ALICE
Monólogo com Nicole Cordery, Alice, Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo faz temporada gratuita na Oficina Cultural Oswald de Andrade
12 de janeiro a 28 de fevereiro
O monólogo “Alice, retrato de mulher que cozinha ao fundo” põe em cena a companheira de Gertrude Stein, Alice B. Toklas. Autora de um famoso livro de receitas, Alice foi também personagem de uma Autobiografia escrita por outra pessoa: Gertrude Stein. Os múltiplos fragmentos que compõem a vida dessa mulher singular são vividos em presente contínuo pela atriz Nicole Cordery.
Com direção de Malú Bazán, o solo fala sobre a figura de Alice B. Toklas. Com uma dramaturgia fragmentada e dissonante, tal qual a literatura de Gertrude Stein, a peça lança um olhar em perspectiva para a relação entre as duas mulheres na Paris dos anos 20.
A dramaturgia de Alice, retrato de mulher que cozinha ao fundo assinada por Marina Corazza partiu de duas importantes referências: The Alice B. Toklas Cookbook, escrito por Alice e A autobiografia de Alice B. Toklas, escrita por Gertrude Stein.
No primeiro, Alice, companheira de Gertrude Stein, já doente, descreve as receitas servidas em um dos endereços mais badalados da Paris dos anos 20 onde viveu com Stein, o 27 Rue de Fleurus. Em meio às receitas, de forma absolutamente prosaica e autêntica, Alice revela fatos e anedotas de sua vida ao lado de Stein e sobre a efervescência cultural da qual faziam parte.
Já o segundo, se tornou o livro mais conhecido de Gertrude no qual escreve a “autobiografia” de sua companheira. Ao assumir a voz de Alice, Gertrude conquista a popularidade literária que tanto almejava de forma a ampliar o alcance de suas pesquisas literárias na direção de uma estética cubista na literatura. Mas e a própria Alice: quem era? O que vivia? O que dizia e como dizia?
Depois da morte de sua companheira, Alice viveu ainda mais 20 anos nos quais se ocupou em preservar e divulgar a obra de Stein.
A peça discute as fronteiras entre realidade e ficção, entre as histórias e suas dissonantes interpretações. Nela, Alice passeia por diferentes tempos e espaços, numa espécie de mosaico. Escolher a personagem real, ao mesmo tempo fictícia, de Alice B. Toklas potencializa múltiplas miradas sobre a relação de amor entre essas duas mulheres e sobre como influenciaram e foram influenciadas pela efervescente Paris dos anos 20 e 30.
Desde o início do trabalho, criar um jogo de espelhos, que embaralha a noção do eu e do outro, que confunde as fronteiras entre a ficção e o real foi um dos objetivos do projeto. A perseguição foi por uma dramaturgia que ousasse friccionar as pesquisas estéticas de Stein, as memórias de Alice, e também a posição de quem olha com certo distanciamento histórico, se reconhecendo e se estranhando com essas duas mulheres.
Para compor esse caleidoscópio Nicole Cordery, Malú Bazán e Marina Corazza contaram com o grande apoio do dramaturgo, professor e pesquisador americano Leon Katz. Em 1952, Katz foi premiado com uma bolsa da Fundação Ford que lhe possibilitou passar um ano com Alice, entrevistando-a a partir de anotações nunca publicadas de Stein que na eminência da II Guerra foram enviadas às pressas para a Yale Library nos Estados Unidos. “Estimulado com o fato de procurarmos por materiais sobre Alice Toklas, Katz nos enviou não só seu relato sobre o ano que passou como Alice, como uma primeira versão de seu monólogo “Nurturing Alice”, nos autorizando a fazer uso desses materiais para a composição da peça”, conta a atriz Nicole Cordery.
Além das obras já citadas e do material cedido por Leon Katz, foram consultados também trechos dos livros: Paris, França, Lifting Belly, Q.E.D., Melanctha, Ada, entre outras obras de Gertrude Stein, e Staying on Alone (lettresof Alice B. Toklas) e What is Remembered, ambos de Alice B. Toklas.
Assim, a dramaturgia de Alice, retrato de mulher que cozinha ao fundo é composta pelo choque desses inúmeros materiais que se tencionam, ora simétrica, ora assimetricamente e criam novas materialidades que se revelam a partir de seus interstícios.
Um pouco sobre a época
Paris, 1907. Gertrude Stein cuidava da impressão de Três Vidas, do qual fez uma edição particular, e estava mergulhada em The Making of Americans, seu livro de mil páginas. Picasso tinha acabado o retrato dela de que ninguém gostava, a não ser o retratista e a retratada, e começara um estranho quadro complicado de três mulheres.
É nesse período conhecido como “idade heroica” do cubismo que a casa da escritora norte-americana, 27 Rue de Fleurus, florescia como endereço de encontro e de debate entre pintores, escritores e críticos. A cada sábado, ela os recebia com a mesa posta em uma época em que a comida era escassa. Bastava ao recém-chegado responder uma espécie de pergunta ritual: “quem te enviou”? para ter acesso à casa, suas conversas e as longas tardes que se desenrolavam no ateliê anexo.
Gertrude Stein era a figura de visibilidade do casal: sua casa era uma exposição constante dos pintores nos quais apostava. Sua literatura trazia padrões estéticos completamente novos e, ainda hoje, provocadores.
Enquanto isso, Alice Toklas era uma anfitriã impecável. Além de amante e companheira, era a grande cozinheira da casa, primeira leitora, secretária atenta, revisora, editora, crítica e organizadora geral da obra de Stein.
Nas paredes, quadros de Gauguin, Braque, Matisse, Greco, Valloton, Cézanne. Como na época a maior parte deles não valia grande coisa, a porta do ateliê se abria com uma grande chave única. Alice fazia peixes, ovos e jardins.
Ficha Técnica:
Dramaturgia: Marina Corazza
Direção: Malú Bazán
Atriz: Nicole Cordery
Cenários e figurinos: Anne Cerutti
Iluminação: Nelson Ferreira
Trilha sonora: Rui Barossi e Pedro Canales
Apoio vocal: Lucia Gayotto
Serviço
Oficina Cultural Oswald de Andrade
de 12/01 a 28/01
quinta a sábado
quintas e sextas 20h
sábados 18h
Dias 14, 21 e 28/01
Aos sábados, após o espetáculo, haverá bate-papo com atriz, diretora e dramaturga da peça, Nicole Cordery, Malú Bazán e Marina Corazza, respectivamente, e a jornalista convidada Gabriela Longman – Mestre em Arte e Linguagem pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS-Paris) e doutoranda em teoria literária pela USP.
Lotação 40 pessoas
Indicação 14 anos
Duração: 60 minutos
Grátis