COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO?

COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO?

Laerte Késsimos realiza primeira exposição individual, com trabalhos que exploram pesquisa a partir da vida do artista plástico José Leonilson

“Não sei o que fazer com um espaço enorme vazio / Eu sei o que fazer com um espaço enorme vazio / O que faço são objetos de curiosidade / Observar e dar chance a minha curiosidade”.
Leonilson, em um diário de 1993

Primeira mostra individual de Laerte Késsimos, a exposição COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO? apresenta o expoente de seus trabalhos, criados entre 2017 e 2019. São desenhos, pinturas, bordados e objetos – “objetos de desejo e de curiosidade” – criados numa relação direta, ora de espelhamento, ora de duplicidade, com os trabalhos do artista plástico José Leonilson (1957-1993).

Inspirações, traduções e revisitas à obra de Leonilson são materializadas em obras plásticas que constituem, além da exposição, o alicerce temático de um solo autoral inspirado na vida e obra do artista cearense.

Alguns temas são abordados na coletânea de obras expostas por Laerte, tentando formar um panorama – não só interior, mas também exterior – de seu tempo e do mundo ao seu redor.  Nos tempos atuais, em que a opressão e o conservadorismo se erguem como uma onda alta que pode nos derrubar com força, trazer à tona um artista gay (vale ressaltar a tragédia que é esse ainda ser um tema controverso em nosso país), HIV positivo (esse tema migrou de uma epidemia para um preconceito escondido e silencioso) e a favor de uma política subjetiva e íntima (quando a subjetividade e a intimidade são os primeiros alvos de políticas opressivas) é, em si, um ato político. Cada vez que as ondas conversadoras nos derrubam, mergulhamos mais e mais fundo, e o momento de alívio passa antes que possamos agarrá-lo, pois a onda já está juntando forças para atingir-nos novamente. Esse trabalho acredita que a tábua a que nos sustentamos nesse naufrágio só pode ser poética –a um só tempo pessoal e política.

A exposição COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO?, que faz parte do processo de criação do espetáculo SER JOSÉ LEONILSON com previsão de estreia para outubro, acontece na Galeria Zarvos, Avenida São Luiz, nº 258 – loja 14, abertura dia 10/7 das 16h às 21h, visitação de 10 de julho a 10 de agosto de 2019, de segunda a sexta das 15h às 19h e sábado 11h às 15h.

Contexto Poético

A exposição faz parte do projeto SER JOSÉ LEONILSON. O projeto SER LEONILSON foi contemplado pela primeira edição do edital Cleyde Yáconis e tem apoio institucional da Sociedade Amigos do Projeto Leonilson para sua pesquisa. Idealizado por Laerte, o projeto é uma aproximação poética da obra e vida do artista plástico José Leonilson Bezerra Dias, vinte e seis anos após sua morte. Vítima da Aids, sua obra continua atual, candente e relevante, demandando multiplicações, contestações e disseminações. O projeto é divido em três frentes criativas.

Além da exposição COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO?, há também a instalação performática O PORTO, um “ateliê vitrine” onde obras são criadas diante do público e um espetáculo teatral solo  – SER JOSÉ LEONILSON – , com direção de Aura Cunha e dramaturgia de Leonardo Moreira, que tem previsão de estreia para outubro de 2019.

A performance O PORTO

No mesmo local da exposição, acontece a ocupação artística O PORTO, Experimento Público nº2, um ateliê aberto, onde Laerte divide com o público um diário de criação de obras (pinturas, desenhos, bordados, e outros trabalhos têxteis), ensaios do espetáculo e ações performativas, como conversas com o público.  Durante o experimento público no. 2, o ateliê-vitrine do artista Laerte Késsimos está dentro de uma galeria comercial – o próprio espaço como um “objeto de curiosidade”. Durante este período, o ateliê será o local de trabalho de Laerte, onde diante dos olhos de transeuntes e/ou visitantes, ele trabalhará diariamente na criação de obras, e nos ensaios do espetáculo.

Um ateliê num ambiente público: um porto, um lugar de receptividade. O artista Laerte Késsimos é um porto que recebe o público em seu ateliê vitrine. Então, uma pessoa diante de outra. O encontro agora é uma cor, um relevo, uma textura, uma obra têxtil; o espelho de uma história compartilhada. O encontro parece entrar no tecido, como um bordado, para subverter os sentidos e fazer com que a própria palavra se abra para inúmeras possibilidades de compreensão: entre a precariedade e o sublime, entre o íntimo e o público, entre o efêmero e o duradouro. Entre o conforto familiar de um bordado e a concretude oca de uma palavra.

Desse modo, duas ações simultâneas (e pública) tomam o mesmo espaço: a criação de obras e a exposição das mesmas.

