NINA

Com direção de Denise Weinberg, NINA ou da Fragilidade das Gaivotas Empalhadas, do romeno Matéi Visniec, estreia no porão do Centro Cultural São Paulo

 

Espetáculo mostra encontro entre os amantes Nina, Trigonin e Treplev, personagens de Anton Tchékhov, quinze anos depois da peça ‘A Gaivota’. Elenco traz Dinah Feldman, Edu Guimarães, Francisco Brêtas e Gregory Slivar. Alexandre Tenório é codiretor da peça

Fotos de Leekyung Kim

Teaser do espetáculo

O Coletivo Culturas em Movimento, em parceria com a Srta.Lô Produções, convida a premiada atriz Denise Weinberg para dirigir NINA ou a Fragilidade das Gaivotas Empalhadas, do dramaturgo romeno Matéi Visniec, que transporta os personagens Trigonin, Treplev e Nina, da celebrada “A Gaivota”, do russo Anton Tchékhov, para o contexto da Revolução Russa. O espetáculo estreia no dia 21 de agosto no Espaço Cênico Ademar Guerra, o porão do Centro Cultural São Paulo, onde fica em cartaz até 27 de setembro. O projeto foi contemplado pela 6ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo.

NINA por Denise Weinberg

Depois de ter dirigido “A Máquina Tchékov”, agora “Nina ou Da Fragilidade das Gaivotas Empalhadas”, outro texto maravilhoso de Matéi Visniec, focando novamente as sensíveis personagens tchekovianas: Nina, Treplev e Trigorin, o famoso trio apaixonado do clássico “A Gaivota”, agora perplexos diante da história, do tempo, do envelhecimento e da desilusão.

Desta vez, Visniec prolonga a vida desses três personagens, e os coloca em plena Revolução Russa, outubro de 1917, época de grande tumulto, que Tchékov não conheceu, nem viveu a angustia de todos os escritores da época, diante do grande terremoto humano e social e a decepção com a mostruosa utopia comunista que causou a morte de milhões de pessoas. Um período de conturbação semelhante ao que estamos passando agora.

Uma Rússia, ou qualquer outro país, devastado pela guerra civil. Uma casa no meio do nada com Treplev, Nina e Trigorin perplexos e impotentes diante de suas desilusões pessoais e sociais, numa tentativa esperançosa de achar que a revolução vai modificar tudo, mas que o próprio Visniec coloca na boca de Trigorin as amargas constatações:

“As revoluções não levam a lugar nenhum. A única revolução que a humanidade poderia fazer era consegir que as pessoas se tornassem mais humanas. Não se pode construir o bem com o mal. Todo discurso revolucionário tem algo de precipitado. Uma sociedade nova se constrói com paciência, por etapas, da mesma forma como um ser humano cresce.”

Este cruzamento de Tchékov com Visniec, resultou num olhar contemporâneo sobre o mundo tchekoviano, com suas sensibilidades, esperanças e fé, elementos bastante afetados e reduzidos nos tempos em que vivemos. E isso tudo ainda vem com uma pitada saborosa de humor romeno, característico na obra de Visniec.

 

UM ENCONTRO UTÓPICO

Treplev (que se matou no texto original “A Gaivota“), Nina e Trigorin, quinze anos depois, em plena revolução bolchevique, se reencontram num lugar longe de tudo e de todos. Tudo é ficção.

Nosso primeiros passos no trabalho foi mergulhar no universo destes três personagens, no habitat em que eles foram criados, ou seja, na peça original “A Gaivota” de Anton Tchékov. Quem eram essas pessoas naquela época, o que viriam a ser quinze anos depois?

Passeamos pela Revolução Russa, ao mesmo tempo em que tentávamos reconstruir esses personagens, esses sobreviventes, através de suas falas, que eram nossos únicas pistas; como eles estariam em meio à uma revolução? Que questionamentos fariam? Como se sentiriam? E aí, nos demos conta que somos um pouco esses Treplevs suicidas, esses Trigorines perplexos, e estas Ninas machucadas, todos atônitos diante de um mundo cruel, devastador e predador.

