A VOZ QUE RESTA

A VOZ QUE RESTA, SOLO DE GUSTAVO MACHADO, ESCRITO E DIRIGIDO POR VADIM NIKITIN, FAZ TEMPORADA NO SESC IPIRANGA

A peça integra a programação da série de montagens em formato intimista “Teatro Mínimo”

Fotos de Phillipe Machado

 

Quarenta minutos antes de abandonar para sempre o apartamento que lhe serviu de garçonnière durante anos na boca-do‐lixo de São Paulo, Paulo (personagem de Gustavo Machado), copidesque e escritor frustrado, decide deixar uma última e trágica mensagem ao grande amor da sua vida, Marina, sua vizinha, que mora alguns andares abaixo. Escrito e dirigido pelo russo Vadim Nikitin, o espetáculo faz temporada no Sesc Ipiranga, entre 30 de junho e 23 de julho.

Uma das inspirações de Vadim foram os monólogos “A voz humana” (La Voixhumaine, 1930), do francês Jean Cocteau, e “A última gravação de Krapp” (Krapp’slast tape, 1958), do irlandês Samuel Beckett. Desses textos vieram provocações sobre a dor causada pelo término de um caso amoroso (Cocteau) e ‘o fim de uma vida que podia ter sido e que não foi’, verso bem beckettiano, que na verdade é um clássico de Manuel Bandeira.

“Além dessas duas inspirações, também A Mulher do Lado, filme de François Truffaut, protagonizado por Fanny Ardant e Gérard Depardieu, que muito emocionou o cantor e compositor Moreno Veloso. O depoimento dele sobre o filme me tocou muito mais do que o filme, o que me serviu também de inspiração. E, jogando os dados na mesa: Fred Astaire, Marcello Mastroianni, Andrei Tarkóvski, Jean-Luc Godard. Tudo batido no liquidificador. São suaves referências, sem pretensão, é claro. Com a voz que me resta, digo, como diretor e dramaturgo: o meu leme, o meu remo e o meu farol são o ator Gustavo Machado, por mais bolero de esquina que isso soe.”

Esta é a quarta parceria de Gustavo Machado e Vadim Nikitin, foram três espetáculos e uma performance e em todos estes projetos anteriores, os artistas de dividiam da mesma forma, Vadim escrevendo e dirigindo e Gustavo atuando. “A dramaturgia, para mim, é a solidão do último homem da face da Terra. O mundo acabou, e lá estou eu cercado de pedras e dicionários. Ridículo assim, o pateta que sobrou na festa, em cima do poste, beijando a própria sombra. Mas ao mesmo tempo há o anseio e o ensaio e o escuro do encontro com o ator, sem o qual o trabalho do dramaturgo vira papo furado. A página real do dramaturgo é o ator, ou seja, o demiurgo” completa o dramaturgo e diretor.

A trama é costurada pela solidão do personagem Paulo, protagonizado por Gustavo Machado, que depois de esvaziar a sangue-frio o apartamento, agora, com o dia raiando, uma garrafa de conhaque na mão e em petição de miséria, Paulo volta ao apartamento pela última vez para registrar sua partida. Em cena, Paulo tenta tecer apaixonadamente seu luto amoroso.

A vizinha de cima, uma senhora professora de piano, compõe uma trilha incidental feita de acordes soltos e exercícios melódicos.

Eis, portanto, A voz que resta , uma obsoleta fita cassete em que Paulo, escrivão-escravo, cansado de escrever, faz questão de declarar com a voz à Marina o indeclarável, misto de paixão impossível, insuportável e ainda assim incondicional.

Misturando poesia e erotismo, o texto revela nua e cruamente as intimidades de um casal de amantes cuja paixão os levou à beira de um abismo ao mesmo tempo ridículo e sublime.

“Paulo é um homem exaurido por uma paixão, por ser usado e descartado pela vizinha casada que o trata (assim ele se sente) como um brinquedo, um fantoche.  A consciência de que a mulher da sua vida mora (e é feliz) com outro homem no mesmo prédio que ele o está matando. Desesperado para se libertar dessa mulher, ele não pensa no futuro, apenas deseja sumir dali e voltar a respirar em paz.  Sua vida profissional reflete sua situação amorosa. É um homem com sensibilidade pra escritor ou poeta, mas não exercita seu talento, trabalhando apenas como copidesque, revisor de textos alheios, o que gera enorme frustração, que só faz aumentar (e muito) sua tristeza.  Paulo confirma o que alguns filósofos afirmam, que ‘a tristeza é a potência não realizada” Comenta Gustavo Machado.

FICHA TÉCNICA

Idealização e Atuação – Gustavo Machado
Texto e Direção: Vadim Nikitin
Direção de Produção: Carla Estefan
Trilha Sonora :Alessa Camarinha
Desenho de Luz: Aline Santini
Assistente de Produção: Paula Micchi
Fotos: Philippe Machado
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

SERVIÇO

“A VOZ QUE RESTA”
Quando: 30/6 a 23/7 (sexta, às 21h30; sábado, às 19h30 e domingo, às 18h30)
Onde: Auditório do Sesc Ipiranga
Ingresso: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (aposentado, pessoa com 60 anos ou mais, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante), R$ 6,00 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc  e dependentes).
Venda limitada a 4 ingressos por pessoa ou CPF.
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
Sesc Ipiranga: Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga
Telefone – (11) 3340-2000 – www.sescsp.org.br/ipiranga
Acesso para deficientes físicos. Não dispõe de estacionamento
Ingressos à venda pelo portal www.sescsp.org.br ou nas bilheterias das unidades
Bilheteria Sesc Ipiranga – Terça a sexta das 12h às 21h; sábados, das 10h às 21h30; domingos e feriados, das 10h às 18h