TEM ALGUÉM QUE NOS ODEIA

Cia. Teatro Enlatado retorna em cartaz com thriller psicológico Tem Alguém Que Nos Odeia, de Michelle Ferreira, no Teatro Arthur Azevedo

 Suspense sobre ataques homofóbicos sofridos por casal de mulheres é protagonizado pelas atrizes Maíra De Grandi e Mariana Mantovani

 Fotos de Suellen Leal

A relação amorosa entre duas mulheres que sofrem ataques homofóbicos de um de seus vizinhos é o ponto de partida do suspense Tem Alguém Que Nos Odeia, com texto e direção de Michelle Ferreira, novo talento da dramaturgia brasileira. O espetáculo da Cia. Teatro Enlatado retorna em cartaz no Teatro Arthur Azevedo, no dia 10 de janeiro, e segue em cartaz até 2 de fevereiro.

Depois de uma temporada vivendo no exterior, a brasileira Maria e a estrangeira Cate, protagonizadas pelas atrizes Maíra De Grandi e Mariana Mantovani, mudam-se para um apartamento em São Paulo. Na nova cidade, as diferenças culturais geram uma crise na relação amorosa e elas passam a sofrer ataques de outro morador do prédio, que espalha mensagens de ódio e intolerância contra as duas, por meio de bilhetes, pichações e agressões. Sem poder contar com a síndica, nem com a polícia, Maria e Cate vivem o medo e uma permanente tensão.

Alguns questionamentos feitos pela encenação são: O que fazer diante de uma sociedade que quer vigiar os corpos? Como suportar um sistema heteronormativo que ignora direitos? Como apelar para o estado se este é falsamente laico, e, portanto, injusto? Como reagir a violência quando ela é permitida e banalizada?

Para criar o clima de terror e suspense psicológico, o grupo investigou o trabalho de Alfred Hitchcock, Michael Haneke e Bruno Dumont, que manipulam em suas obras o tempo por meio dos atores e o espaço por meio dos planos. “A encenação acontece toda a partir do corpo das atrizes e de um estado dilatado. É através dos corpos que geramos tensão e suspense, para que a peça aconteça para além dela mesma, para que ela se complete no público. Para isso, usamos todos os recursos da teatralidade para gerar eventos psíquicos nos espectadores”, conta a diretora e dramaturga Michelle Ferreira.

Outra referência é o trabalho do artista inglês Francis Bacon (1561-1626), que empresta para a montagem a cor e a temperatura dos ambientes retratados em suas pinturas, capazes de provocar pesadelos. Esses elementos ficam evidentes na iluminação intimista de Cláudia de Bem e na cenografia de Fernando Salles.

O texto de Ferreira foi finalista do Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia Antônio José da Silva (2011), organizado pelo Instituto Camões de Portugal. A peça ganhou montagens de José Roberto Jardim, em 2013, e do Teatro Nacional da Escócia, no projeto “A Play, a Pint and a Pie”, em 2016. Em 2019, Estrela Strauss produz e atua “Hay alguien que nos odeia” versão em espanhol da obra, que estreiou em Buenos Aires e teve uma temporada de sucesso no Teatro El Grito, com direção de Patto Wittis e Marina Artigas no elenco.

SOBRE MICHELLE FERREIRA

Atriz, dramaturga, roteirista e diretora, Michelle Ferreira é formada pela Escola de Arte Dramática e pela Faculdade de Ciências Sociais ambas na Universidade de São Paulo, e é pós-graduada em audiovisual. Foi integrante do Núcleo de Dramaturgia do CPT, com coordenação de Antunes Filho, por oito anos. Foi duas vezes finalista do Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia com “Reality Final” (2009) e “Tem alguém que nos odeia” (2011). Ganhou o segundo lugar do Prêmio Heleny Guariba de Dramaturgia Feminina e foi uma das classificadas para o concurso Nova Dramaturgia Brasileira realizado pelo CCBB (Reality Final). Foi indicada ao Prêmio Shell de melhor autora em 2016 por “Os adultos estão na sala” e em 2019 pelo Prêmio Bibi Ferreira por sua adaptação de “Uísque e Vergonha”

Já teve seus textos encenados por nomes como Cacá Carvalho (“EstudoHamlet.com”), Hugo Possolo (“Riso Nervoso”), Mario Bortolotto (“Como ser uma pessoa pior”), Eric Lenate (“Sit Down Drama”), José Roberto Jardim (“Tem Alguém Que Nos Odeia”), Isabel Teixeira (“Animais na Pista”), Nelson Baskerville ( “Uísque e Vergonha.”)

Seu trabalho foi apresentado na Escócia (“There is Someone Who Hates Us”), com a produção do Teatro Nacional da Escócia (NTS) e direção de Amanda Gaughan no projeto “A Play, a Pint and a Pie”. Em 2017, estreou com a sua companhia A Má Companhia Provoca, com a peça “Os Médios”, um relato de seres terrestres que pilotaram a nave, de sua autoria e direção. Se prepara para estrear mais duas peças esse ano “Eu não sou Harvey” com Ed Moraes, sobre o ativista Harvey Milk. e “4 da Espécie – a história do corpo coisa nenhuma”, peça contemplada pelo Proac Dramaturgia 2018.

SOBRE A CIA. TEATRO ENLATADO

A Cia Teatro Enlatado é formada pelas atrizes Fernanda Mandagará, Maíra De Grandi e Mariana Mantovani e foi fundada em 2006, com a estreia de “Margaridas Enlatadas”, adaptação de contos de Caio Fernando Abreu, em Porto Alegre. A pesquisa inicial da companhia explorava as fronteiras entre a dramaturgia e os textos literários. Esse espetáculo cumpriu diversas temporadas: Espaço Parlapatões e Festival de Sertãozinho em São Paulo no ano de 2010; participou do 15º Festival Internacional de Teatro Porto Alegre em Cena, como peça convidada em homenagem à Caio Fernando Abreu.

Em 2009, já na cidade de São Paulo, estreia “Drive-Thru”, intervenção teatral que consiste em uma cabine de teatro fast-food, na qual monólogos são apresentados a espectadores individuais, com textos e direção do grupo. Depois de uma aclamada temporada de quatro meses na Praça Roosevelt, o espetáculo percorreu várias localidades ao longo dos últimos anos: Sescs Avenida Paulista, Bom Retiro, Ipiranga e Vila Mariana na cidade de São Paulo; circulou no interior do estado de São Paulo através do Circuito Cultural Paulista no ano de 2010 e participou dos festivais de Presidente Prudente (SP) e de Três Rios (RJ). De 2010 a 2013, “Drive-Thru” ganhou diversas versões, sendo uma delas com textos de Nelson Rodrigues e outra somente com textos inéditos, escritos especialmente para projeto por autores contemporâneos.

Em 2012, a companhia continuou sua pesquisa a partir de textos dramáticos e não dramáticos e encontrou, no premiado autor alemão Peter Bichsel, material para desenvolver seu espetáculo voltado ao público jovem: “O Rinoceronte, a Lua e o Tonel”, com direção de Ramiro Silveira, que estreou no Teatro do Mube, e fez temporadas nos Teatros Viradalata e Zanoni Ferrite, em 2014. Em 2015, o espetáculo fez turnê no interior do estado de São Paulo pelo Circuito Cultural Paulista, e, em 2017 apresentou-se no Sesc Sorocaba.

Em 2016, as integrantes Maíra De Grandi e Mariana Mantovani atuam no espetáculo de teatro-dança “me voy a saltar sobre su cuerpo”, com direção e dramaturgia de Carolina Bianchi, com temporada de estreia no Sesc Belenzinho em São Paulo. Na sequência, ambas aprofundam a pesquisa de dramaturgia textual e física da Cia, resultando na estreia do espetáculo “2[duas]”, com texto de Maíra De Grandi e direção de Adriana Ospina. na Funarte. Em 2018 a companhia convida o diretor Nelson Baskerville para dirigir Maíra De Grandi no monólogo “Deus deve Estar Distraído”, a partir de textos de Caio Fernando Abreu, que estreou na Virada Cultural na Biblioteca Mário de Andrade e atualmente integra a programação do Circuito Municipal de Cultura em São Paulo.

SINOPSE

O thriller aborda a relação privada e amorosa entre duas mulheres, a brasileira Maria e a estrangeira Cate, que decidem morar juntas em São Paulo. Dentro do antigo e decadente apartamento herdado por Maria, elas vivem em conflito. Em meio a esse ambiente turbulento, a violência e o horror batem à porta e invadem o lar. Elas são obrigadas a enfrentar agressões físicas e psicológicas de algum homofóbico do prédio, que se torna um inimigo invisível e constantemente presente.

Em clima de suspense e desconfiança, elas lidam com a impunidade da justiça brasileira, uma moradora que as considera um mau exemplo, um padre que as tenta convencer de que são grandes pecadoras, uma síndica que nada pode fazer e suas angústias pessoais. A peça coloca em xeque a temática da tolerância, da coexistência entre diferentes grupos, os protocolos sociais, a justiça, religião e o papel de cada indivíduo diante das questões públicas.

FICHA TÉCNICA
Texto e direção: Michelle Ferreira
Elenco: Maíra De Grandi e Mariana Mantovani
Assistência de Direção e elenco de apoio: Julia Ribeiro
Produção: Cia. Teatro Enlatado
Iluminação: Cláudia De Bem
Cenografia: Fernando Salles
Figurinos: Antônio Vanfil
Desenho sonoro: Ricardo Bertran
Sonoplastia: Michelle Ferreira e Ricardo Bertran
Programação Visual: Maura Hayas
Fotos: Suellen Leal
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Realização: Cia. Teatro Enlatado

SERVIÇO
Tem Alguém Que Nos Odeia, de Michelle Ferreira
Teatro Arthur Azevedo – Teatro – Av. Paes de Barros, 955 – Mooca
Temporada: de 10 de janeiro a 2 de fevereiro de 2020
Às sextas-feiras e aos sábados, às 21h; aos domingos, às 19h
Ingressos: R$30 (inteira), R$15 (meia-entrada)
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 60 lugares