Nesta obra, Matéi Visniec sai de um realismo presente na sua peça “A Máquina Tchékov“, com suas engrenagens bem aparentes, para um ambiente mais surreal, mais fantasmagórico, mais sensitivo, mais etéreo, com algumas pinceladas das forças da natureza (neve, vento, frio, gelo), fenômenos que colocam o ser humano no seu devido lugar, convivendo com esta impotência que sente diante do universo. E é sobre este estado de alma, tão angustiado, tão contemporâneo, que Visniec se debruça, com a ajuda do Mestre Tchékov, o “médico das almas”.

E foi com este olhar, que escolhemos o Porão do Centro Cultural SP, onde podemos usar um espaço qualquer e não um espaço convencional de teatro, com palco italiano.  Esse espaço pode ser qualquer lugar do mundo abandonado pela civilização…

A obra de Visniec tem essa bela qualidade: ele deixa a encenação bem solta para o diretor e os atores se divertirem e criarem juntos com aquele roteiro. Isso é muito interessante e muito dinâmico para o jogo teatral. Levantamos as cenas nos divertindo, propondo coisas, mudando sempre, sem se fixar muito em lugar nenhum, mas ao mesmo tempo, guardando certas sensações e momentos, para termos uma partitura rica e com várias possibilidades.

E para isto, convidei a minha equipe fiel de sempre, para a criação artística do espetáculo:

Alexandre Tenório divide comigo a direção, Chris Aizner cuida dos cenários e figurinos, e me estimula com suas idéias geniais, Wagner Pinto é fundamental com seu desenho de luz sempre impecável, me ajudando sempre a empurrar a história pra diante, Fabricio Licursi explorando e esculpindo os corpos para juntos conduzirmos delicadamente o olhar do espectador para este mundo fantástico e fantasmagórico de Matéi Visniec.

Denise Weinberg

 

Tchékhov e o Coletivo Culturas em Movimento

Anton Tchékhov sempre foi uma referência importante para o Coletivo Culturas em Movimento. A fundadora do grupo, Dinah Feldman, idealizou e realizou a montagem de “Réquiem”, do autor israelense Hanoch Levin, baseado em três contos do autor russo: “O Violino de Rotschild”, “No Fundo do Barranco” e “Angústia”. A montagem dirigida por Francisco Medeiros, em 2009, permitiu ao grupo um mergulho na obra de Tchékhov sob um prisma diferente, sob as lentes aguçadas de outro grande escritor, distante geográfica e temporalmente do primeiro, mas muito próximo na percepção da alma humana.

Já a diretora convidada Denise Weinberg teve o primeiro contato com Matéi Visniec, um expoente da dramaturgia moderna, na montagem de “A Máquina Tchékhov”, montagem na qual Dinah Feldman foi atriz convidada.

Médico, contista e dramaturgo, Tchékhov (1860 – 1904) foi um dois maiores escritores russos detodos os tempos e, na esfera teatral, contribuiu imensa e revolucionariamente. Escreveu peças em um ato em forma de vaudevilles e farsas, e apenas cinco peças longas. Estas são consideradas obras-primas devido à escrita precisa e econômica de Tchékhov, à profundeza e riqueza psicológica das personagens e as relações estabelecidas entre elas.

Livre de sentimentalismos e possuidor de um humor extremamente particular, Tchékhov, observador, nos fornece em sua obra pequenos pedaços de vida, que tocam os leitores até os dias de hoje.

 

Sobre Matéi Visniec – dramaturgia

O dramaturgo Matéi Visniec nasceu em 29 de janeiro de 1956, em Radauti, na Romênia, sob a ditadura de Ceausescu. Saiu de sua cidade Radauti e foi para Bucareste estudar filosofia.