O espetáculo SER JOSÉ LEONILSON

Com previsão de estreia para outubro de 2019, SER JOSÉ LEONILSON é um espetáculo solo que mistura narrativas pessoais de Laerte e a biografia artística de Leonilson. Organizado como um documentário poético, em que a vida de Laerte (e a feitura desse espetáculo) se entrelaça aos diários, gravações e depoimentos de Leonilson, a montagem não está preocupada em levantar um edifício ficcional. Antes, contenta-se com o relato e a descrição de obras, criando um ambiente poético, que não abandona a narrativa e o contato direto com o público.

Assim como a obra de Leonilson não pode ser desassociada da vida do artista, por expressar sempre o caráter confessional de um diário íntimo, a pesquisa que dará suporte para a criação desta biografia teatral, assinada por Leonardo Moreira, pretende construir uma ponte que ligue e crie interrelações entre a vida e obra do artista morto em 1993 à vida e presente obra do sujeito artístico Laerte Késsimos, e as coincidências e dissonâncias entre as obras e vidas dos dois artistas.  Os diários contêm o desejo e sua incompletude, os sonhos e as ilusões, as relações amorosas, as paixões platônicas e aquelas não correspondidas, os caminhos do rapaz apaixonado, o coração, os amantes e os amados – reais ou inventados -, bem como os autorretratos, a fantasia, a sexualidade, os dias e horas que passam, a doença (Leonilson descobriu-se HIV positivo em agosto de 1991).

A exposição COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO? 

Primeira exposição de obras criadas pelo artista visual Laerte Késsimos. Diários cartografados, mapas geométricos, mapas que são retratos, geometrias brancas, brancos que são páginas de diário ou autorretratos, referências íntimas e cotidianas sustentam a criações de Laerte, que nascem do desejo íntimo de Laerte Késsimos em jogar o jogo favorito de Leonilson – a intersecção entre ficção e realidade; entre o íntimo e o público; entre o diário e a afirmação política;  entre o bordado real e a descrição de uma paisagem; entre a biografia de Laerte e os bordados de Leonilson.

Sobre Laerte Késsimos (artista)

Natural de Governador Valadares/MG o ator fez parte do elenco da Cia de Teatro Os Satyros de 2004 a 2009, onde iniciou sua carreira profissional e participou de diversos trabalhos de destaque como “A Vida na Praça Roosevelt”, “Transex” e “Inocência”. Alí também participou do processo de revitalização da Praça Roosevelt. Em 2019, completa 36 anos, idade em com que Leonilson morreu.

Últimos trabalhos no teatro: O AGORA QUE DEMORA, de Cristiane Jatahy | REFLUXO de Angela Ribeiro, direção Eric Lenate | UNFAITHFUL  de Owen McCafferty, direção Lavínia Pannunzio | COM AMOR, BRIGITTE, texto de Franz Klepper e direção de Fábio Ock | AO PÉ DO OUVIDO, direção Zé Henrique de Paula  TRANSEX | texto e direção de Rodolfo García Vázquez, A VIDA NA PRAÇA ROOSEVELT | de Dea Loher | direção de Rodolfo García Vázquez, INOCÊNCIA | de Dea Loher | direção de Rodolfo García Vázquez, EL TRUCO | texto e direção Roberto Audio, URUBU QUANDO ESTÁ COM AZAR | texto e direção Hugo Possolo | PIRATAS DO CARIBE | de Otávio Frias, direção Marcos Loureiro, MORMAÇO | de Ricardo Inhan | direção Zé Henrique de Paula, NO CORAÇÃO DO MUNDO | de Tony Kushner | direção Zé Henrique de Paula e VESTIDO DE NOIVA | de Nelson Rodrigues  | direção Eric Lenate. Concorreu ao prêmio APLAUSO BRASIL DE TEATRO, como melhor ator coadjuvante de 2013 pelo espetáculo VESTIDO DE NOIVA de Nelson Rodrigues dirigido por Eric Lenate.

No cinema já atuou em diversos curtas e fez participações em alguns longas, os mais recentes são o curta “Polícia e Ladrão” – Direção Marcela Cardoso, o curta “Eric” – Direção Herbert Bianchi, o longa-metragem “Trabalhar Cansa” – Direção Marco Dutra/Juliana Hojas. Atuou recentemente nas séries O ESCOLHIDO (NETFLIX),  3%, (NETFLIX), Gigantes do Brasil do canal HISTORY CHANNEL.

Em uma carreira paralela, desenvolve seu trabalho de artista visual como fotografo, diretor, montador de curtas e vídeos e design gráfico. Paralelo ao cinema, trabalhou na criação de filmes para os espetáculos: 1984, de George Orwell e DOG VILLE, direção Zé Henrique de Paula, O TESTE DE TURING de Paulo Santoro, dirigido por Eric Lenate, SIT DOWN DRAMA de Michelle Ferreira e VESTIDO DE NOIVA de Nelson Rodrigues dirigidos por Eric Lenate, INOCÊNCIA de Dea Loher, direção Rodolfo Gárcia Vázquez.

