mesma. Ela se prepara para deixar aquele lugar. Durante esta preparação, aos poucos se dá conta de que já deixou o mundo físico e que está se tornando um espectro. Neste processo, acessa suas memórias, recebe a visita de afetos e desafetos, e busca compreender seu destino e o legado que deixará para o mundo.

TESTEMUNHO LÍQUIDO

Apresentações: às sextas e aos sábados, às 21h; aos domingos, às 18h; e às segundas, às 19h

Classificação: 14 anos

Duração: 75 minutos

Gênero: Drama

Sinopse: Durante uma determinada madrugada um ser, que um dia foi Vaslav Nijinski, parece estar em tratamento psiquiátrico. Após um acesso de fúria e descontrole foi acalmado por médicos e agulhas. Depois de domado, esse ser é deixado sob os cuidados e olhares de um médico e uma enfermeira. Seu corpo permanece atado, mas sua voz é liberada. Aos poucos, recobra sua fala e conversa com alguém que não está ali. E o que presenciamos é sua tentativa de entender o que está acontecendo consigo e a sua volta.