Acreditava que o teatro e a poesia podiam denunciar a manipulação do povo através das grandes ideologias. Em 1987, afirma-se na Romênia com sua poesia depurada, lúcida, ácida, mas ainda proibida para o palco. Aos 31 anos, chega na França e em três anos, começa a escrever em francês e converte a sua limitação na língua em elemento criativo. Paris passa ser a suapátria mental. É um escritor da resistência, nunca escreveu peças comerciais.

Escreve poesia e romance em romeno, mas teatro, sempre em francês. Tem parentesco com o surrealismo e às vezes com o teatro do absurdo. Suas peças têm sempre humor (muitas vezes um humor negro) e silêncios.

Algumas de suas obras são “A História do Comunismo Contada aos Doentes Mentais” (1998), “A Palavra Progresso na Boca de Minha Mãe Soava Terrivelmente Falsa”(2005), “Um Trabalhinho para Velhos Palhaços” (1986),“Teatro Decomposto ou O Homem-Lixo” (1992), “A História dos Ursos Pandas Contada por Um Saxofonista Que Tem Uma Namorada em Frankfurt (1993)” e “O Último Godot” (1987).

 

Sobre Denise Weinberg – direção

Diretora, atriz e professora, Denise Weinberg fundou o Grupo TAPA, com o qual trabalhou por 21 anos. Ao longo de sua carreira no teatro, acumula dois Prêmios Molière, três Prêmios Mambembes, dois APCA e um Prêmio Shell; no cinema, tem sete prêmios.

Sob sua direção, estão os espetáculos “A Máquina Tchékhov”, de Matéi Visniéc; “Salamaleque”, de Valeria Arbex; “O Pelicano”, de August Strindberg; “Paulo Francis Está Morto”, de Paulo Coronato; “A Refeição”, de Newton Moreno; “Silêncio e Paisagem”, de Harold Pinter; “O Nome”, de Jon Fosse e “Malkhut”.

Seus últimos trabalhos como atriz foram “O Testamento de Maria”, de Colm Tóibín, com direção de Ron Daniels; “Imortais”, de Newton Moreno, com direção de Inez Viana; “As Criadas”, de Jean Genet, com direção de Eduardo Tolentino de Araújo; “Depois do Ensaio”, de Ingmar Bergman, com direção Monica Rodrigues; “Dançando em Lúnassa”, de Brian Friel, com direção Domingos Nunez; e “Isso o Que Ela Pensa”, de Alan Ayckbourn, direção com Alexandre Tenório no CCBB.

No cinema, recebeu prêmio de melhor atriz coadjuvante com o papel de Ruiva em “Salve Geral”, de Sergio Rezende, e atuou também em “O Caseiro” e “O Circo da Noite”, de Julio Santi; “Meu Amigo Hindu”, de Hector Babenco; “Cartografia do Prazer”, de Eduardo Hishimoto; “Super Nada”, de Rubens Rewald; “Linha de Passe”, de Walter Salles; “De Pernas pro Ar 1 e 2”, de Roberto Santucci, entre outros.

Na televisão, fez as minisséries “A Teia”, “Dalva e Herivelto” e “Maysa”, na TV Globo, e a série “Alice”, na HBO. Foi professora durante três anos na ELT (Escola Livre de Teatro) e atualmente ministra cursos e workshops independentes para grupos fechados.

 

Sobre Culturas Em Movimento – Núcleo Artístico

Iniciando sua trajetória com o nome de Cia Lazzo, Culturas em Movimento formou-se em 2005 com a proposta de trabalhar textos contemporâneos, pesquisar o universo feminino e investigar a intersecção cênica dos planos narrativos e dramático.O Coletivo desenvolve projetos na área de criação, produção, pesquisa e circulação em teatro e arte narrativa.

Alguns dos espetáculos produzidos pelo grupo foram “Papisa Joana: Um Estudo” (2017), “Sarau Três Vozes: O Destino” (2016), “As Três Mulheres Sabidas” (2011 a 2017), “África: Um Continente de Histórias” (2012-2016),“Histórias de Por Quês” (2014-2016), “Africanidades Femininas” (2014-2015), “Amor dos Bobos” (2014-2015) e “Réquiem” (2009 a 2011).

 

Sobre Srta.Lô Produções – Produtora Associada

Com experiência em produções internacionais, a Srta.Lô é produtora na América do Sul do espetáculo americano Storms of Silence, que circulará em 2019 por 30 países. Entre os principais projetos, destaque para a produção no Brasil dos espetáculos portugueses Sangue na Guelra, do grupo Amarelo Silvestre, e Este País é o que o Mar não Quer, do grupo Casa da Esquina, com participação no FIT-BH; e a turnê em Portugal do espetáculo infantil Patativa do Assaré, do Núcleo Caboclinhas. Idealizou e produziu o monólogo Florbela Espanca – A Hora que Passa, apresentado em 20 cidades portuguesas, em Cabo Verde e nos Estados Unidos.

 

 

SINOPSE

Os amantes Trigorin, Treplev e Nina, personagens de “A Gaivota”, de Anton Tchekhov, encontram-se em uma casa isolada pela neve em plena Revolução Russa, em fevereiro de 1917. Depois de ter deixado Treplev, que se suicidou na obra tchekohviana, Nina foi morar com o escritor e diretor Trigorin. Quinze anos depois, Treplev reaparece na vida da atriz. Agora, os três estão perplexos diante da história, do tempo, do envelhecimento e da desilusão. NINA não é uma continuação da obra de Tchekhov, mas uma variação, no sentido musical. É antes de tudo um exercício de admiração.

 

 

FICHA TÉCNICA

Texto: Matéi Visniec

Tradução: Clara Carvalho

Direção: Denise Weinberg

Co-direção: Alexandre Tenório

Elenco: Edu Guimarães, Dinah Feldman, Francisco Brêtas e Gregory Slivar

Preparação corporal: Fabricio Licursi

Iluminação: Gabriel Greghi e Wagner Pinto

Concepção Musical: Gregory Slivar

Cenário e figurinos: Chris Aizner

Cenotécnico: Cesar Rezende (Basquiat), Gilson Peres e Zito Lemos

Estudos teóricos: Maria Thais

Direção de Produção e Idealização: Dinah Feldman

Produtora Associada: Lorenna Mesquita

Assistente de Produção: Tuane Vieira

Realização: Culturas em Movimento, Srta.Lô Produções, CCSP, Prêmio Zé Renato, Prefeitura de São Paulo

Apoio: Prema Yoga, Quero Quilo Restaurante, Apfel Restaurante, Cantina Piolin, Planeta’s Restaurante, Cantina Luna Di Capri, Oficina de Atores Nilton Travesso, Lilia Siqueira Depil, Cabelaria, Paris 6.

 

SERVIÇO

“NINA, Ou da Fragilidade das Gaivotas Empalhadas”, de Matéi Visniec

Centro Cultural São Paulo – Espaço Ademar Guerra – Porão – Rua Vergueiro, 1000, Liberdade

Estreia: 21 de agosto, excepcionalmente às 19h30.

Temporada: 21 de agosto a 27 de setembro

Sessões: terças, quartas e quintas, às 21h, com ingressos a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada).

Sessões extras: quartas, às 17h, com ingressos a R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada) e no dia 5 de setembro a R$ 3,00, neste horário.

Gênero: Drama

Classificação: 14 anos

Duração: 90 minutos

Capacidade: 60 lugares

 

Programação Paralela

21, 22 e 23/8 – Lançamento e venda da tradução da peça, editada pela É Realizações.

30/8, às 17h – Encontro Abertura de Processo: Bate-papo sobre o processo de montagem da peça com a equipe do projeto, para artistas e interessados em geral. Entrada franca.