Sobre Aura Cunha (direção)

Atriz e produtora cultural, é mestra em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo. Integrou a Companhia de Teatro em Quadrinhos, sob direção de Beth Lopes, onde atuou como atriz, produtora e idealizadora dos espetáculos: “Na Pele de Josef K”, “Anônimos” “(a)tentados” e “A Tempestade”. Em 2010, foi produtora e assistente de direção de Leonardo Moreira no espetáculo “O Silêncio depois da Chuva” (indicado a 02 Prêmios Shell 2012) de Gustavo Colombini . Foi assistente de direção de Leonardo Moreira no espetáculo “Menor que o Mundo” (2011) e produziu o espetáculo “Maquina de escrever reticências” de João Dias com direção de Beth Lopes. É co-criadora “Del Lugar en el que estoy ya me fui” apresentado no Projeto Espacios Revelados em Buenos Aires (2014). Foi assistente de direção de Leonardo Moreira do espetáculo Wiosna, no Teatr Studio, Varsóvia (Polônia / 2016). Atualmente é integrante da Cia. Hiato exercendo a função diretora de produção  e assistente de direção que inclui no seu repertório os espetáculos, “Cachorro Morto” 2007; O Jardim (Prêmio Shell 2012; Prêmio APCA 2012; Prêmio Governador do Estado de São Paulo – Melhor Espetáculo, e Prêmio CPT ); “Ficção” (03 indicações ao Prêmio Shell 2013), “2 Ficções” (coprodução KunstenFestivaldesArts / Bruxelas); Amadores, indicado ao Prêmio APCA (2016) e Odisseia (coprodução OCC / Atenas e Mousonturm/Frankfurt), indicado, junto a Cia Hiato, ao Prêmio Shell Inovação por seus 10 anos de trajetória artística no Brasil e exterio). Os espetáculos da Cia. se apresentam na Holanda, Alemanha, Chile, Romênia, Colômbia, Grécia, Estados Unidos, Argentina, Bélgica e Áustria.

Sobre Leonardo Moreira (orientação e dramaturgia)

Dramaturgo e diretor da Companhia Hiato, de São Paulo, é mestre em Dramaturgia pela Universidade de São Paulo. Estreou como autor e diretor com a peça Cachorro Morto (2008) e com o texto seguinte, Escuro, recebeu o Prêmio Shell 2010 e Prêmio CPT – Melhor Autor e Melhor Espetáculo. Com O Jardim (2011) recebeu o Prêmio Shell 2012 e Prêmio APCA 2012 de Melhor Direção, Prêmio Governador do Estado de São Paulo – Melhor Espetáculo, e Prêmio CPT. Escreveu e dirigiu com a Cia. Hiato os espetáculos Ficção, indicado ao Prêmio Shell 2014 e  2 Ficções (co-produção com o KunstenFestivaldesArts | Bruxelas). Também são de sua autoria Bagagem, Prometheus – a tragédia do fogo e Menor que o Mundo, que também dirigiu. Dirigiu o espetáculo “O Silêncio Depois da Chuva” (indicado a 2 Prêmios Shell 2012) e criou a instalação Del lugar en el que estoy, Espacios Revelados, Buenos Aires (2014). Em 2016, dirigiu e escreveu o espetáculo Wiosna, Teatr Studio, Varsóvia (Polônia) e criou o espetáculo Amadores, também com a Cia. Hiato, indicado ao Prêmio APCA 2016 de Melhor Direção. Em 2018, criou o espetáculo Odisseia (coprodução OCC / Atenas e Mousonturm/Frankfurt) indicado, junto à Cia Hiato, ao Prêmio Shell Inovação por seus 10 anos de trajetória artística no Brasil e exterior. Além disso, é roteirista para cinema (De onde Eu Te Vejo, A Noite do Halley, 45 do Segundo Tempo) e televisão (Três Teresas, GNT; Vizinhos, GNT, Jogo da Memória, Globo). Seus espetáculos já foram apresentados nos Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Grécia, Polônia, Bélgica, Romênia, Chile, Colômbia, Argentina e Áustria.

FICHA TÉCNICA DA EXPOSIÇÃO

Artista: Laerte Késsimos
Produção: LUDMILLA PICOSQUE, YUMI OGINO e GUSTAVO SANNA
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

COMO SE DESENHA UM CORAÇÃO?
Galeria Zarvos – Avenida São Luiz, nº 258 – loja 14
10 de julho a 10 de agosto de 2019
Abertura dia 10/7 das 16h às 21h
Visitação de segunda a sexta, das 15h às 19h e sábado das 11h às 15h
Classificação: livre

FICHA TÉCNICA DO PROJETO SER JOSÉ LEONILSON
Criação: SOCIEDADE LÍQUIDA
Idealização: LAERTE KÉSSIMOS
Direção: AURA CUNHA
Dramaturgia e pesquisa: LEONARDO MOREIRA
Elenco, pesquisa, e direção audiovisual: LAERTE KÉSSIMOS
Trilha Sonora Original: JUAN PABLO ABALO (Chile)
Direção de Produção: RENATA BERTELLI e GUSTAVO SANNA
Produção Executiva: LUDMILLA PICOSQUE e YUMI OGINO
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio